A MÃO INVEJOSA

Estavam as duas mãos a trabalharem numa poda de uma árvore, quando em um dado momento, o dono das mãos, deu preferência à esquerda, porque ela enquadrava melhor posição para segurar a serra. A mão direita mordeu-se de inveja, mas suportou.

Assim, o serviço prosseguiu.

O dono das mãos passava a serra ora para a mão esquerda, ora para a direita. Porém, no encerramento do trabalho, o dono das mãos deu preferência novamente à esquerda, por apresentar, de novo, a melhor posição para retirar o último galho. A mão direita não resistiu, se enervou de inveja e raiva.

No entanto, o dono das mãos, antes de concluir o corte do galho, achou por bem descer um degrau na escada, e nesse caso, a mão direita ficou em melhor posição. Ela não teve dúvida, assim que se apossou da ferramenta cortante, no primeiro movimento, decepou o galho de jeito e procurou atingir com os dentes afiados da serra, a sua rival.

Mesmo o dono das mãos tendo tentado aliviar a força empregada, a serra acertou em cheio a mão esquerda, fazendo-a sangrar muito.

O dono das mãos desceu rápido da escada. Lavou a mão esquerda numa bica d’água, depois passou remédio, fez curativo e a deixou descansar.

A mão direita, feliz da vida, passou a executar todos os trabalhos. Agora ela era dona da situação. Mas foi aí que descobriu que muitas coisas que a mão esquerda realizava com facilidade, ela suava para fazer e fazia muito mal feito. Notou, envergonhada, a cara de decepção de seu dono ao ver o resultado. E chegou a chamá-la de “mão imprestável”. Mesmo assim ela se esforçava para agradar.

A ficha só caiu quando chegou a hora do banho; nesse momento ela se deu conta da besteira que fizera. O dono das mãos não usou a esquerda para nada. A mão direita desejou que a mão esquerda a acariciasse, entrelaçasse os seus dedos e passasse espuma em seu braço, como sempre fazia. Mas conformou-se, iria dormir meio suja, já que a espuma que escorria por ela era a mesma que descera do cabelo, passara no pescoço e escorregara pelo cotovelo. Quando o dono das mãos a usou para lavar a esquerda, ela se apiedou e tratou com cuidado os ferimentos, para que a sua amiga, ficasse logo boa.

Algumas partes do corpo, que viram o que ela fizera, começaram a condená-la. O banho, sem a mão esquerda, não tinha graça... quem mais protestou foi o sovaco direito, que não recebeu atenção alguma. Após o banho, a mão direita se desculpou com todos e pediu perdão para a mão esquerda que calmamente lhe disse:

- Você sempre se vangloria porque assina o cheque... mas nunca reparou que sou que fico com o maço de dinheiro para meu dono contar. Você segura o pente, eu acaricio seus cabelos. Você é aquela que benze e cumprimenta, mas sou eu a corajosa. Eu seguro o prego, você o martelo. Eu seguro o fruto, você a faca, eu corro perigo, sinto a adrenalina e muitas vezes, sem querer, você me atinge, fere e eu sangro sem nunca reclamar, pois reconheço o seu valor... porque enxergo apenas as suas virtudes, já que defeitos... todos nós temos.

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