A ilha e o beijo.

De longe podia ver aquela pequena faixa estreita de praia. Acima dela uma imponente montanha esverdeada formada por rochas negras coberta de plantas e árvores de pequeno porte, plantas que antes partivalham sua presença em toda a costa brasileira e hoje enchem os olhos dos que as adimiram. Alí era conservado um pedaço da mata atântica criada por D'us e guarnecendo-a, como um sentinela incansável, no topo daquela montanha, daquele morro como diziamos ou como qualquer outro residente do Estado do Rio de Janeiro o qualificaria após o ver, estava um farol eregido pelo homem.

Todas as noites, religiosamente, ele acendia e sua luz tornava-se um ponto certo e seguro às vista de qualquer que estivesse na imensidão do mar que nos cercava nesta ilha.

O barco navegava lentamente abrindo e rasgando as ondas que vinham de encontro a ele. Aquilo tudo era novo para mim. Ver o barco jogando e seguindo a superfície inconstante do mar; os mergulhões lançando-se em queda livre de bico perfurando o mar, mergulhando e voltando à superfície com uma refeição no bico ainda se debatendo para livrar-se e voltar, com um pouco de sorte, ao seu habitat natural; os golfinhos nadando e saltando ao lado da embarcação, acompanhando-nos com toda a graça e euforia que só eles podem ter... Também haviam os tubarões que deixavam a mostra suas barbatanas dorsais, tão famosas nos filmes de terror que via na televisão. Até contarolei "tâm-tâm-tâm-tâm-tâm-tâm-tâm-tâm-tâm-tâm.".

Cada vez mais o barco, imperceptivelmente em meio tanta coisa para se adimirar, foi ficando mais perto da ilha, a ilha onde eu, por dois meses iria fixar residência. Imaginem só se alguém fosse me escrever?!?! Nada de rua, avenida, travessa ou praça... Escreveria "ilha!". Mas como o carteiro iria me entregá-las? A ilha era bela. Nada como a do filme O Carteiro e o Poeta ou Capitão Corelli, mas era uma bela ilha, era a minha ilha, ao menos por dois meses seria... Havia um pequeno conjunto de casas que mais parecia uma mansão de longe, mais eram pequenas, aconchegantes, tinham segundo andar onde ficavam os quartos. Eram cinco janelas, eram cinco quartos, cinco casas, cinco famílias... Tudo ficava mais grande, mais perto a medida que o barco se aproximava e eu ia vendo lugares, pedras, caminhos, entradas cujo as quais ia me preparando para explorar... No lado esquerdo de quem olhava a ilha do mar havia uma outra pequena praia depois que se cruzasse um caminho de pedras. No canto direito, bem lá na ponta, haviam pedras menos salientes, pude ver que havia uma pequena piscina natural que se formaria quando a maré baixasse, vi um quebrar de águas mais forte nas rochas que se lançava ao alto e se esvoaçava em uma nuvem espumada de água salgada como se as águas dalí fosses impacientes pelo processo natural das coisas que as transfomariam em nuvens de chuva.

O barco atracou distante da praia e fomos em um barco menor a remo. Quando pus meus pés naquela areia dourada e quente é que dei por mim de que tudo aquilo era real. Eu precisaria de mais um dia pra assimilar tudo os que meus olhos estavam vendo. Por trás das casas havia um imenso paredão verde que se extendia até o céu. Ante as casas tremulava solene e silenciosa a bandeira do Brasil.

Haviam, por detrás das casa, as ruínas da última casa que serviu de residência a um faroleiro que deve ter convivido com tudo isso que enchia-me os olhos. Restara apenas a planta baixa da casa e com o passar do tempo passou a ser um ótimo lugar para se jogar bola ou brincar de qualquer outra coisa que nos vinhesse à mente. Ao lado dessa antiga edificação havia um campo de futebol que passava a semana toda deserto, com excesão de uma trave onde brincavamos sempre. Do outro lado, na outra extremidade das casas que eram destinadas aos bem aventurados deste lugar magnífico, estava um campo de vôlei de praia, uma mesa embaixo de uma castanheira e um balanço... Como era bom santar-se em um balanço, balançar-se sentindo a brisa refrescante do mar, olhando aquela imensidão ora esverdeada, ora azulada quebrada apenas ao horizonte onde podia-se ver o continente, miúdo... Apenas uma faixa marrom esverdeada impedindo que o céu se unisse ao mar. O tempo passava e a gente nem percebia. Mais adiantada que as outras casas havia uma pequena "casa", depois de averiguá-la percebi que se tratava de um paiol. Haviam quinquilharias, tubos, mesas, cadeiras e uma mesa de sinuca, bolas amarelas e vermelhas, giz azul, a bola branca e tacos. Lá aprendi a jogar... De certa forma até que me viciei, mas hoje estou recuperado.

