A HISTÓRIA DE UMA VIDA

Oi, vocês devem estar se perguntando por que ouvir essa história...

Também não sei até que ponto pode ser interessante pra você, pois mesmo pra mim ela foi surtindo interesse aos poucos.

Certo dia parei num ponto de ônibus próximo a uma estação de metrô, bem no centro de uma grande cidade, aquele corre, corre, gente pra todos os lados, e quando olhei mais detalhadamente vi duas figuras totalmente opostas. Um jovem alto de porte atlético, barba bem feita, cabelos bem cortados, roupas sociais alinhadas, se via que era um executivo, e pelas roupas que trajava, podia se perceber que era um homem de bom padrão financeiro, mas algo me incomodou nele...

O homem falava ao celular em voz alta e muito irritado, andava de um lado para o outro, quase a ponto de enfartar, então pensei comigo, por que uma pessoa tão bem aparentada, demonstrava tanto mau-humor...

Alguém que aparentava ter tudo e não tinha paz.

Por sua vez bem próximo desse homem, se encontrava um senhor, maltrapilho, com um mau-cheiro que tomava conta dos arredores, sua barba era enorme e toda embaraçada, seus cabelos se confundiam com sua barba, ao seu lado havia um colchonete e uma trouxa de roupas velhas. O curioso, foi o contraste entre os dois homens, enquanto um estava visivelmente perturbado mesmo tendo tão boa aparência, o outro num aparente estado de miséria, demonstrava uma paz tremenda.

O pobre senhor, sentado na calçada olhava as pessoas apressadas como se elas não estivessem ali, a única coisa que parecia importar aquele homem, eram os pombos que ele alimentava com pedaços de um pão velho e duro que também lhe servirá de alimento. O lugar ainda contava com um parque, que ao fundo transformava aquela selva de pedras em um lugar mais agradável, arborizado, e se parecemos para ouvir, o canto dos pássaros, era como musica aos ouvidos, e ali, aquele homem mesmo nas condições desfavoráveis, podia ter aquilo de forma pura, enquanto outras pessoas que corriam de um lado para o outro talvez nem soubessem que ali havia um parque.

Continuei a olhar aquela situação, até que o jovem entrou em um ônibus que parou, deixando para trás o homem e sua vida na calçada.

Eu contava o tempo minuto a minuto, pois esperava por alguém que havia de me encontrar naquele local, e o tempo foi passando para mim, as preocupações do dia que seguia foram tomando conta de minha mente, e eu pensava apenas na pessoa que não chegava e nas coisas que eu estava deixando de fazer naquele dia que passava mais uma vez como também passou o dia anterior e muitos outros dias sucessivamente.

Fui ficando irritado, até que meu celular tocou...

Era a pessoa que eu esperava, me dizendo que não conseguiria chegar pois acontecimentos inesperados a impediam de chegar.

Quando dei por mim, estava eu tão furioso quanto o rapaz que pegou o ônibus horas atrás, e quando olhei em direção onde o rapaz estava, reparei que aquele mesmo senhor maltrapilho ainda estava lá, desta vez deitado junto ao gramado aproveitando os últimos raios de Sol de uma tarde que para mim se tornou horrível, por conta de uma espera que não me serviu de nada, mas que para aquele homem parecia ser só mais uma tarde que se findava.

Me aproximei dele para ver mais de perto o que ele fazia, foi quando ele puxou conversa comigo...

_ Boa tarde moço!

Pensei comigo...

Como pode ser boa se tudo deu errado, se tudo que eu havia planejado havia se perdido, mas respondi, já tentando me livrar daquela figura...

Boa!

Ele abriu um sorriso inocente que me desmontou.

Tudo o que ele precisava de mim era um pouco de educação, era uma palavra de “ Boa tarde”.

Isso me fez refletir por alguns instantes até que ele interrompe minha reflexão dizendo...

_ O Senhor ficou muito tempo ai, não é? Eu vi que o senhor demorou ali sentado. Ela não vem, não é?

Mesmo sem saber por que, eu respondi a indagação daquele homem que para mim, era um total estranho...

_ Sim, ela não virá! Algo aconteceu que a impossibilitou de vir.

Foi quando ele se virou devagar e disse...

_ Não se preocupe, se ela teve seus motivos, outra hora vocês se encontrão em melhor ocasião para ambos.

