CRESCER SEM PAI

                 O menino, de oito anos, ocupa o banco de trás do carro e fecha a porta. O pai senta ao volante e aciona o motor que abre o portão da garagem.
               A manhã de sol do outono enfeita a rua de folhas multicoloridas que dançam a dança da despedida de uma existência efêmera.
          A metade do caminho é de silêncios, ambos contidos em pensamentos próprios, diálogos internos de personagens absolutamente íntimos e reflexivos. Vão em direção à casa da mãe, que o encontro fora curto, de meio de semana, uma noite e uma manhã apenas.
                De repente, o menino lança uma frase, como se tivesse escapado do diálogo interno e emergido para o mundo de uma relação entre duas pessoas que se conhecem desde sempre: "É triste uma criança crescer sem pai."
               Imerso em pensamentos de contas a pagar, cuidados com o carro, compras do supermercado, programação do fim de semana, o pai, surpreso, desliga o canal interno e pergunta "O quê?".
              "A Sofia, ela perdeu o pai quando era bem pequenininha e eu tava pensando como deve ser triste para uma criança crescer sem ter um pai."
           Quando o menino terminou a frase, o rádio do carro já estava desligado, a velocidade não passava dos 10 km/h e duas lágrimas corriam pela face do pai.
                "É, eu também acho.", respondeu gaguejando e cumpriu o resto do trajeto em silêncio.