O ódio de um homem louco

Lembro-me de um dia, enquanto estava cabisbaixo, sentado na mesa de um bar rústico, ouvindo um cover de Eric Clapton em um piano de calda, um copo de uísque e um cigarro entre os dedos, quando de repente senta ao meu lado, um homem, por volta de uns quarenta anos, com um chapéu e um sobre tudo. Lembro-me que havia começado a chover fortemente, pois ele entrou ensopado, ao chegar ao balcão me perguntou:

- Posso me sentar ao seu lado?

Dei de ombros, com quem diz, “que diferença faz”. Dei o ultimo gole e o ultimo trago e chamei o garçom, perdi mais uma dose, e então o homem de sobre tudo disse:

- Traga dois.

Horas se passaram sem nenhuma palavra, o pianista parou de tocar e as pessoas estavam indo embora, quando me dei conta, estava a sós com o homem desconhecido, e então surgiu o primeiro dialogo, ele me perguntou:

- Então jovem, qual seu problema?

Pensei muito em ignorar, mas então me deixei vencer pela emoção da embriagues e disse:

- Na verdade, não é nada grave, mas que me incomoda muito...

- Se te incomoda, é grave, nada leve enche o saco, por favor, prossiga.

- Enfim, tenho um desejo, que não tive coragem de arriscar para realiza-lo, sempre arrego, sempre fico sem o que dizer, sem ação e reação, um covarde, um passarinho diante de um gato faminto, nada mais que isso, um saco de estrume.

- Ah, claro, esse problema, hahaha, sei bem qual que é, e você acha que realmente vale a pena?

- Valer a pena, tá aí algo difícil de dizer, talvez sim, talvez não, quem sou eu para julgar, acho que isso não tenho como definir, mas tenho certeza que é algo na qual eu lutaria, se não fosse tão covarde.

- E o que você já fez para mudar isso?

- Tentei me desvincular, tentei fingir e mentir que é indiferente.

-HAHAHAHAHA, claro, imaginei, tentar fugir sempre é a alternativa mais “fácil”.

Demos um gole na bebida, o bar já estava praticamente vazio, o garçom limpava o balcão e ficamos ao som de uma vitrola antiga tocando um delicioso blues menor, maravilho, realmente musica para os ouvidos. Acendi um cigarro, e enfim perguntei:

- Mas e você? Também não parece nada bem, o houve com você?

- Cara, eu sempre fui muito batalhador, consegui tudo que eu mais quis na vida, mas era como você, tinha uma cobiça, alguém que acreditava que poderia estar ao meu lado sempre, me fazendo feliz, mas tinha medo, medo de falar toda a verdade, tentei fugir como você, tentei mentir para mim mesmo, mas chegou uma hora que eu a dor foi tão grande que eu tive que dizer a verdade, mas quando falei, já era tarde demais, ela me disse “você sempre esteve ao meu lado, me fazendo o melhor, me fazendo feliz, mas o seu medo me fez seguir em frente, eu precisava ter uma vida, não podia viver na esperança de você se dar conta que estava na hora, infelizmente meu amigo, o trem passou, eu sempre vou ser a amiga que sempre fui, que éramos na época, mas agora, não posso ser mais sua, me perdoe”. Essas palavras me correram, foram algumas das piores que já ouvi, acho que um simples “desculpe, mas não” seria totalmente menos doloroso que isso, mas eu me dei conta de que de como eu perdi, naquele momento, tudo que eu conquistei na minha vida não me valeu de nada, pois percebi que tudo que eu precisava, estava na minha frente, bem na minha cara, e eu deixei passar, e você? O que vai fazer?

Nesse exato instante, ele jogou um dinheiro na mesa e disse para o garçom:

- Fique com o troco – olhou para mim em seguida e disse – sabe, se você tentar não amar quem ama, você vai aprender a odiar você mesmo.

Nesse momento ele levantou e saiu, paguei minha conta, peguei meu casaco e fui para uma caminhada na chuva, pensando em tudo que o estranho homem havia me dito, e percebi que ele tinha razão, tudo o que quero está bem na minha cara, no meu focinho, e eu vacilando comigo mesmo, acho que tá na hora de tomar vergonha na cara, crescer e não deixar passar, porque a hora que o trem se for, não quero nem pensar no que pode acontecer.

A S A
Enviado por A S A em 04/06/2012
Código do texto: T3705191
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