O Ladrão
Poyu estava acostumada a ver pessoas transitarem por aquela rua sem nem mesmo percebe-la. Era um costume antigo causado pela dificuldade financeira que assombrava sua família há muitas gerações. Ela sentava-se na calçada da mesma rua já fazia 5 anos, e sempre sentia-se sozinha por mais que estivesse cercada de gente. Poyu engraxava sapatos para sobreviver, não tinha pai, nem mãe, ou qualquer parente vivo, ela era a última de sua linhagem amaldiçoada.
É difícil dizer que dia tudo aconteceu, uma vez que para Poyu os dias não passavam da mesma forma que passavam para as outras pessoas. Como tudo sempre se repetia, ela decidiu deixar o tempo resolver-se por si só. Contudo, sabe-se que a chuva caía. Nesses dias, Poyu se resumia a uma mancha na paisagem.
Ela estava recolhendo seu material de trabalho quando um vulto aproximou-se. Como de costume ela ignorou aquela presença já que o mundo dela não mantinha contato com o real. Porém o vulto manteve-se lá, ao lado da pequenina. A chuva diminuiu e então o estranho mostrou-se na pouca luz. Era um rapaz comum, vestes comuns, porém um sorriso assustador. Poyu notou que ele não a ignorava como os outros, ele estava de fato olhando diretamente para ela.
Os dois se fitaram por um tempo e então Poyu soube. Aquele era um ladrão. Daqueles maquiavélicos, cheios de estratégias e planos mirabolantes. A verdade é que ele a fez de vítima, o rapaz comum saiu tranquilamente levando consigo as únicas preciosidades que Poyu possuía, seus nobres sentimentos. Ele levara todos eles, deixando apenas os sujos, baixos e asquerosos para trás.
Ela sentiu um grande vazio invadir-lhe a pele e tomar o corpo lentamente, este vazio produziu uma dor horrenda, e deste vazio surgiu a ferida, enorme, vermelha, pingando sangue. A menina lutava contra a dor, mas já era tarde, nada de bom restara no corpo franzino. Só restava sentir ódio e clamar por vingança.