Crônicas de um Literário - Parte III
A relação entre Carlos e Fabrício estava bem, era uma amizade normal entre dois jovens que acabaram de se conhecer, embora eles estivessem em situações diferentes, Fabrício estava feliz, estava com uma namorada nova, seu nome era Gabriela, era linda, uma moça alta e com a pele branca, tinha vinte anos, seus cabelos eram escuros, fazia literatura também e era bem talentosa, se conheceram e digamos que foi amor à primeira vista se assim eu posso dizer, pois ele não parava de falar nela, era Gabriela isso, Gabriela aquilo, ele estava sofrendo do complexo de apaixonado, acho que isso nem Freud e Nietzsche explicariam, estavam apaixonados de fato, cheguei a conhecê-la e era verdade, ela era tudo e mais um pouco, ele não omitiu ou inventou nada, Já Carlos ainda estava com seus problemas com relação a sua timidez, ainda não havia se declarado para uma pessoa, digamos que Fabrício estava feliz e Carlos amargurado, um estava amando e outro depressivo, mas isso não vem ao caso. Eles estavam namorando e felizes, estavam com três meses de namoro quando... Bem, aconteceu aquilo, mas não vem ao caso falar disso agora, Fabrício não entendia muito bem o do por que Carlos às vezes aparentava estar tão triste, ate que um dia, Carlos do nada começa a falar sobre sua vida, ele não costumava falar muito sobre si ou dos seus sentimentos, disse que se tratava de uma questão intima e grave. Fabrício não entendeu o porquê disso, apenas se restringiu a escutar, Carlos disse que veio morar aqui por causa de uma garota que conheceu numa viagem anterior, confessou que foi há quatro anos, e também disse que largou tudo por causa disso, veio morar aqui para ficar mais perto dela e o pior de tudo era o fato dele ter feito tudo isso e ser tímido demais para se declarar para ela, disse que estava sofrendo com isso, Fabrício não escondeu a surpresa pelo que acabava de escutar, era algo que beirava o absurdo, mas olhou bem para Carlos e sentiu que era verdade, nada podia dizer a não ser que isso iria mudar, Carlos olha para ele e pergunta quando seria isso, já que o pior tinha acontecido, ela estava namorando, Fabrício dessa vez ficou quieto, não tinha nada a dizer, nem uma palavra de conforto nem nada, apenas se levantou e disse que eles deveriam seguir em frente e dar tempo ao tempo, Carlos olha para Fabrício com uma feição triste e concorda afirmando com a cabeça.
O Dia de domingo, era uma das raras oportunidades de relaxar e aproveitar um pouco sem os estresses dos estudos, Fabrício e Gabriela estavam numa festa, já era de noite quando eles chegaram, ambos tinham os gostos parecidos, estudavam na mesma sala, gostavam de escutar quase as mesmas músicas, não bebiam, repudiavam o álcool igual o Carlos, chamados de puritanos entre os colegas, eles sempre diziam que podia-se muito bem se divertir sem beber nada com álcool, ambos tinham suas razões para isso, Gabriela por uma pura razão conservadora, já que vinha de uma família católica e Fabrício tinha um exemplo em casa que ele jurou nunca seguir, já que seu pai era um alcoólatra que acabou morrendo cedo, mas naquele dia algo estava diferente, parecia que Carlos queria esquecer algumas coisas, estava bebendo compulsivamente, resolveram sair da festa mais cedo, ainda eram dez e meia e Fabrício ia deixar ela na sua casa mais cedo, Fabrício não podia deixar Carlos lá sozinho e naquele estado, resolveram rebocar Carlos de volta para sua casa também, mas ele teimou e resolveu ficar com outros colegas que Fabrício também conhecia, Fabrício agora ficou mais relaxado, já que sabia que eles levariam Carlos ate sua casa, Fabrício e Gabriela tinham uma prova importante no outro dia, querendo ou não tinham que voltar e se preparar para ela, eles entraram no carro por mais que Carlos e os outros colegas insistissem para que ficassem, Fabrício ligou o carro e disse que amanha teriam algo importante pra fazer, deu um tchau com a mão e saiu com o carro. Fabrício era um bom motorista, o som de fundo desse cenário seria I Don't Owe You Anything, maldito Morrissey, parece ter hipnotizado Fabrício para todo o sempre, ele estava dirigindo enquanto Gabriela dormia encostada em seu ombro, ele olhou para ela e sorriu, ficou se perguntando como um ser podia estar tão lindo dormindo.
Fabrício tinha muitos planos, queria se formar e trabalhar para o mais rápido possível se casar com Gabriela, uma garoa fina e tenebrosa começou a cair, nada que pudesse dificultar a visão de alguém, Fabrício vinha pensando em como seria a prova do dia seguinte, seria uma prova importante que valeria um terço de sua disciplina, mas ele estava confiante ambos tinham estudado e seria fácil para eles. Nesse momento a garoa se intensifica. A estrada chega ao trajeto mais perigoso, pois agora a estrada estava com algumas curvas acentuadas, Fabrício começa a se arrepender de não ter voltado antes, exatamente quando começa a tocar There Is a Light That Never Goes Out, ele se lembra do refrão da musica.
“And if a double-decker bus Crashes into us
To die by your side Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck Kills the both of us
To die by your side Well, the pleasure and the privilege is mine”
“E se um ônibus de dois andares Colidisse contra nós
Morrer ao seu lado, Que jeito divino de morrer.
E se um caminhão de dez toneladas
Matasse a nós dois, Morrer ao seu lado.
Bem, o prazer e o privilégio seriam meus.”
Ele não queria pensar nisso, mas de repente um medo inconsequente começou a latejar na sua cabeça, ele sabia que era algo psicológico, nada poderia acontecer, era só ficar calmo e respirar. Ele respira pausadamente e fecha os olhos.