Nunca havia visto um farol de perto. Quando chegou a noite olhava para o alto e via sua luz cortando o céu rasgando a escuridão como uma navalha afiada mas com cuidado milimétrico de um samuray para não acertar nenhuma estrela. O céu era limpo, claro e estrelado. Não como os das grandes cidades que podiamos ver apenas umas aquí e outras alí. Parece que podiamos ver e contar as constelações, até inventar as nossas próprias constelações sem roubar a estrela de ninguém. Só havia visto algo parecido, até então, quando havia viajado de noite, de ônibus. Como eu nunca conseguira dormir em viajens, assim eu sempre ficava olhando o céu procurando ver uma estrela que já não tivesse visto ou continuar me adimirando com como é belo a falta de originalidade que elas têm. O clarão passava de instante em instante iluminando estrelas, nuvens, navegantes, sonhos e tudo mais que ele pudesse alcançar. Olhando da janela que correspondia ao meu quarto eu podia ver, no horizonte iluminado de luzes coloridas, mas em sua maioria amarelas das casas dos que me pareciam ser os vizinhos mais próximos que eu teria além dos que estavam na ilha, e o cruzar intermitente de uma forte luz que se alçava ao céu como um farol. Seria outro farol? De manhã, enquanto subia o caminho que dava para o farol, perguntando, descobri que se tratava das luzes do aeroporto. Havia acordado cedo naquela manhã, como meus pais, e os havia acompanhado com os demais militares que compunham a guarnição e uma esposa de um deles que acompanhava minha mãe na subida para o farol. Era uma subida escura, uma clareira aberta no meio da mata a base de facões e trânsito humano com pesos necessários. Na metade do "morro" que abrigava o farol havia uma pedra grande, lisa, sem vegetação alguma, desmentindo-me apenas por uns dois cáctos que não se importavam de estar no meio do caminho. Dalí, daquela pedra, pude ver de onde o sol havia surgido. Mais um pouca a sua direita, no mar, uma plataforma de exploração de petróleo, timidamente queimava uma chama leve e sutil que devia estar sentindo-se envergonhada de ver que seu brilho, ante o sol, não seria nada enquanto ele predominasse no céu.

Mais longe da parafernalha engenhosa que flutuava no meio do mar estava o horizonte... Um azul esvoaçado, branco azulado, verde azulado, azul, nublado... O que dizer? O que definir? Talvez quem já o tivesse visto tantas vezes pudesse definí-lo, talvez um marítimo... talvez outro poeta. Não sei. Apenas sei que se podia ver a curva que tanto amedrontou navegantes dos séculos que antecederam a descoberta desta maravilha pelo tal "mundo civilizado". Continuamos nossa subida em busca de uma vista mais privilegiada de dentro do farol. O farol tinha a altura de um prédio de, sei lá... dez andares??? Eu era tão pequeno que hoje as coisas já não me paecem maiores do que já me foram um dia. Sua escada era tão sinuosa que parecia que eu ia ficar tonto de subí-la, ele havia sido construído juntamente com uma pequena vila de casas que hoje estavam abandonadas, antigamente os responsáveis pelo bom funcionamento do farol deveriam morar perto dele para acendê-lo e apagá-lo manualamente, hoje já não era mais preciso isso pois a tecnologia já o havia dado o poder de se acender só com foto-sensores que o faziam acender à menor presença de luz solar. Em volta das casas havia pouco espaço para se brincar. Mais longe um pouquinho, encrustado no chão, havia algo mais parecido com uma casa-mata com uma porta pesada de metal mais uma janela de vidro, suja, tentei olhar mais não deu pra ver nada através dela. Diferente dos espelhos que circundavam a luz do farol, nunca me vi tatas vezes assim, parecia o grande olho de uma mosca e eu refletido em cada um dele. Do alpende do farol eu podia ver tudo... Com direito a caminhar num giro de 360° e assistir o quão insignificante eu me tornara mediante tal visão. Mar, mar, mar, mar... Podia ver também as outras duas ilhas que ficavam cada uma de um lado, o continente... E tudo foi se escondendo nas nuvens que haviam encoberto o farol. Pude sentir com as próprias mãos a consistência que as nuvens têm, embora não pudesse pegá-las.

