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O AMOR NÃO TEM COR
Lá pras bandas de Minas gerais, a poucos quilômetros da divisa com a Bahia,existiu uma fazenda bem estruturada e desenvolvida pra aquela época. Seus donos naquele tempo era um senhor descendente de alemão , de nome Leôncio, e sua esposa chamava-se Filomena.Não se sabe ao certo qual foi a data que o casal chegara ali nem como haviam tomado posse da fazenda. Famosas lendas falam que os seus tataravós tinham vindo  da Alemanha de navio, chegando ao Brasil, aqui em Minas  Gerais, vieram junto com tropas e acamparam-se ali, tornando-se senhor de engenho  naquela região . Então aquela enorme vastidão de terras foi  passando de geração em geração até a fazenda cair nas mãos do senhor Leôncio.
Era este homem temente por seu gênio bravo e sua valentia. Vivia armado com a sua carabina , nunca se separava dela.Suas terras eram localizadas num lugar ermo, distante e difícil acesso.Mas com ajuda de cavalos, mulas, carroças, iam conseguindo desbravar aquelas matas e sertões. Pouco a pouco ia também se desenvolvendo um pequeno lugarejo  poucos quilômetros daquele lugar. Quando fiquei sabendo dessa estória me lembrei da obra” o cortiço “ Grandes sertões veredas” e me interessei muito e agora reescrevo por gostar muito desse estilo literário. Voltando ao Senhor Leôncio foi lhe por bem conhecer a senhorita Filomena e casar-se com ela. O coronelismo era arraigado e imperava naquele lugar. O homem era mesmo muito valentão. Mas também muito trabalhador. Aos poucos foi crescendo a quantidade de gado bovino, eqüino,caprino,ovino, as plantações eram variadas: café, arroz, cana –de –açúcar, além dos pomares , hortas, e  outras variedades de  atividade agrícola. Chegou até a fundar uma fábrica que  fazia tecidos que era transportado para outras cidades.
Mas o problema  que como senhor de engenho que ele era , tinha na sua fazenda, como era característica naquela época, senzala que abrigava vários escravos. Ali ainda existia escravidão dos negros.E como quase todos os senhores de engenho aplicava técnicas brutas e revoltantes para que os escravos produzissem cada vez mais. A sua crueldade durou várias décadas, nesse meio tempo, sua esposa  engravidou seis vezes, nasceram  um menino e cinco meninas. Com o tempo foram crescendo e se tornando adultos. Destacava-se no meio dos seus filhos uma menina de nome Fenícia que logo foi-se apegando às práticas do pai, aprendendo a montar, ajudar nos negócios da fazenda, se interessar pelos escravos inteirando-se assim do andamento das finanças do seu pai. Com o tempo  e com o trabalho intenso aquela fazenda tornou-se magnífica.  Os caminhos para outras cidades já tinham-se abertos, a comercialização dos produtos também já era intenso, até já praticava a exportação de vários produtos e matérias- prima como algodão, café, etc. A riqueza daquelas terras banhadas por um imenso rio que regava toda a fazenda, nascentes, cachoeiras com belíssimas quedas d’água, terra fértil,ar fresco tudo auxiliava para a extensão e crescimento daquele rico fazendeiro. Mas certa feita , houve um imprevisto, a sua esposa falecera. Ele já estava com seus sessenta e poucos anos, mas a vida da fazenda não mudava. Tudo continuava na mesma. De seus filhos , uma de nome Selena, veio estudar numa cidade mais evoluída, outra que de nome Marina se casara e pouco tempo depois faleceu pois o seu marido suicidou-se,e então, com forte depressão faleceu esta sua filha deixando três netos. Outra de suas filhas, de nome Florisbela, casou-se e foi morar em outro Estado, o seu  único filho também  casou-se com uma turca e foram morar em outra cidade.Fenícia era uma das mais novas  e ainda não havia chegado o tempo de se casar. Mas como existe essas coisas, essa moça herdou o gênio do seu pai. Conta-se que certa vez, ela chegou a dar ordens de um negro de nome José ser amarrado num tronco bem grosso, bem amarrado mesmo, nu, e a sinhazinha de posse de um chicote , num ímpeto de furor chicoteou o mesmo dezenas de vezes com todas as forças que tinha nos seus braços, e quando já não agüentava mais, ordenou que o soltasse , e o negro, pulando de dor e sangue escorrendo do seu corpo nu, emaranhou-se pulando e correndo, dentro da mata fechada que circulava em volta da fazenda, e que até hoje nunca mais foi visto. Fugiu para lugares que nunca foi encontrado. Depois desse episódio, Fenícia apaixonou-se por um belo rapaz, lavrador, amante da terra, houve negativas do seu pai , mas ela prometeu até de fugir se o pai não a deixasse casar com Artros.  