Crônicas de um literário - Parte IV
- There's a heaven above you baby and don't you cry tonight.
“Existe um paraíso sobre você querida e não chore esta noite”
Fabrício Só conseguia escutar esse som ao fundo. Estava deitado, parecia estar cansado, seus olhos estavam pesados, a música ele conhecia, pois costumava cantá-la para Gabriela, ele por um instante não conseguiu abrir seus olhos, estava consciente, mas não conseguia falar, ate que notou que tinha um tipo de bandagem no seu rosto, ele o retira e consegue enfim enxergar. Estava numa sala branca, ficou certo tempo hipnotizado pelo giro do ventilador de teto, estava tentando lembrar-se de algo. Notou que Carlos estava debruçado na janela, parecia ser ele quem estava escutando a musica, Carlos nota que Fabrício se acordou e vai ate a cama ver como ele está. Fabrício parece meio atordoado, fica olhando ao redor, parece estar procurando algo, Carlos parece evitar o olhar de Fabrício a todo o custo, ele se senta ao lado da cama e finge olhar o celular, os dois ficam em silêncio e uma aura pesada se instala no quarto, ate que Fabrício toca no braço dele e finalmente Carlos olha para ele, mas seus olhos demonstravam aflição e medo, pareciam querer contar algo.
– onde eu estou? – pergunta Fabrício
Carlos fica em silêncio por um tempo, mas acaba falando.
– você esta em um hospital... – responde Carlos
Fabrício abre os olhos em demonstração de surpresa, mas logo se contem.
– como eu vim parar aqui? O que aconteceu? Cadê a Gabi? – pergunta Fabrício confuso
Carlos ficou com o mesmo olhar de uns minutos atrás, sabia que seria difícil para Fabrício aceitar tudo o que ele iria contar, Carlos olhava para Fabrício, ele já começava a ter uma expressão de pavor em seus olhos, mas ele resolveu contar, não poderia adiar isso, era melhor ele contar do que outra pessoa.
– bom, houve um acidente, você não lembra? – diz Carlos
– não, não me lembro de nada, faz tempo que eu estou aqui? – responde Fabrício um pouco confuso
– Uma semana atrás quando vocês voltavam daquela festa... E um ônibus acabou batendo em vocês... O motorista dormiu ao volante e... – Carlos faz uma pausa
– entendo, mas onde esta a Gabi? Em que quarto ela esta? Ela ta muito machucada? Ela já acordou? Já posso falar com ela? – pergunta Fabrício começando a ficar preocupado
Carlos não fala nada, apenas volta para a janela e se debruça de novo, nesse instante pode-se notar que ele olha em volta e respira fundo, então ele volta e se senta. Tudo isso tendo Fabrício a acompanhá-lo com o olhar, então Carlos começa falar.
– bem, naquela noite vocês foram encontrados na beira da estrada. - diz Carlos explicando o que houve
– sim, eu lembro de que estava levando a Gabi pra casa, depois eu não me lembro de mais nada, falando nisso cadê o metaleiiro? – diz Fabrício
– entendo. Ele já esta chegando deve ter ido pra casa tomar banho, ele ficou aqui com você também. Mas naquela noite... Bem... (suspiro). – Carlos faz uma pausa e respira fundo
– espero que não tenha recebido reclamação, ele adora ouvir som bem alto, falando nisso cadê a Gabi? – pergunta Fabrício ficando mais preocupado
– um ônibus bateu em vocês, o motorista dormiu ao volante. – diz Carlos continuando
Fabrício fica inerte, ele olha para Carlos sem saber o que dizer, só conseguiu pensar em ver como Gabriela estava.
– e a Gabi, quero vê-la. – pergunta outra vez Fabrício
Carlos fecha os olhos e suspira de novo então ele abre a boca e diz.
– ela... Não resistiu... – diz finalmente Carlos
Fabrício ficou atônico ao ouvir isso, como assim ela não resistiu? A via era única e era mais provável ele ter lhe acertado primeiro, já que era Fabrício que estava dirigindo, agora ele fica se perguntando como isso aconteceu? E por que aconteceu com ele? Agora que pensou nisso, seus machucados pareciam um pouco leve demais para um acidente envolvendo um ônibus.
– como isso aconteceu? Se eu estava dirigindo era mais fácil ele ter me atingido primeiro e eu ter morrido, mas meus ferimentos não parecem ser graves. – questiona Fabrício
Carlos ouve tudo isso calado, ele só consegue ficar quieto e olhar um Fabrício confuso e com medo, Fabrício agora não quer aceitar como isso aconteceu, ele quer a sua Gabi, ele quer vê-la, para ele tudo isso não passa de um sonho ruim e já era hora de acordar.
– Quando o ônibus bateu no seu carro, ele acertou de leve o seu lado, na verdade o ônibus não foi à causa da morte dela, ele só foi o causador do acidente, pois se ele tivesse acertado o lado do motorista como você mesmo diz você não teria sobrevivido. Quando ele bateu no seu lado, o impacto fez você bater à cabeça e desmaiar, como ele acertou de leve a traseira também fez com que o carro rodasse um pouco e descer uma ribanceira, só que o carro desceu de lado, o lado do passageiro, ou seja, o lado da Gabi, onde o carro parou somente quando bateu numa árvore. Quando o resgate chegou, já a achamos sem vida, você estava bem machucado também, eu sinto muito, mas foi isso que aconteceu. – diz Carlos tentando explicar o fato ocorrido
Enquanto Carlos falava, Fabrício olhava para o lado de fora da janela, não se mexeu ao escutar nada, estava atônico, parecia ainda estar assimilando tudo, Carlos nem notou que algumas lágrimas haviam escorrido do seu rosto, Carlos ate o fez notar que sua perna estava quebrada, coisa que ele não havia reparado ainda, daí por diante Fabrício se calou pelo resto do dia, Carlos notando isso entendeu que ele queria ficar um pouco sozinho, quando ele saiu ainda olhou pela janela e viu Fabrício chorando copiosamente. Fabrício passou boa parte da noite chorando, não comeu nada, depois de algumas horas de choro ele simplesmente dormiu, estava exausto.