O MENINO DA CANOA

Um grito cortava a fria noite de inverno em uma cidade interiorana do estado do Paraná, era uma mulher dando a luz ao seu primogênito. O marido que estava a seu lado naquele momento tão emocionante, segurava a sua mão dando-lhe força. E ela precisava de muita. Depois de alguns minutos eis que aconteceu o milagre da vida. Nasceu Eduardo, uma criança muito linda, nasceu saudável. Um êxtase de alegria tomou conta da maternidade improvisada na humilde casa daquela família. O pai e a mãe da criança não continham as lágrimas, elas escorriam incontrolavelmente por sobre os rostos emocionados dos dois.

Com o passar dos dias essa alegria foi diminuindo, o pai já não agüentava mais o choro da criança, que varava as madrugadas, importunando-o em seu sono, já não conseguia mais dormir. “Maldita criança!” – pensava.

Em uma noite, já não agüentando mais aquele importuno, teve uma idéia assombrosa. O pai carrasco, pegou seu filho enquanto a mãe dormia e colocou-a em uma canoa. Gravou o nome da criança nessa embarcação improvisada e soltou-a correnteza abaixo.

Depois de algum tempo a canoa encostou na margem de um recife. Francisco, um pescador que pescava para o sustento da família, ouviu um choro descontrolado de uma criança, não sabendo ao certo se sonhava ou não, resolveu ir ver do que se tratava. Tomou um tremendo susto ao deparar-se com aquela criaturinha indefesa chorando. O pescador não sabia ao certo o que fazer, mas depois de muito pensar e com pena do bebê resolveu levá-lo para a casa onde vivia com sua esposa Maria, com quem não tinha nenhum filho. Levou também a canoa que tinha o nome Eduardo gravado em seu interior.

Francisco e Maria aceitaram e criaram a criança como se fosse filho de sangue. Amor e carinho nunca faltaram naquela humilde família. Eduardo foi crescendo, seus pais adotivos nunca esconderam dela a história de seu aparecimento nas águas do rio, e como o acharam em uma canoa.

Depois de alguns anos, Eduardo formou-se em direito por uma universidade que era excelência em ensino. Abriu um escritório de advocacia na sua cidade natal, que já não era tão pequena. Era um advogado muito renomado, seu nome ecoava por entre os principais figurões do estado. Em seu escritório estava a canoa, para Eduardo ela era um a peça preciosissima.

Certo dia em seu escritório entrou um senhor já idoso, aparentando ser muito simples. Ao ver a canoa com o nome de Eduardo gravado, esse homem foi tomado por uma emoção inexplicável. Caiu de joelhos frente a Eduardo, chorando e pedindo-lhe perdão. A emoção era tanta, que o velho não conseguia se conter, abraço-o com toda sua força, dizendo:

- Eu peço perdão, você é o meu filho... menino da canoa. Eu sou seu pai, que um dia te entregou às águas de um rio. Estou muito arrependido do que fiz... perdoa-me meu filho...

Dizendo isso, o velho de joelhos apertou a mão de Eduardo e de remorsos, muito arrependido fechou seus olhos e foi caindo por terra, tinha um misto de alegria e frustração em seu semblante, pois encontrara o filho que um dia tinha abandonado, e isso o tinha assombrado por sua vida inteira. Infeliz vida, que naquele momento tinha acabado.

*texto inspirado na musica "o menino da canoa"