DESTINO CARMA OU MALDIÇÃO?
PARTE I
Imagine uma pessoa alegre. Era Vanda, minha irmã, disse Leidinha. Ela era tão contagiante de alegria, que vivia rodeada de amigos e amigas que adoravam estar com ela.
Nas festas que aconteciam nas vizinhanças, ela era a mais divertida de todas, não deixava ninguém parado, muito menos triste.
Morávamos no interior com nossos pais, e para as festas éramos sempre convidadas. Ao sairmos de casa, papai recomendava: - Vanda, comporte-se direitinho por ai, minha filha, veja lá o que você vai aprontar! Ela ria e beijava o pai dizendo: - não se preocupe velho, que a alegria da festa está a caminho...assim ela conseguia fazer a família toda sorrir e concordar com ela.
Com 13 anos já aparentava fisicamente uma moça de 16 anos; por ser tão extrovertida, era muito cortejada pelos rapazes, mas levava tudo na brincadeira, era uma criança!
Aconteceu que um dia chegou um rapaz lá em casa, e lhe pediu um copo d’água, ele morava na redondeza. Ela pediu para ele entrar, e foi buscar a água, depois conversaram animadamente; a partir daí, ele sempre ia visitá-la. Ela dizia que eram apenas amigos. Mas ele dizia que estava apaixonado por ela. Depois de alguns meses, ela aceitou namora-lo. Pouco tempo depois, ele precisou ir trabalhar em uma cidade vizinha, e apenas algumas vezes ele vinha lhe visitar. Ela continuou com sua alegria contagiante e parecia não sentir sua falta, falava que gostava muito dele, mas a vida não podia parar por não estarem sempre juntos.
Um certo dia, a mãe de Alan, namorado de Vanda, chegou lá em casa com uma carta para ela. Na carta Alan lhe convidava para passar um final de semana com ele na casa de sua mãe, na cidade que ele estava trabalhando. Com sua alegria de sempre, Vanda falou ao papai e a mamãe que estava indo com dona Helena, visitar seu namorado em Guajará Mirim. Os velhos não gostaram muito da ideia, mas ela os convenceu e foi.
Ao chegar lá, foi surpreendida pelo pedido de casamento de Alan, o qual já havia comprado as alianças e só estava aguardando a oportunidade de fazer o pedido. Sem pensar muito, que era próprio dela, Vanda aceitou. Na semana seguinte, meus pais receberam uma carta de Vanda informando que iria se casar, e o casamento já seria no final do mês. Pediu para que mandássemos suas roupas, que ela já iria ficar morando lá. Todos ficaram surpresos com o comunicado, porém, conhecendo Vanda todos sabiam que quando decidia alguma coisa, ia até o fim, não se importava com as consequências. Meus pais respeitaram sua decisão, até porque Alan era um bom rapaz e papai conhecia sua família.
Alan trabalhava em um garimpo, e dois dias antes do dia marcado para o casamento, teve um tiroteio nesse garimpo e Alan foi atingido com um tiro no abdome. Levaram-lhe imediatamente para o hospital de Porto Velho. Um amigo de Alan foi avisar sua mãe do acontecido, isso aconteceu em uma quinta–feira, e o casamento seria sábado. Vanda ao tomar conhecimento do fato, viajou para Porto Velho, chegando foi direto para o hospital e permaneceu com ele. Enquanto isso, sem saber de nada, mamãe viajou para Guajará, para assistir o casamento de Vanda. Ao chegar na casa de Dona Helena, na sexta-feira, foi surpreendida com a triste notícia. No sábado pela manhã souberam que Alan não havia resistido o ferimento e faleceu.
Vanda não voltou mais para Guajará. Quando mamãe chegou, ela já estava novamente em casa. Um pouco triste e abatida, mas estava bem.
Mamãe falou: - você é novinha minha filha, vai encontrar outra pessoa. Deus sabe o que faz.
PARTE II
Ao término de dois meses da morte de Alan, Lico irmão mais novo de Alan, apareceu lá em casa, levando as roupas de Vanda que haviam ficado na casa de dona Helena. O mesmo pediu do meu pai para passar uns dias lá em casa. Papai, mesmo não querendo, deixou com receio de magoar Vanda, que parecia gostar muito dele. Papai não gostava muito do jeito dele, era todo malandrão e bebei muito bebida alcoólica. Lico passou um bom tempo lá em casa, nesse período tornou-se muito amigo de Vanda. Quando ele foi embora, Vanda contou que Lico perguntou se ela se casaria com ele, pois ele estava apaixonado por ela. Ela disse que iria pensar. Depois de cinco meses da morte de Alan, Vanda comunica a Família que vai morar com o Lico em Guajará. Meu pai ficou furioso, disse que não concordaria. Lico não trabalhava, bebia demais e não tinha condição de ter uma mulher. Mamãe chorou, e disse que se ela fosse não podia contar com ela mais para nada. Mas Vanda, mesmo dividida entre os pais e Lico, decidiu por morar com ele, contra a vontade de todos.
Lico arrumou um emprego em uma madeireira, alugou um pequeno quarto onde foi morar com Vanda. Lico era muito ciumento, e em pouco tempo que estavam juntos ele a proibiu de sair de casa. Ela vivia presa no quartinho onde morava. Seus bens eram apenas uma cama de casal com um colchão de segunda mão, um fogão de duas bocas e alguns utensílios de cozinha. Lico passava o dia fora, chegava tarde da noite e muito bêbado. Quando ela reclamava, ele a batia e xingava com palavrões. Ela apenas chorava. Ele ameaçava-lhe, caso contasse para alguém, o que acontecia entre eles, ele a mataria. Seis meses depois, Vanda descobriu que estava grávida. Quando contou a Lico, ele irritou-se disse que ela iria criar o filho sozinha, pois não havia mandado engravidar. Daí pra frente, foi pior. Lico passava de dois dias fora de casa. Vanda passava fome. Dona Helena, mãe de Lico, as vezes ia lhe visitar. Mas Vanda não contava nada para ela com medo das ameaças do marido. Quando Vanda estava no terceiro mês de grávida, mamãe escreveu para dona Helena pedindo para ela trazer Vanda para a festa do meu casamento. Dona Helena, falou com Lico e Vanda da carta. Lico disse a Vanda que iriam ao casamento, mas se ele percebesse que ela havia contado qualquer coisa para a família dela, ele iria mata-la de pancada. Vanda concordou e foi ao meu casamento.