O pai então resolveu fazer o casamento , e dessa união chegou uma época que já tinham cinco filhos. Mas olhem bem o que aconteceu até chegar nesse ponto da história. O senhor Leôncio, logo após a morte de sua bondosa esposa Filomena, encantou-se com uma jovem de quatorze anos e com ela contraiu  núpcias, mesmo sem ela quere, mas  o pai a forçou por que o velho era rico e poderia lhe dar tudo que quisesse. Dessa união fatídica Foi concebida três filhos, um menino de nome José, duas meninas, Helena e Heloísa.  Mas a distinta e novíssima senhora se apaixonou por um homem mais novo e já estava vivendo essa paixão quando o Senhor de engenho adoeceu. Teve complicações  na sua vesícula, e logo acamou-se com infecção generalizada , só que eles nem sabiam o que era isso, vindo a falecer. A sua segunda esposa,Isaura, de posse da parte que lhe tocava foi viver sua vida com seu amante e  concebeu mais filhos, mas isso já é outra história.
Voltando aos relatos da senhora fenícia, casada com Artros, sentindo que a produção da fazenda já estava bem baixa e que a mesma estava quase a falência, arribaram as trouxas, alugaram um velho caminhão , colocaram as tralhas dentro do mesmo e vieram de muda para as bandas de cá, no interior Minas. Nesta pequena cidade onde vieram tiveram mais cinco filhos, ao todo foram dez ,cinco meninos e cinco meninas. Sei que os respeitosos leitores estão curiosos em saber o final da história não é mesmo?  Aconteceu que a última filha do casal Leôncio e Filomena que se chama Juliet, que é a que está viva até hoje, apaixonou-se por um negro um dos netos dos  negros que ali ainda restaram, descobriram ali mesmo nas margens do rio , debaixo das frondosas árvores, nos encontros noturnos com o perfume das azaléias ,lírios e damas da noite, ao som do gorjeio de variedades de pássaros existentes nos ninhos das frondosas árvores, centenárias, ao lado daquelas enormes janelas de madeira azul, nos corredores daquele imenso casarão de portas  azuis tão grandes que cabiam dois homens em pé,foi assim debaixo e perto de tantas testemunhas que descobriram o amor que unia a linda Juliet e o negro Romão. Conta-se que durante mais de sessenta anos eles foram muitos felizes, Juliet deu carta de alforria a todos os negros, crianças, adultos, velhos, estabeleceram novas regras de trabalho,fizeram melhorias para os empregados , com esse trabalho a fazenda voltou a produzir por muitos anos.  As pessoas que ainda residem por lá relatam que Romão morreu  há pouco tempo e que sua morte foi sentida por todos da região. Juliet hoje já está com noventa anos mas os seus filhos, netos e bisnetos sentam-se ao redor dela, para  lhes conte a história da sua vida, lembranças do seu passado. Os moradores mais antigos contam que o assunto na beira do rio entre as lavadeiras , nos cavaleiros que passam a noite pela redondeza, nas rodas de viola,na beira dos caminhos é que o fantasma do Senhor Leôncio aparece todas as noites na Fábrica de tecido, e que ouve-se o barulho de suas botas de cano longo, o ecoar do chicote no lombo dos negros , e o que é mais lamentável, o gemer dos fantasmas dos negros como zumbis que passam voando  nas noites de lua cheia, e que os moradores ficam amedrontados com toda a narração de mais uma história em que o amor venceu o ódio,só ficando as lembranças do passado.

margarethrafael
Enviado por margarethrafael em 19/05/2012
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