Onde se perdeu meu irmão? Parte 2
Dia seguinte, Augusto acorda cedo e arruma a casa, ainda tinha mais um dia de licença pelo luto. Quando vai arrumar uma cômoda que existe na sala de visitas, depara-se com a foto da mãe, ele e Isabel juntos, no natal de dois anos atrás, sua mãe ainda estava bem de saúde, nem tinha descoberto o tumor. Augusto deixou escorrer uma lágrima e ficou pensando como seria o futuro, e quando verificou já eram dez horas, foi quando resolveu acordar a irmã.
Vamos lá Isabel, não pode passar o dia dormindo.
Que vontade eu tenho de acordar? Aliás, o que vou fazer daqui pra frente sem a mamãe? Respondeu a irmã com a voz sonolenta.
Como se eu tivesse vontade. O fato é que não dá pra ficar na cama o dia todo chorando. Ainda temos uma vida para tocar. Hoje vamos almoçar na chácara do tio e passaremos o dia lá. Levanta, ou terei que te tirar “à força”.
Isabel sabia que “à força” significava cócegas, mas não tinha a menor sensibilidade para isso hoje. Ignorou e continuou deitada, até que Augusto tirou o cobertor levemente, pegou-a no colo e deixou no banheiro para sua higiene matinal e seu banho.
Não saía daí até estar limpinha e cheirosa por completo – disse o irmão, que foi em seguida foi atender o telefone que tocava. Era aquela pessoa difícil.
Pois não? Disse Augusto ao telefone.
Bom dia, antes de tudo. Estive pensando aqui. Vou depositar um dinheiro na sua conta, para despesas urgentes que vocês possam ter nesse momento.
Não precisamos de nada seu.
Não seja orgulhoso, eu sei que vocês precisam de alguma ajuda financeira. Mesmo que você tenha um cargo público, é insuficiente para cobrir as despesas da casa. Considere isso pelas pensões que eu deixei de pagar e que nunca cobraram.
Vou pensar no caso. Depois te dou uma resposta. Tchau.
Calma, quero conversar mais com você...
Augusto desligou enquanto o pai ainda falava. Vinte minutos depois, sua irmã está pronta. Os dois apenas esperam o tio vir buscá-los, assistindo TV, que já não passava nada de bom. Em pouco tempo ouvem uma buzina tocando. Entrando no carro, cumprimentam o tio e ficam em silêncio durante o trajeto, ouvindo o rock clássico tocando no carro.
Por que não chamou seu amigo Fábio para vir junto? Perguntou o tio.
Ele está trabalhando hoje. Mas eu nem lembrei de tocar nesse assunto com ele – respondeu Augusto.
Uma pena. Observei que ele é um amigo bem atencioso, está sempre disponível para te ajudar.
Realmente, ele é muito dedicado – respondeu Augusto.
Pouco tempo depois percebeu que uma mensagem chegara em seu celular. Era da irmã, que estava no banco de trás e perguntava quando ele iria assumir para a família. De imediato respondeu que não era o melhor momento, e recebeu uma resposta chamando-o de medroso. Augusto virou para trás e mostrou a língua para a irmã mais nova, que devolveu o gesto.
Chegando na chácara, pegaram cada um as suas coisas e Augusto foi ajudar o tio na churrasqueira, enquanto Isabel foi dar oi para a tia e a vó, que estavam na sala.
Enquanto preparavam a churrasqueira, Augusto resolveu falar algo com o seu tio.
Meu pai ligou hoje de manhã. Quer depositar um dinheiro na minha conta para nos ajudar.
O que você respondeu?
Que iria pensar.
Ora, não seja bobo. Toda ajuda agora é bem-vinda. Aproveite que ele quer se redimir da ausência durantes anos.
E isso se faz por meio de um depósito em dinheiro?
Quando não se consegue fazer de outro modo, sim, pode ser.
À noite eu falo com ele. Ainda mais por ter deixado ele falando sozinho ao telefone.
Nunca achei seu pai uma pessoa agradável, mas pelo menos ele foi mais presente do que o da sua irmã. Aquele sim era um grande filho-da-puta.
Bom, ele nem reconheceria a Isabel, e vice-versa.
O que eu quero que você saiba, é que vocês dois não estão sozinhos. Sempre que precisar liguem para nós. Venham nos visitar, almoçar na nossa casa. E vocês também tem uma pessoa por perto, que é o Fábio. Aposto que ele sempre estará pronto para o que vocês precisarem. É difícil encontrar um amigo assim.
É isso que eu preciso esclarecer agora. A relação com o Fábio é muito maior do que amizade. Nós somos, ou melhor, éramos namorados até pouco tempo atrás.
Tio Ricardo ficou mudo por um tempo, mas depois prosseguiu arrumando a churrasqueira e pediu que Augusto fosse buscar os espetos para carne, que tinha deixado em cima da mesa da sala de visitas. Quando Augusto subiu, o tio pensou: ela tinha razão.