A forma que aquele homem aparentemente tão simples falava, demonstrava muita lucidez, seu sotaque ainda demonstrava que não era desse País, e seu linguajar não era de uma pessoa sem instrução, e isso me chamou a atenção, foi então que resolvi conversar um pouco mais com aquele homem, saber um pouco mais de sua história.

Perguntei a ele qual era seu nome, e ele me respondeu...

_ Me chamo Waltter Sanchez!

Respondi a ele...

_ Diferente seu nome!

Então disse ele...

_ Diferente, não vejo em que pode ser diferente, pois nomes são por si sós diferentes, com origens e linhagens diferentes, o meu nome é só mais um nome, como outro qualquer.

Mais uma vez me surpreendi com sua resposta, tão bem colocada, e expressiva.

Tornei a indaga-lo...

_ O senhor fala com palavras muito bem colocadas, não é comum ver alguém que more na rua e fale tão bem quanto o senhor, o que o levou a estar na rua?

Foi então que ele me respondeu com algo que nunca havia me atentado.

_ O senhor é quem pensa, é muito comum encontrar pessoas como eu que vivem nas ruas das grandes cidades, eu mesmo já conheci artistas, advogados, empresários e até juiz de direito, as pessoas só não veem isso, pois preferem se manter ao longe, nossas histórias não as interessam, as vezes nem a suas próprias histórias as interessam. Mas falando de mim, se o senhor tiver mesmo interesse em saber, tenho muita coisa pra contar, tenho sim uma história, ao contrario do que muitos que passam por mim, pensam.

Curioso já com isso, respondi...

_ É óbvio que quero ouvi-lo!

Ele então me respondeu!

_ Moço!

_ Sente-se pois minha história é longa...

Sem entender muito bem o que eu ainda fazia ali, deixei minha rotina do dia a dia, e dediquei aquele tempo ao homem que de insignificante, passou a me deixar curioso.

Sentei-me no meio-fio e em seguida ele começou a me contar...

_ Meu nome, é Waltter Sanchez, nasci no ano de 1947, no dia 26 de Agosto, as 11 horas da manhã, na cidade de New Orleans, meus pais eram proprietários de um restaurante, que foi onde cresci vendo minha mãe e minha avó cozinhando e meu pai cuidando do caixa.

Minha infância foi bem tranquila, estudei em uma escola próxima de casa, e foi la que comecei a entender a vida, foi la que conheci meu primeiro grande amor, e também foi lá que chorei a perda desse amor, pela primeira vez senti a dor de um amor que se foi, o nome dela, Samanta, lindos cabelos cor de mel, olhos azuis, e um sorriso meigo e angelical.

Nos conhecemos em uma brincadeira que fizemos na hora do lanche, alguns colegas de escola ficaram zombando de mim, pois ficou claro desde o primeiro instante que a vi, que meu pequeno coração acelerou por ela. Nos tornamos bons amigos e assim fomos até o colegial, sempre fizemos tudo juntos, estudávamos juntos, passeávamos juntos, ela almoçava em minha casa, eu na casa dela, até que um dia ela me disse que iria embora, pois sua família estava se mudando para outro estado, pois seu pai havia recebido uma promoção na empresa que trabalhava, e que as oportunidades para eles seriam melhores lá. Com um beijo no canto de minha boca, ela se despediu dizendo que mesmo nunca tendo se quer me beijado, sempre fui seu grande amor.