Aos poucos fui me acostumando com a tranquilidade que aquilo tudo me oferecia. Frutas colhidas dos pés de árvores frutíferas que haviam na ilha, dentre elas a que mais sinto saudades: amora. Peixe tirado das redes dos pescadores, pois eles insistiam em cruzar suas redes de uma ilha à outra, o que era proibido, sendo assim como castigo ou por pirraça, tiravamos alguns de seus peixes e ao contrário deles apenas tiravamos o necessário a suprir nossas necessidades. Cheguei a ver tartarugas mortas afogadas presas às redes. Isso indignou-me profundamente, principalmente porque dias antes eu havia me encontrado com uma em um desses mergulhos na praia. Senti que ela havia me olhado com aquele seus olhos castanhos pequeninos e depois vi-me olhando para uma morta com olhos sem vida... Pensei não ser ela quem havia se encontrado comigo. Quantos anos ela devia ter? talves pudesse ter a idade de meu pai, de meu avô ou até mesmo a minha idade. Fizeram uma sopa com ela, nesse dia eu não jantei, não seria capaz de comer alguém que me tivesse fitado os olhos. Haviam dias que eu nem voltava para casa, vivia a comer frutas pela ilha. Caminhava por toda a orla que era comum a todos acompanhado de um cão chamado Maradona. Haviam outros três cães além do Maradona; Suzzy era a única fémea; Junior era o mais novo, ainda pequenino por volta dos seus primeiros meses de vida era medroso mas esperto; Sarney era o mais velho deles e embora o Mará parecesse ser o líder da matilha os latidos de Sarney sempre eram tomandos em conta. Tenho boas lembranças deles tembém, inclusive uma mordida de Maradona na mão esquerda que carrego comigo com muito orgulho, pois quando eu cheguei no hospital, em terra, as enfermeiras já sabiam quem era o Maradona e eu não havia sido o primeiro a ser mordido por ele, mas, infelizmente, parece que fui o último, pois depois que todos que guarneciam a ilha na época que eu morei lá, se foram, os que os substituiram envenenaram o velho Mará. Sarney morreu na época em que eu lá estava. Lembro-me quando ele saiu indo de pessoa em pessoa, aproximando-se e sentando-se, parado balançando o belo e volumoso rabo peludo de cor dourada, todo mundo ficou comentando depois que antes dele sumir cada um dos moradores da ilha recebeu a nobre visita do velho cão. Devo-lhe muito pois, lembro-me como se fosse hoje. Eu estava indo em direção a praia quando aquela figura grande e peluda surgiu na minha frente... Era um tamanduá bandeira, quis correr para as casas mas ele estava entre eu e elas e quando eu, deseperado por um pedaço de pau, inclinei-me um pouco ele elevou-se nas patas traseiras e ficou maior que eu. Tremí como vara verde, como dizia meu avô, com medo de um temível abraço de tamanduá, mas o tamanduá, que devia estar com tanto medo como eu, mas que tinha unhas muito maiores que as minhas unhas roídas, foi afugentado primeiramnete por Sarney, depois vinheram Mará e Suzzy. Eles o puseram pra correr... Super-Man, Batmam, Homem-Aranha que nada! Meus heróis foram três cães vira-latas. Depois disso a última vez que vi Sarney foi quando ele se sentou do meu lado em um fim de tarde enquanto eu, cansado, observava e ouvia vai-e-vem do mar.

Eu tinha um amigo na ilha e outro dois esporádicos que passaram algum tempo. Nardielo (o nome é esquisito mas é esse mesmo!) era filho de um dos militares que morava alí. Ele era legal mas a gente discutia muito, mas nunca passavamos mais que algumas horas brigados e enfezados um com o outro. Com quem brincariamos?? Ele ficava chutando uma bola sozinho contra a parede e eu ficava com os meus bonecos, depois de um tempo sempre um ia falar com o outro.

Outro cara que aparecia era o Arthur, sobrinho de um dos marinheiros. Ele era um negão gordão que ría por qualquer coisa, até das minmhas piadas ele ría! Por isso que ficou meu amigo. Quando ele estava nós brincávamos de desembarque na Normandia. Ora nos éramos os aliados e ora éramos os Alemães. O bom é que sempre vencíamos.

