Um saber robótico

Mais uma manhã quente no litoral, e o mar ainda estar lá, mas faz tempo que não o vejo. Afastei-me dele, pois enquanto o vento passava e a linha do horizonte se mostrava, eu percebi que de nada sabia. Minhas certezas e verdades absolutas haviam se escondido. Meus questionamentos fantasiosos florescem em uma velocidade espantosa é difícil conte-los.

Deve ser falha na programação...

Uma vez que fui programada pra achar que “sei” e fingir que sinto. Obedecer todas as regras e pedir sempre perdão. Mesmo quando não á erro nenhum em minhas ações. Lembrando-me sempre que abaixar a cabeça e virar a outra fase é parte do protocolo.

Todas as informações gravadas minuciosamente na minha memória. Preciso saber e não posso esquecer: que as mulheres são inferiores, as bruxas devem morrer, homossexualismo é sacrilégio, garotas não podem beber, e tanto religião quanto política são indiscutíveis. Necessito de todos os conceitos mastigados, sendo alimentada de “saber” como um filhote de passarinho.

Há quem me diga que não tenho senso critico, porque repito esses conceitos idosos como mantras. Mas o mesmo que me repreende tem um senso critico fingido que faz questão de exibir e também não passa de mera repetição.

Não me culpo nem os culpo, já que desde sempre cada “não” e “muito bem”, os gritos e aplausos, são comandos disfarçados tudo sendo gravado sem que percebamos. Depois de anos seguindo todas as ordens vejo que até meus sonhos são frios e nunca foram meus de fato.

Ainda me dizem que sou de carne e osso, mas aí está uma coisa que preciso rebater. Eu sei que aqui não bate coração algum. Essa é uma coisa para qual não vou me curvar, pois até onde sei não dei a ninguém o direito de me definir.

***

Ao verem um dos robôs que tiveram tanto trabalho para criar, e todo o tempo que levaram pra instalar o programa de inteligência artificial. Um desses robôs criado e programado para saber sem pensar, estava se movimentando estranhamente. De alguma forma se desenvolvera nesse sistema anomalias revoltosas e inconsistentes. Se perguntaram “Para que ele desejaria enxergar a realidade?”. Então vários programadores se juntaram e após apertarem nos botões certos e recuperar as áreas danificadas ele fora neutralizado. E voltou a admirar o mar com plena certeza da ordem das coisas sem fantasias nem questionamentos.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 16/05/2012
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