Esse foi o pior dia de minha vida até então, vi meu grande amor ir embora sem que eu pudesse fazer nada, e o pior era saber que possivelmente nunca mais à veria novamente, chorei até não mais haver lágrimas para derramar, meu travesseiro molhado servia para sufocar o som de minha angustia, meus olhos teimavam em não se fecharem, e assim minha noite foi longa e triste, quando dei por mim, os raios de Sol estavam entrando pelas frestas da janela me mostrando um novo dia, um dia em que teria de superar a perda de alguém que fora muito importante até então em minha vida. Me levantei ainda cabisbaixo, escovei meus dentes, arrumei meus cabelos, escolhi minha melhor roupa e fui para o restaurante de meus pais, quando cheguei lá, o sorriso de minha querida mãezinha foi um alento ao meu coração que doía muito, meu pai me deu um abraço já me dizendo que havia muito trabalho a ser feito, nem esperei que ele terminasse, e já fui para o estoque separar as mercadorias para que minha mãe preparasse o cardápio do dia, fui me envolvendo com as tarefas do restaurante e fui me distraindo, isso foi amenizando a dor que estava tão presente no meu peito, numa determinada hora do dia, meu pai teve que ir ao banco, e fiquei responsável pelo caixa, isso me fez interagir com muitas pessoas, pude então perceber algumas peculiaridades em cada uma delas, isso foi me aguçando o interesse pelas diferenças entre elas. Pedi ao meu pai para tomar conta do caixa mais vezes, então passei a trabalhar com meus pais todos os dias, fui então vendo a rotina de cada pessoa que passava pelo restaurante. Havia uma senhora, por exemplo, que todos os dias pedia hambúrguer, fritas, bacon, ovos e refrigerante dietético, pois ela não queria engordar, um outro cliente pedia sempre um Scott antes de almoçar para abrir o apetite, mas ele nunca comia, pois depois do primeiro Scott, ele sempre tomava mais quatro e deixava a comida de lado. Cada um dos clientes tinham seu próprio jeito de ser, e um bem diferente do outro, e foi ai que reparei em uma garota que sentava sempre sozinha, com uma pilha de livros, pedia um café, abria seus livros, pedia um lanche de queijo-quente, colocava seus óculos e ficava por cerca de três horas no restaurante, pedia o prato do dia, almoçava em seguida pedia mais um café, fechava seus livros e saia logo após pagar a conta, passei então a dedicar mais atenção a essa garota, reparei então que ela usava perfume de lavanda, o meu preferido... Ela era estudante de arte, seus livros eram sobre história da arte, pude ver isso nas vezes que ela veio pagar suas contas no caixa, os dias foram passando, até que perguntei a ela sobre Moliére, ela sem entender muita coisa me perguntou se gostava de artes, e então começamos a ter um bom relacionamento, passamos a nos falar muitas vezes por semana, o tempo foi passando, e fomos nos tornando cada vez mais próximos, até que numa tarde depois de fechar o restaurante, saímos para ir ao teatro, foi mágico, assistimos ao um grande espetáculo musical, depois disso saímos para jantar juntos, fomos a um restaurante marroquino, nunca tinha comido algo tão diferente de nossa culinária, foi uma boa experiência, saímos do restaurante e a levei até sua casa, quando fui me despedir dela nossos olhares se cruzaram, e quando dei por mim, nossos lábios estavam levemente se tocando e quando acabou, me senti como se estivesse em plena noite de ano novo com fogos invadindo o céu, a felicidade mais uma vez tomará conta de meu coração.

No dia seguinte quando a encontrei no restaurante, pedi Catherine em namoro, ela aceitou e passamos a nos relacionar, meus pais ficaram felizes pois eles sempre viram Catherine como uma boa moça, estudiosa, comportada, discreta, era a companhia ideal para mim. Catherine passou a frequentar mais nosso restaurante e meus pais cada dia a tratavam mais como uma filha, depois de alguns meses de namoro, Catherine passou a trabalhar no restaurante como recepcionista, os negócios estavam prosperando...

Num dia de muito movimento no restaurante, meu pai fazia a contagem do dinheiro quando entrou um homem de aparência estranha, e meio assustado, o homem se dirigiu ao caixa e rendendo meu pai, pediu o dinheiro do caixa, nesse momento, Catherine sem perceber nada chegou de forma repentina ao caixa e quando ela se deu conta de que o homem estava assaltando meu pai, já era tarde! Catherine se assustou, e o homem se distraiu, foi nesse momento que meu pai tentou reagir ao assalto, o homem então disparou a arma que empunhava, acertando meu pai no peito, o homem saiu correndo sem levar nada e meu caiu ao chão se esvaindo em sangue até desfalecer, ele morreu ainda ali. No enterro, minha mãe e os amigos inconformados se despediam de meu pai, enquanto eu e Catherine rezávamos para que sua alma seguisse um bom caminho.

Foi muito difícil para nós seguirmos sem meu pai, mas para minha mãe, foi ainda pior.

Voltamos a trabalhar com o restaurante após uma semana, mas para minha mãe era mais difícil, ela imaginava meu pai no caixa, ajudando nas tarefas, saindo para ir ao banco, o restaurante era o sonho dele que deu certo...

Um mês se passou e a vida foi voltando ao normal, mas minha mãe sempre falava da saudades que sentia de meu pai.

Os dias voavam, quando percebemos, já era natal, o primeiro sem meu pai, podia-se ver a tristeza no semblante de minha mãe, tentamos de todas as formas fazê-lá se distrair, mas era nítida sua desolação.