Brincávamos de caça ao tesouro, quase sempre nada. A gente andava, andava, andava, quando cansava pegava uma pedra ou uma concha e "záz" alí estava o nosso tesouro. Bricavamos de MEC (Mergulhadores de Combate) e de COMANF (Comandos Anfíbios). Não tinhamos armas de brinquedo por isso tinhamos que improvisar com alguns galhos. Outro dos amigos era um grandão que não me lembro o nome, mas lembro que começava com "R" (mas não era Ronaldo). Toda vez que íamos escolher o que brincar ele escolhia futebol eu nunca escolhia futebol (eu era gordo- ainda sou- e gordo não gosta muito de correr.) e Nardielo escolhia jogar tembém então eu tinha que jogar bola...

Havia passado tanto tempo alí convivendo com o sol, até então que nem me preocupara de ver o pôr-do-sol. Mas houve um dia que tudo pareceu mudar para mim. Era um sábado e eu estava a caminhar pela praia, como de costume. Embora passemos a semena toda sem a presença dos moradores do continente e com praias tão exclusivas que eu sentia-me livre para andar pelado sem problema algúm, durante os sábados e os domingos os moradores que tivessem sua embarcação e quisessem passar o dia nas ilhas, pois uma das ilhas ao lado, a ilha do Francês, tinha algumas mínimas praias, mais faixas minúsculas de areia pra ser exato. As pessoas vinham em seus barcos com suas "farofas" para dar um bom descanso e um lazer diferenciado a seus familiares. Caminhando eu ia quando me detive na visão que me ofuscou os olhos, ela era loira, tinha olhos claros, pele brancas, seu sorriso pareciam pintura de artista famoso e seus lábios rosados devia ter todo o sabor de um sorvete de morango naquele calor. Ela era magrinha, tinha pernas finas, mãos suaves e sigelas, dedos do tamanho dos meus, porém mais bonitos pois não os roía. Não sei de onde tomei coragem prar ir falar com ela. Lembro-me que fui pensando tanta bestera... "Se ele me mandar p'raquele lugar eu mando ela pra outro, se ele fizer isso eu jogo areia nela..." não sei onde fui arranjar tanta besteira. Muita gente não se lembra o primeiro flerte que deu com uma menina, o primeiro galanteio, o primeiro passo para uma conquista... Bem, eu sou amaldiçoado por me lembrar dessas palavras:

"- Você sabe que tem muita água-viva por aqui?"

E ela respondeu:

"- Sei sim, eu vi quando eu estava vindo pra cá", e continuou, " Você ja foi 'picado' por uma água-viva"...

E foi que no água-viva vai, água-viva vem, nos começamos a nossa conversa. Perguntei-a se conhecia a ilha mas ela disse que não, foi aí que eu me ofereci para mostrar-lhe a ilha à minha maneira. Pedí a sua mãe que só me concedeu tal honra se eu levasse a "pentelha" da sua irmã junto. Para que servem os amigos? Chamei Nardielo, que foi acompanhando-nos nesta empreitada. Quando toquei em suas mãos não consegui mais largar. Levei-a até o lado esquerdo da ilha, onde havia uma "caverna", nada mais que uma pedra encima de duas pedras separadas que podiamos entrar quando a maré estava baixa e que fazia um belo espetáculo de nuvens de espuma quando a arrebentação adentrava na caverna. Haviam pedras furadas que cospiam água do mar para o alto e uma pedra que eu batizei como "A pedra do Apocalipse", o que não tinha nada a ver com as professias do apóstolo cristão e sim com o desenho dos X-Men que passava na TV, pois essa pedra, vista de um determinado lugar parecia o rosto do Apocalipse, um dos vilões do desenho. Foi o melhor dia da minha vida. Levei-na para conhecer o caminho que eu e Nadielo usávamos para andar entre as pessoas e não sermos vistos. Levei-na para ver as árvores frutíferas e comer amoras e vimos um ninho de passarinhos, acho, ainda, que era ninho de Beija-Flôr. Mas sem que eu percebesse o dia foi passando tão docemente ao lado dela que havia chegado a tarde e seu fim era próximo e o de nosso passeio também. Pedi, implorei, supliquei a sua mãe que ficassem mais um dia. Não sei como mas esse pedido foi atendido, nunca, em verdade, consegui entender isso, mas que seja, nunca quis entendê-lo, apenas vivê-lo.

