Crônicas de um literário - Parte II

Seis meses atrás, era tarde da noite, uma garoa fina caía e dava uma sensação de frio, todos pareciam ter largado da faculdade, apenas um vulto estava a andar pela frente da mesma, ate que um carro começa a andar lentamente ao lado desse vulto, esse vulto era um aluno da faculdade que tinha perdido o último ônibus para a sua casa, o vidro abaixa e vê-se um rapaz falar de dentro do carro, o rapaz do carro era Fabrício.

– ola? – Diz Fabrício sorridente

– ola... – responde o Desconhecido se assustando um pouco

– bem, to vendo que você ta aqui, sozinho, precisa de ajuda? – Pergunta Fabrício

– não obrigado, acho que consigo ir sozinho pra casa. – diz o Desconhecido

– melhor não arriscar... Por aqui há essa hora é bem perigoso, mas se você não quer ir, tudo bem, boa noite. – diz Fabrício

O desconhecido ficou calado, sua roupa já estava começando a ensopar, parecia não ter trazido guarda-chuva, parecia pensar em aceitar ou não o convite do estranho, até que Fabrício tenta pela última vez.

– borá cara, tu ta se molhando todo, tem certeza que não quer uma carona? – insiste Fabrício

– tudo bem... Tudo bem, eu aceito a sua carona, mas não vai ficar muito longe se o meu destino for diferente do seu? – diz o Desconhecido aceitando finalmente a carona

Depois de se molhar todo esse idiota resolve entrar, poderia ter dito sim desde o inicio, será que ele queria mesmo ir pra casa há essa hora a pé? Deveria deixar ele aqui, mas já ofereci a carona, agora não posso voltar a atrás – Pensou Fabrício com o olhar cínico de costume.

– que nada, sem problemas, onde você vai ficar? – diz Fabrício disfarçando

– na rua da unção dos carneiros... – diz o Desconhecido

– ah! Legal, prazer meu nome é Fabrício e o seu? – pergunta Fabrício

– Carlos, meu nome é Carlos... – diz o Desconhecido

– pelo sotaque não é daqui, estou certo? – pergunta Fabrício

– sim, sou do Espírito Santo... – confessa Carlos

– meio distante hein, o que você faz vindo de tão longe? – pergunta Fabrício enfaticamente.

Nesse momento fez-se um silêncio, Fabrício entendeu que Carlos não queria falar sobre aquilo, Fabrício achou-o meio estranho e ficou realmente curioso sobre o do por que ele vinha de tão longe pra estudar aqui, pois de certo as referências acadêmicas sejam do sudeste, então ele se cala também e os dois seguem o caminho em silêncio, por outro lado Carlos olhava a cidade pela janela, parecia gostar do que via. Carlos depois de uns cinco minutos notou que estava tocando uma musica, ele parecia não conhecer a banda, mas tentava puxar da memória pra vê se conseguia e nada de descobrir, ate que ele se rende e enfim pergunta.

– que musica é essa? – Pergunta finalmente Carlos

– hum? Ah, é what difference does it make… – responde Fabrício

Carlos fica um pouco em silêncio pela surpresa de ser uma música antiga, mas acaba dizendo que não a conhecia...

– Qual o nome da banda que canta ela? – pergunta Carlos curioso

– bem, é uma banda de rock progressivo dos anos 80, The Smiths... – diz Fabrício orgulho

– putz, meio antigo hein? – diz Carlos um pouco surpreso

– é sim, eu gosto de coisas antigas, agora me diz o que diabos tu fazia ali sozinho? – diz Fabrício revelando um pouco dos seus gostos musicais

Carlos nesse momento começa a contar que tinha perdido seu ônibus e que não conhecia muitas pessoas por aqui, embora dissesse que já morava aqui há três anos, não conhecia muito bem a cidade, por sorte Fabrício apareceu. Ele continuou dizendo que estudava direito, Fabrício disse que estudava literatura, pareciam estar se dando bem, mas logo chegaram ao destino de Carlos, eles se despediram, mas deram os números do celular para manterem contato, ate parecia que eram amigos já há algum tempo, inconscientemente Fabrício gostou de ter conhecido Carlos, por fim perguntou em que sala ele estudava, já que estudavam na mesma faculdade, eles com certeza iriam se esbarrar por ai, ele estudava na sala 27. Carlos pensou o mesmo de Fabrício, ficou um pouco surpreso, por que foi meio rápido essa amizade, eles pareciam se dar muito bem, gostavam quase das mesmas coisas, a única diferença era o maldito hábito que Fabrício tinha de escutar The Smiths no carro, o maldito cd sempre tocava, Carlos ate decorou algumas músicas, mas tirando isso, ele foi o seu melhor amigo durante o tempo da faculdade, ate acontecer aquilo.