PUNICAO DE UMA VIDA
Ele a cegou para que nao vesse a luz do sol, deixando a na escuridao. Arrancou -lhe a corda vocal com a precisao de um cirugiao para que sua voz nao ecoasse. E quando suas maos frageis tentavam rabiscar com carvao versos na parede desbotada ele decepou seus dedos. Insano e cruel ele a transformou em sua presa, diabolicamente brincou de Deus.
Ela era agora o seu animal enjaulado domesticado a seu gosto. E mesmo ele ter lhe arrancado sua possibilidade de escolha, sua alma iluminada aquecida pelos sonhos que vinham pela exaustao da espera de que alguem soubesse as atrocidades que ele cometera e a salvasse, ela adormecia no chao frio e fedico. Nos seus sonhos podia caminhar por vastos jardins coloridos, podia cantar velhas cancoes que lhe lembravam momentos felizes e podia sentir o frescor da liberdade onde seu carrasco nao a alcancaria com sua perversidade. Mas quando voltava deste sonho, novamente estava presa naquele quarto onde era so possivel ouvir o ranger do assoalho de madeira. E as risadas dele que ecoavam pela velha casa tornando aterrorizante seus dias interminaveis. O corpo doia terrivelmente, a tempestade batia na vidraca reproduzindo um ruido ameacador.
Adormeceu tremula de pavor, pois ele havia prendido suas pernas para que nao fugisse. Ao acordar estava amparada, havia anjos acolhendo seu corpo fragil. Entao soube que havia se libertado. Soube que suas preces silenciosas haviam sido atendidas. E nao teria mais seu carrasco a puni-la. Nao o teria para castiga-la so porque ela nao o amou.