O natal passou, o ano novo também, e logo já havia passado um ano desde a morte de meu pai, o tempo implacável foi consumindo nossos dias, até que minha mãe, não sei se por saudades de meu pai, ou por alguma doença emocional,

passou a definhar a cada dia, até que ela também se foi, deixando então apenas a mim e minha querida Catherine.

Depois de alguns anos da morte de minha mãe, nosso restaurante se tornou uma grande rede com varias filiais, eu e Catherine nos casamos, tivemos dois filhos, Sophia e Adam, e nos tornamos prósperos empresários no ramo da culinária que fomos aperfeiçoando ano após ano...

Nosso restaurante foi ficando famoso e muito bem frequentado, passou a ser refugio de vários artistas plásticos renomados, atores e atrizes e também músicos, e isso mexeu muito com Catherine, pois sempre foi seu sonho trabalhar com artes, fossem elas quais fossem.

Quando as crianças já estavam quase pré-adolescentes, Catherine me disse que estava apaixonada por um artista que frequentava o restaurante, ela disse que tentou evitar, mas que quando se deu conta já estava envolvida e que eles estavam se encontrando já a algum tempo, o pior é que nunca percebi nada, minha primeira reação foi ficar furioso, logo em seguida fiquei muito triste, pensei em me divorciar, pensei em brigar pelos meus filhos, pensei em varias coisas, mas quando cai em si, quando realmente me dei conta do que estava acontecendo, pensei em meus pais, na perda deles, pensei em Samanta, meu primeiro amor e na perda dela também, agora havia perdido minha esposa e por consequência meus filhos também...

Juntei umas economias, escrevi uma carta de despedida onde deixava claro para meus filho e para Catherine o quanto eu os amava, que deixaria todos os frutos de nossas vidas com eles, e que não mais voltaria.

Sai sem rumo, andei por noites e dias com apenas minhas economias, minhas roupas do corpo e uma busca por mim mesmo.

Segui meus instintos não me deixando mais me envolver com ninguém.

Passei sete meses andando por varias cidades e alguns estados, até que numa noite fria de inverno, sentado em uma praça, vi um anuncio de uma agencia de viagens que oferecia roteiros pelo mundo, então com as economias que ainda me restavam, comprei uma passagem para a França fui conhecer a cultura parisiense, continuei dormindo em pensionatos e albergues e viajando de cidade em cidade, e fui percebendo em cada uma delas, que as pessoas tinham suas vidas aprisionadas a situações do cotidiano, uns presos aos problemas financeiros, outros presos a problemas emocionais, outros presos a doenças, outros presos ao trabalho, e ali percebi que um dia eu também fui um prisioneiro, já nesse momento, eu era livre, poderia estar onde bem entendesse, e foi isso que eu fiz, abracei minha liberdade, ergui minha cabeça e segui em frente, continuei andando por estradas desconhecidas, adquirindo conhecimentos que me levaram a ver que os seres humanos dão mais valor as coisas superflas que aquilo que realmente tem valor.

Conheci a EUROPA, ASIA, AFRICA e por fim, voltei as AMÉRICAS, desde o CANADÁ até a ARGENTINA deixando apenas minha terra natal, pois de lá eu já não gostaria de ver mais nada.

Cheguei por fim ao BRASIL, uma terra vasta que pude conhecer de ponta a ponta, e vi um mundo dentro de um País que mais parecia um continente, conheci paraísos tropicais, cidades esquecidas, metrópoles que nada deixavam a desejar a nenhum outro País do mundo...

Minha viagem solitária, consumiu anos de minha vida, consumiu minhas economias, e me fez perceber que minha liberdade vale muito, pois sem ela jamais teria conhecido todas as coisas que conheci, meu aprendizado foi grandioso, porém algumas vezes ainda me sinto só, penso nos meus filhos...

Onde estão como estão?

Se estão bem, se estão vivos, se minha Catherine se arrependeu... Penso se o restaurante de meu pai ainda é como eu o deixei... Penso no homem que fui e depois de contemplar o dia nascendo, sem cobranças, ouvir os pássaros cantando sem se preocupar com o tempo, viver com aquilo que tenho, simplesmente com aquilo que tenho, acredito que existe um DEUS que olha por mim e me quer livre, e que a melhor coisa que ele me deu, foi minha liberdade...

Mas ainda assim as vezes penso em tudo que fui.

Dizer o que é melhor eu não posso, mas posso dizer que bom é viver, que é bom ser livre seja como for sua liberdade!

Hoje eu vivo na rua...

