Mariama.

1“O sorriso dela brincava na face tosca das mulheres dos colonos, escorria pelo verniz dos móveis, desprendia-se das paredes alvas do casarão”. Tudo em sua volta cheirava um pouco de alecrim do mato com alfazema, perto dela as coisas adquiriam um colorido fascinante e poder-se-ia, sentir o frescor da gruta, onde nascia a água pura e cristalina, que seguia sinuosamente por varas abertas de bambu até a porta da cozinha da casa. Sua voz suave e terna fazia lembrar cantigas para ninar crianças. Vinha dela um magnetismo, que nos envolvia e seduzia.

Assim era Mariama, uma linda mulher que morava naquele casarão branco avarandado de dois pavimentos, que se destacava naquela estrada poeirenta, que se ligava a estrada férrea para a capital. Poder-se-ia ver uma longa escada de madeira, que terminava no fim da varanda, em seu corrimão pendentes vasos a enfeita-lo, todos com suas flores silvestres que inspiravam uma tela de pintor com a figura de Mariama debruçada na varanda, com sua longa cabeleira caída sobre os ombros que balançava com o vento de Maio, tudo aquilo nos envolvia com graça e emoção.

Com sua voz inimitável estava sempre a cantarolar canções românticas, que falavam de amores perdidos e desilusões amorosas, que contradizia com seu semblante leve e alegre com aqueles olhos negros e brilhantes como as estrelas naquele lugar de noites estreladas. Sabedora da admiração ela sempre esboçava um sorriso provocante aos passantes daquela estrada. Mariama era a figura fugida de uma tela de pintor renascentista.

Hoje quem passa pelo casarão ainda se vê uma fumaça, a escada sem flores, apenas uns gatos espreguiçadores pelas escadas e varanda. Por certo não mais verá Mariama, que numa manhã, de posse de duas malas, colocou seus delicados pés na estrada poeirenta e num trem de ferro foi morar na capital, sequer lançou um olhar para trás, para que nada lhe fizesse recordar os olhares apaixonados, que por ali ficaram perdidos e fixos naquela parada de trem.

• 1-Citação de Murilo Rubião em a Flor de vidro.

Toninho

Toninhobira
Enviado por Toninhobira em 19/05/2012
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