Olhar na beira do cais.

O Sol pela manhã ainda nem chegou naquele cantinho de praia. Ao longe visualizo a figura solitária daquela mulher com seu olhar debruçado sobre as águas. De longe ouço uma cantiga triste, já conhecida pelos moradores solidários, que assistem todos os dias este lamento pela manhã.

Próximo dela ainda vejo pescadores também solidários. Eles na rotineira preparação de seus barcos, antes de se lançarem neste mar, entregues a toda sorte na esperança de redes cheias, para o sustento de suas famílias, bem como no excedente, atender a clientela da vila.

Emoções afloram no instante curioso daquela mistura entre a cantiga melancólica daquela mulher e a dos pescadores carregada de crendices à Iemanjá, e outros seres que habitam este mesmo mar, que cantam em espécie de oração com pedidos, para que lhes façam sucedidos na volta do mar com seus barcos cheios de peixes e sem acidentes. O mesmo mar que nunca mais devolveu o homem daquela pobre mulher, que o viu entrar pelo mar numa manhã chuvosa e que agora perdida, ela se desespera e despenteia na beira do cais na espera inútil.

Assim é a vida naquela vila de pescadores, um ritual repetitivo assistido por algumas gaivotas, que namoram os barcos com seus peixes. Sonhos que se misturam esperanças que embarcam e outras que deveriam desembarcar, todos tem uma forma de ser feliz ou crer na felicidade. Da janela já vejo o Sol, que se espelha no mar. O barco solitário que baila sobre as águas num lindo sobe e desce, agora leva bravos pescadores para mais uma aventura neste imenso mar, carregados de sonhos e desejos.

Então vejo a mulher que retorna cabisbaixa em direção à vila, com seu vestido roto a cobrir aquele corpo, agora alterado pela gravidez daquele pescador, que talvez nunca possa receber nos braços sua amada e filho. E os barcos com seus valentes pescadores vão desaparecendo lentamente nas descidas e subidas das águas, os olhares desviam do mar e se voltam para a vila que aos poucos vai retornando na sua vidinha praieira, para tudo recomeçar numa nova manhã de esperanças e lagrimas.

Toninho.

24/05/2012.

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 27/05/2012
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