Vou onde quero, e cada parada é minha morada, cada estrada uma chegada, cada chegada, um novo amanhecer livre!

Não tenho ninguém, como já disse, as pessoas nem me percebem, mas vou vivendo livre, se é ruim ou bom, não sei só sei que sou livre de corpo, e coração.

Quem sou eu, só mais um homem, que optou pela liberdade assim como muitos outros...

Se acha que desisti de viver, se pergunte se viver é estar preso a uma vida de responsabilidade, e pessoas que lhe valorizam por aquilo que você tem, ou se é viver sem compromisso, vivendo um dia após o outro, livre de cobranças, sem mentiras, vendo o momento como ele é, as vezes duro, as vezes leve...

_ Moço!

_ Se o senhor prestou atenção em minha história, saberá que nem tudo o que parece, é de fato.

_ Todas as coisas tem um propósito, todos nós temos escolhas, quais são as suas?

Atônito, perplexo com o quê acabará de ouvir, olhei o relógio e vi que já era tarde e que a história daquele homem que a primeira vista era só mais um mendigo, uma pessoa que não tinha nada a me acrescentar, sem nenhuma importância, passou a ser uma fonte de conhecimento, que tinha muito a ensinar a mim, e a qualquer outro ser que lhe desse um pouquinho de atenção...

E isso foi a única coisa que ele quis de mim, só um pouquinho de atenção.

Agora me pergunto, quem ganhou mais com essa conversa, ele, ou eu?

Não sei bem ao certo, mas sei que ele ganhou um momento de atenção e eu, a partir de agora vou tentar me conhecer um pouco mais, rever minhas prioridades, tentar encontrar o meu verdadeiro caminho!

Olhei nos olhos daquele homem, Senhor Waltter Sanchez, com gratidão por tantas coisas que vivi naqueles momentos com ele em sua tão rica história.

Sem saber muito bem o que dizer a ele, perguntei o que poderia fazer para ajuda-lo, e ele humildemente respondeu...

_ O senhor já me deu muito hoje, pois ninguém para pra ouvir um velho mendigo, mas se o senhor puder me dar sua companhia para um jantar, já seria de muito bom grado!

Indaguei-o novamente.

_ O que o senhor gostaria de comer?

E ele me respondeu...

_ Qualquer coisa, pois o que vai valer mesmo é sua companhia, pois a muito não sei o que é comer ao lado de alguém a me fazer companhia.

Com os olhos cheios de lágrimas, mais que imediatamente, dei-lhe um abraço e o levei a um restaurante do outro lado da rua onde todos ficaram nos olhando, e imagino até o que pensavam, pois acho que em outra situação, também pensaria o mesmo. Jantamos juntos e aquele homem me agraciou com mais alguns momentos de sabedoria, nos levantamos da mesa e fui até o caixa pagar a conta quando ouvi Waltter dizer...

_ Por muitas vezes eu vivi essa cena...

Saimos do restaurante e no semblante daquele senhor, era claro a satisfação, não pelo jantar, mas sim por ter sido tratado como o homem que ele verdadeiramente é.

Caminhamos por alguns metros até o outro lado da rua onde ele pegou seu colchonete e sua trouxa de roupas, em seguida saiu dizendo um sigelo adeus, com um simples sorriso estampado em sua face.

Fiquei ali parado vendo o homem se afastar passo a passo rumo ao desconhecido, quando o homem desapareceu ao longe, respirei fundo e também comecei minha caminhada de volta pra casa depois de um dia que fugiu a rotina, e que com toda a certeza fará do dia de amanhã diferente de todos que eu viverá até ali.

Segui por mais meia hora até chegar em casa, tomei um banho quente, escovei meus dentes, me perfumei e fui me deitar como nunca havia feito.

Curti minha cama, o cheiro de meu perfume, a maciez de meus lençóis, o calor de meus cobertores como nunca havia feito até então, e aos poucos senti o sono chegando até o momento que adormeci...

Algumas horas passaram e o Sol brilhou forte anunciando o novo dia.

Eu, com certeza acordei diferente do dia que ficou para trás e a primeira imagem que me veio a mente, foi o singelo sorriso de Waltter Sanchez, um homem que com sua história de vida conseguiu mudar tudo aquilo que eu acreditava ser importante na vida...

Acordei e agradeci a DEUS por tudo aquilo que tinha...

Tomei um café da manhã maravilhoso, e me preparei para enfrentar o dia com liberdade...

“A História de uma vida”

Por:

Rogério Motta.