Já de noite, após o jantar, saí em disparada para casa onde ela estava. Chegando lá estava ela, sua irmã e sua mãe. ficamos conversando sobre estudos, colégio, o que ser quando crescer, parecia conversa de gente grande. Não sei se a mãe dela havia saído ou não, mas fiquei muito feliz por estar ao lado dela... Eu só tinha olhos para ela, até que ela pediu que eu lhe pasasse creme em suas costas. Creme em suas costas! Parecia coisa de gente grande, já estava imaginando-nos tranzando loucamente, influência das Playboys que eu encontrei no baú que estava na casa onde eu morava. Pasei-lhe o creme e depois ela propôs que pasasse em mim. Aceitei. Como dizer não para uma meninma tão linda? Depois disso nos reunimos com todos na beira da foqueira para comermos peixe asado na palha da bananeira. Quando ela disse que iria dormir, que estava cansada, olhou pra mim e disse "Boa noite" enquanto abria a boca em um sutil bocejo. Como ação mecânica em poucos minutos também abrí a boca e, mesmo não tendo sono, fui me retirar. O quarto dela facava ao lado do meu, no andar superior, eu só devia andar pelas telhas brazilite e bater na janela. Lhes juro que tentei três vezes caminhar pelas telhas, mas pensei em quão estapafúdia seria a minha desculpa para uma telha quebrada, então fiquei lá na janela, sentado, olhando a luz da lua por detrás das nuvens. Imagino que ela ficou lá, na janela, a esperar-me ansiosa que eu lhe fora como Romeu ou como qualquer príncipe encantado dos sonhos de uma menina. Nesta noite eu fui dormir tarde.

Na manhã seguinte fui desperto por minha mãe dizendo que uma menina já vinhera umas quatro vezes perguntar se eu já havia acordado. Não me preoculpei de tomar café da manhã, escovei os dentes e fui em busca dela. Não fui à casa pois sabia onde ela estava. Caminhei até a praia e lá estava ela como eu a havia conhecido: Bela sob a luz do sol. Tinha consigo, como fiel escudeira, e mala, a sua irmã. Tinha também toda a felicidade do mundo quando me viu e saiu correndo toda molhada para os meus braços. Neste dia nos almoçamos juntos qualquer coisa que não gostávamos e nem percebemos pois só nos bastava fazermos juntos que já nos tinhamos por satisfeitos. Lembro-me de termos escritos nossos nomes na areia, eu não quis fazê-lo, embora ter pensado na possibilidade de escrevê-los dentro de um coração, mas ela assim o fez e isso deu-me mais forças para querer continuar com ela. Neste dia brincamos de X-Men, eu fui o Wolverine e ela a Jean Grey. Para onde fossemos íamos de mãos dadas. não nos largávamos por nada. Na Ilha Havia uma santa e ela tinha uma capelinha encrustada nas rochas que davam acesso a outra praia, quando nos detemos de frente à santa ela me explicou que a santa, Nossa Senhora de Macaé, havia sido encontrada por pescadores qua a levaram para o continente e a puseram em uma igreja e quando foi no outro dia ela já não estava mais lá. Depois a pescaram de novo e a levaram para o mesmo local e o feito do desaparecimento dela tornou a se repetir, até que a deixaram alí, onde eu estava presenciando-a, e dalí nunca mais ela sumiu. Ouvi descrente, mas com atenção pois não deixava de ser uma boa história. Quando a tarde foi caindo ela e eu, juntamente com seu pai, fomos ver o pôr-do-sol. Jamais eu o havia visto se pôr tão majestosamente. Jamais eu havia visto um pôr-do-sol... Este seria o meu primeiro. Estavamos nos dois, de mãos dadas, meus braços sobre seus ombros, ela com uma camisa do pai, pois depois que houveramos nos encontrado naquela manhã ela não deu atenção ao mar, somente a mim. Usava um boné meu, dos tantos que eu tinha, e seu nariz ainda estava branco com o protetor solar. Eu estava de sunga e de camiseta, traje oportuno para a ocasião, evidente?!?!?!

Depois disso já vi muitos pôres-do-sol mas nenhum deles se comparou ao meu primeiro. Acho que é verdade o que dizem: "A primeira vez a gente nunca esquece." Quando voltamos caminhando, atrás de nós havia uma aquarela de cores quentes e frias pintando o céu descrevendo à natureza que este pôr-do-sol havia sido somente para nós dois e para mais niguém.

