Cheia de charme
O irmão da Lene, rapaz badalado na cidade. Era famoso por gostar das noites Amapaense. Sempre se via ele no altar da beira rio tocando em frente o seu violão. Assim as noites, cada uma em sua ordem pareciam mais belas.
O Riso causticante das ondas do rio Amazonas versavam nos arrimos o adorno necessário aquela constante alegria. Era tudo um pouco. Mas a vida sempre reserva um aprendizado, que nem sempre, no momento, somos capazes de identificar. Por isso, muitas das vezes só vivemos. Embarcamos na paixão sem nos perguntarmos, onde isso vai dar.
Dessa forma, numa das noites quentes do Amapá, Paulinho conheceu Lígia e logo de cara se apaixonou. A lua com inveja da afetividade que os envolvia, naquele dia, nem apareceu. Embora o rio mar, sem querer saber tenha vindo para louvar a poesia, que os acordes e a voz da alma enamorada dissertavam a moça baiana.
Tempo vai tempo vem, os dois resolveram casar em menos de um mês. Foi a coisa mais repentina comentada pelo seus amigos, mas que não foge da rotina de homens e mulheres por ai afora. Imaturidade ou não, destino, não se sabe ao certo, pois quem é dono de opinião, quando a voz é do coração?...
No dia do casamento todos estavam condignos, mas a moça...Meu Deus do céu, estava linda,
Em branco vermelho tênue, parecia uma seda nua disposta no sereno da noite fria. Com maestria, parecia uma luz na escuridão. Seus cabelos envoltos em flores da região, sua roupa, seus colares, suas miçangas, seu ar...
O rapaz ao natural, com o seu terno e sua gravata, seus amigos ao lado do altar mor com a pilastra, em forma de serenata tocavam Amor de índio e a igreja, como não poderia de ser, ao ar livre suspirava, murmurava e se arrepiava de ver toda aquela simplicidade tornar-se o direito de viver.
Lua no céu, lua de mel, amor, amor, amor. O dia e a realidade aconteceu e os dois seguiram como deveria ser. Ela e ele trabalhavam, se banhavam, se vestiam, liam juntos... se ajudavam.
Até que Paulinho na janela do quarto, olhando as estrelas e a luz da lua embrenhar-se na selva do escuro do rio, observando a clareira que fazia o facho luminoso diante de um barco a remo, cujo pescador jogava a sua rede. Pensou e deu vontade de sair. Mas sabia que não podia ir, pelo menos sozinho, ai ele chamou a sua costela, que estava naqueles dias. E ele teve que se conformar em ficar olhando o rio, a lua, o barco e as estrelas da margem esquerda da praia.
Outras noites se sucederam, situações pertinentes a sua calma noite com a mulher. As vezes tocava violão, mas logo cansava de ver paredes.
Queixoso dizia a sua mulher que queria ir a beira rio cantar, mas ela, quando não estava cansada, preferia ver a novela.
Paulinho chegou em casa e a sua digníssima não estava, Maurício buzinou do lado de fora, conversaram um pouco e o amigo ia a beira rio. Disse então ele:
- Ah! Faz tempo que não vou lá, quando não estou lavando pratos, estou vendo novela ou lendo algum livro com ela.
Maurício gracejou, mas convidou o amigo.
- vamos lá rapidinho.
La pelas cinco da manhã ele chegou em casa de mansinho, a baianinha no sofá, estava fingindo dormir.
Quando ele ia entrar no quarto começou aquela orquestra, que só mulher sabe fazer, quando algo a afeta.
Entre mil promessas fizeram as pazes. Mas na semana seguinte o rapaz estava lá com os amigos. Após muitas discursões, no fim do mês ele estava lá na seresta.
Dia após dias ela se zangou pra valer e foi atrás do bonitão. De longe, naquela mesma mesa, de quando eles se encontraram ele era o visionário. Cantava, tocava, o rio pulava, a lua dizia a moça ruiva, que estava assentada em seu colo sons e sons, com todos os amigos, que em coro acompanhavam, alegria, alegria com aquela voz macia.
Lígia balançando a cabeça e o corpo de um lado para o outro, como as ondas de Itapuã, um vestido florido, com miçangas brancas e seu passo abaianado sem pestanejar chegou.
Arretada, a moça, rodou a baiana, quando viu no colo do seu marido uma moça ruiva, que coitada, toda desconfiada saiu de fininho. Dona Lígia gesticulava sem parar, falava em tom forte e todos ao redor, com a situação calaram, entreolhavam-se e murmuravam, enquanto o rapaz ,ainda sem perceber, entre um acorde, um gole de cerveja e a sua voz que versava poesia branda. Fora surpreendido com o desarme de suas mãos da viola, a quebrar-se em seguida contra a sua moleira. Muitos gritos, tumulto generalizado, chuva e palavrãos.
Acabaram, quando o rapaz dizia sem parar:
- Nunca pensei que você fosse assim, Pode ir que eu jamais voltarei para ti.