PECADO CAPITAL - AVAREZA
 
    Eu tinha um escritório de contabilidade que progredia a olhos vistos. Contava com uma secretária eficiente e nosso trabalho era, a cada dia, mais requisitado.
   Minha grande preocupação era aumentar os lucros  e o que ganhava ia investindo em Bancos para fazê-lo render mais. Não saía para passear; era do trabalho para casa, de casa para o trabalho. Para mim, ganhar dinheiro e fazê-lo render era diversão.
    Um dia, senti-me vazia... faltava-me algo – um amor.
  Evitava sair para almoçar em restaurantes, achava que além de ser perda de tempo, iria gastar meu precioso dinheiro se o fizesse.
 No dia do meu aniversário, não tinha companhia para comemorar comigo, nem um amigo sequer, pois não me preocupara em cultivar amizades. Resolvi que almoçaria num restaurante, já que aquele único gasto extra não abalaria minhas finanças. Fui caminhando apressada, até um restaurante próximo ao escritório, porque não queria perder muito tempo; afinal, tempo é dinheiro! À minha frente, seguia um homem que andava calmamente e eu quase o alcancei com minhas passadas rápidas, mas ele chegou à porta do restaurante, mesmo assim, na minha frente. Ele, porém, gentilmente, cedeu-me passagem e entrou a seguir, no salão. Não havia garçom disponível para nos atender e ficamos procurando um lugar vago – àquela hora, o local estava lotado.
    Avistamos uma única mesa disponível e resolvemos dividi-la. Trocamos, a princípio, algumas palavras sobre o local e a qualidade da comida, até que iniciamos uma conversa agradável. Para minha surpresa, ele também era formado em Ciências Contábeis, mas não estava exercendo a profissão naquele momento, pois havia sido dispensado da firma onde trabalhava, numa época de contenção de despesas.
   Achei-o uma pessoa confiável e resolvi convidá-lo para trabalhar comigo; estava precisando de outro contador, pois o escritório estava crescendo. Ele correspondeu às minhas expectativas no trabalho e envolveu-me, também, com seu encanto; iniciamos um namoro.
   Eu não pagava a ele um salário muito alto – não podia abrir mão do meu objetivo de juntar dinheiro – mas ele permanecia no emprego, porque gostava da sua profissão e também de mim.
   Quando saíamos, ele fazia questão de pagar tudo, apesar de sua condição financeira ser inferior à minha, e eu adorava, porque assim meu dinheiro não ficava em jogo.
  Em pouco tempo, casamos, mas ele continuava como empregado da minha firma, não podia correr o risco de colocá-lo como sócio e ter de dividir meus lucros... amor, amor, negócios e dinheiro, primeiro!
  Levávamos uma vida harmoniosa, mas com o tempo, senti que seu entusiasmo por mim diminuía... eu não entendia o motivo... Não tinha tempo para observar que o homem que eu amava se sentia diminuído pela minha falta de confiança nele...
  Hoje estou só, cercada apenas pelo meu rico e precioso dinheiro. O meu amor abandonou-me, saiu da minha vida somente com seus pertences, já que tudo era meu... Foi viver com uma mulher que o valoriza e que acha que o bem mais precioso da vida não é o dinheiro...

rj,29/05/12

Crônica constante da Minirrevista Literária Contando e Poetizando do escritor Marcos Toledo