Quando caiu a noite, depois de havermos jantado brevemente em nossas casas sentamos-nos no balanço e nos balaçamos como se fossemos alçar vôo. Nossos risos podiam ser ouvidos por toda a ilha que até o passoal do Lost se assustaria com tantas gargalhadas... Era ela rindo das minhas piadas (na verdade eu contava piadas melhor do que conto hoje.), Brincamos de casinha ( Homem também brinca de casinha sim! Brinca sim!!!!!), na verdade brincamos de Acampamento, duas cadeiras e uma manta. Tinhamos vela e outras bulgigangas para parecer real. Foi um fim de semana inesquecível pra mim.

Era manhã de segunda, eles eram os únicos que haviam ficado na ilha, embora não fosse permitido pernoitar na ilha sem prévia autorização. Seu pai me havia dito que iriam partir após o almoço. Por mais que eu não quisesse pensar sobre, a ida dela, o fim de nossos bons momentos juntos era iminente. Paseamos lentamente por toda a faixa de areia em busca de nossos nomes que haviamos escrito e não os encontramos, as águas haviam apagado-os, Como Wolverine e Jean o destino ocupava-se de nos separar por puro capricho. Passei o tempo que pude ao lado dela e quando ela foi-se fiz-me de forte. Seu pai havia prometido voltar em breve. Não lembro se Dissemos "adeus" ou 'Até mais", acho que não falamos nada... Apenas nos calamos. Ela embarcou e lentamente o barco foi-se no mar em direção ao continente. Sentei-me ao lado da bandeira, na soleira do mastro onde ela tremulava e fiquei chorando e olhando o barco tornar-se apenas um ponto rabiscado no horizonte. A bandeira parou de tremular, o sol esmoeceu, o vento cessou, o céu se fechou... Apenas o mar denunciava a sua alegria com minha tristeza. Ciumento como é, por ela não ter-lhe dado atenção depois que houvera-me conhecido, fez de tudo para nos separar." O mar dá, o mar tira.", pensei comigo mesmo enquanto provava, pela primeira vez, em meu rosto o sabor do mar escorrendo-me dos olhos. "Maldito mar! Maldito seja!", mal-disse o mar.

Durante todo o meu tempo de permanência na ilha, depois de haver conhecido-a, todo o sábado e domingo eu pagava o binóculos e subia em cima da casa, encima da telha brazilite, pois na semana anterior um dos militares, o Cosme, o único que não bebia e que fazia todas as fainas mais "perigosas", acordou-me dizendo, "acorda Cinderela! O sol ja raiou...", e ficava observando o trânsito dos barcos do continente para as ilhas em busca de um barco apenas, o AfricaBrasil ou Africa Br, hoje já não lembro mais... Um dia eu o vi indo para a ilha do Francês, prontamente eu arranjei carona para cruzar o pequeno canal que separava uma ilha da outra em uma lancha de um conhecido dos militares que já serviam na ilha, mas não a encontrei. Esta foi a última vez que tive contato com tal embarcação. Nunca mais eu a ví. Minha última esperança era de que a foto que haviamos tirado na minha velha máquina fotográfica fosse revelada, assim eu teria para sempre uma recordação de que tudo aquilo houvera sido real em meio a tantas fantasias que criamos quando temos dez ou onze anos, mas desafortunadamente as fotos haviam se queimado e sendo assim as únicas lembrança que eu tinha dela estavam comigo, em minha memória. E hoje, prevendo a velhice, o corre-corre do dia-a-dia, resigno-me nesta madrugada a escrever desta coisas que fizeram parte da minha vida. A ilha, os amigos, ela e tudo o que vivi. Tudo isso carregarei comigo com grande apreço, mas sei que minha memória já não será mais a mesma, então acho pruente escrever tudo o que eu puder escrever enquanto eu puder escrever. O mais interessante de tudo é que quando eu contei essa história para algumas pessoas elas sempre me questionaram acerca de uma coisa:

"- Tu nunca a beijastes?"

E eu sempre lhes respondi:

"- Eu não conhecia o valor de um beijo..."

Luis Carlos Wolfgang
Enviado por Luis Carlos Wolfgang em 04/02/2007
Reeditado em 08/02/2007
Código do texto: T368970