Quando vimos Vanda, ninguém acreditou que era ela mesma. Magra, pálida e um vestido tão surrado de dá dó. Suas amigas estavam todas lá em casa esperando por ela. Vanda baixou a cabeça e disse: - oi meninas, não voltei pra ficar. Entrou para o quarto e de lá não saiu mais até o outro dia. Deitou em uma rede, contou da sua gravidez, disse que não estava bem e preferia ficar deitada a ir a festa. Papai e mamãe foram conversar com ela. Ela disse que estava bem, talvez por causa da gravidez, ela emagreceu tanto. E não se sentia bem. Lico sempre estava por perto, para ouvir a conversa, com quem quer que fosse. Ele sempre dizia: - Vandinha mudou muito, não gosta mais de sair, não é meu amor? Está sempre em casa. Quando a chamo para sair, sempre inventa uma desculpa, não é mesmo princesa? Vanda apenas confirmava com um gesto de cabeça. Durante a festa Vanda não saiu do quarto, e evitou conversar com seus irmãos e amigas. No outro dia após o casamento, eles retornaram a Guajará Mirim.
Mamãe e Papai desconfiaram que alguma coisa de ruim estivesse acontecendo com Vanda. Passaram-se cinco meses, sem nem mais uma notícia de minha irmã. Mamãe falou; - vou buscar minha filha, sei que ela não está bem. Papai providenciou passagem e dinheiro para comprar roupinhas para o bebê de Vanda, e lá foi mamãe. Encontrou sua filha em quartinho, com um colchão e um fogão de duas bocas. Vandinha não tinha nem roupa. Ao avistar mamãe Vanda caiu em prantos, mamãe chorou ao vê-la tão maltratada, com um vestido todo remendado. Ela havia cortado dois vestidos velhos e feito um para se vestir, pois a barriga estava muito grande e os dois vestidos que tinha não serviam mais nela. Ao entrar no pequeno quarto em que morava, mamãe ficou indignada com o que viu. Vanda cozinhava em um fogo de álcool colocado em uma lada de goiabada vazia. Sem condição de conversar mais alguma coisa, mamãe foi dizendo: - Filha, vim te buscar, queres ir comigo? Vanda calou por um instante, e disse: - Quero, mas preciso avisa Lico. Mamãe respondeu: - vou até a casa do compadre Manoel, daqui a uma hora você me encontra lá. Alguns minutos depois Lico chegou, como sempre, embriagado. Vanda informou que sua mãe estava na cidade e queria falar com eles dois lá na casa do seu Manoel. Irritado ele diz: - Vá você, eu não vou falar com ela; e volte imediatamente. Vanda foi se encontrar com sua mãe dizendo que Lico falou para ela voltar logo, por isso não tinha tempo para conversar. Mamãe não deixou mais minha irmã voltar, e foi falar com Lico. Disse que estava levando Vanda com ela e que ele nem pensasse em ir buscá-la, pois iria se arrepender de ter nascido. Mamãe contou que ele balançou a cabeça afirmativamente e disse baixinho: é, a filha é sua pode levar.
FINAL
Todos nós cuidamos de Vanda, quando sua filha nasceu demos o nome de Vitória. e aos poucos minha irmã foi recuperando sua vontade de viver, estava mais alegre, já conversava com outras pessoas; com o passar do tempo ela contou todo seu sofrimento ao lado de Lico, dizendo o quanto tinha se arrependido de ter ficado com ele.
Lico tentou várias vezes falar com Vanda e ver sua filha, mas ela sempre se recusou. Depois de dois anos Lico morreu de malária, sem nunca ter visto a filha.
Depois da morte de Lico, Vanda se envolveu com o irmão do meu marido, e desse relacionamento nasceu Rogério. Não dando certo seu caso amoroso com meu cunhado, ela conheceu Samuel, um rapaz meio louco como ela; gostava da noitada, juntos se embriagavam, levavam um vida sem regras; foram morar juntos e dessa união nasceu os gêmeos Pedro e João, e ainda o caçula Luiz André.
Rogério seu segundo filho, era um rapaz trabalhador e ajuizado, aconselhava a mãe a pensar nas suas atitudes irresponsáveis. Rogério faleceu aos l9 anos, estava trabalhando cavando poço, aconteceu o acidente, areia desmoronou e o mesmo foi soterrado. Vanda sofreu muito com a perda do filho. Pouco tempo depois foi descoberto que sua filha Vitória tinha câncer no seio, e como já estava bem avançado não teve jeito, ela faleceu um ano depois da morte do irmão. Luiz André se envolveu com droga, ficou doido, fugiu de cada e nunca mais Vanda o encontrou. Pedro e João foram presos por tráfico de droga.
Vanda morreu aos 39 anos num acidente de moto, estava vindo de uma casa de forró com o marido, ambos embriagados, chocaram-se na
trazeira de um caminhão que estava parado num semáforo. Vanda faleceu e o marido sobreviveu, mas enlouqueceu.
O que foi isso? DESTINO, CARMA OU MALDIÇÃO?