Uma família sem pátria
“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa dos infelizes? Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”
Resposta de um emigrante anônimo, ao então Primeiro Ministro Camilo Benzo, o Conde de Cavour, quando argumentava com um grupo deles, sobre o abandono da Pátria, para aventurarem-se em terras desconhecidas.
A Itália foi o palco de confrontos violentos entre diversos feudos, tendo de um lado os unificadores nas figuras de Benzo de Cavour, Giuseppe Mazine e Giuseppe Garibaldi. Esse trio, unido, tinham argumentos muito convincentes da necessidade de unificação da Itália.
As guerras, destruíram vilas inteiras, deixando muitos italianos ao relento, assim como causando uma enorme devastação nas lavouras e como toda guerra só traz destruição e a destruição, por si, a necessidade de reconstrução, pobreza, fome e toda sorte de dificuldade de organização de um Estado em frangalhos, tentando se erguer das cinzas das batalhas. Unir aquele povo não foi uma tarefa fácil. Tanto que grande maioria, sentiu-se em um país estranho, sem um ideal que compreendessem para arriscarem a sorte em terras desconhecidas, de onde só tinham notícias e muitas até fantasiosas. Diziam que na América o ouro brotava no chão. Realidade muito diferente da que encontraram aqui, quando chegaram após enfrentar uma viagem que era uma verdadeira batalha a favor da sobrevivência, dentro de navios adaptados e com número de passageiros muito superior ao suportado. A falta de comida e medicamentos, causou a morte de centenas deles que tiveram seus túmulos no oceano Atlântico, separando-se definitivamente de seus familiares, interrompendo sonhos alimentados por anos em terras de Itália.
A emigração italiana para o Brasil intensificou-se entre os anos de 1880 e 1930. Tendo se concentrado no estado de São Paulo, onde havia grande necessidade de mão de obra para as lavouras de café e a falta de mão de obra nas indústrias que se instalava no Estado. Mesmo preferindo os Estados Unidos, os imigrantes tiveram que optar por outros países, pois as barreiras impostas à imigração dificultava a entrada destes no país americano. Outros estados brasileiros, como Minas Gerais, Espírito Santo, toda a região sul, também receberam grande parte desses imigrantes. Entre as causas já citadas, destaca-se a transformação socioeconômica no norte da península itálica que não reconheciam a propriedade da terra, devido as guerras de unificação, o que reforçou a intenção dos italianos em abandonarem a Itália em busca de um futuro mais promissor em outras terras.
Ao chegarem ao Brasil, não encontravam nada diferente. Eram hospedarias, contagem, recontagem, entrevistas, exames pouca comida e acomodações inadequadas. Ali permaneciam confinados até a transferência para outras hospedarias até que encontravam um fazendeiro que escolhia, entre os mais fortes alguns deles para trabalharem em suas terras.
Aqueles que não encontravam quem os contratassem, ficavam dias aguardando, nas hospedarias, até que desistiam e procuravam algum serviço por conta própria.
Alguns imigrantes, chegados ao Brasil pelo porto do Rio de Janeiro, eram, inicialmente confinados na hospedaria Ilha das Flores, no litoral fluminense e mais tarde transferidos de trem para o interior de Minas, com destino à cidade de Juiz de Fora MG, onde, novamente se aglomeravam em outra hospedaria, a hospedaria Horta Barbosa, que ficou famosa e hoje abriga o segundo Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais.
Alguns imigrantes não tinham nenhuma experiência em qualquer tipo de trabalho a não ser o braçal e só serviam para as lavouras de café existentes em algumas propriedades da região próxima a Juiz de Fora. Ficavam à mercê da ganância dos fazendeiros que tentavam substituir a mão de obra escrava pela dos imigrantes e como tal procuravam tratá-los, tanto que os escolhia pela robustez, muitas vezes prejudicadas pela falta de condições de vida que se enquadrassem dentro das mínimas condições de normalidade, para conservar com saúde e disposição aqueles trabalhadores. Aqueles que se encontravam já debilitados pelos maus tratos, não tinham a sorte de definirem suas situações e ficavam perambulando pela cidade em busca de alguns afazeres.
Alguns outros, chamados de artífices, aqueles que conheciam uma profissão, como barbeiros, alfaiates, sapateiros, trabalhadores da construção civil, no comércio e os ferreiros que conheciam a arte de trabalhar com a transformação do ferro em ferramentas e outros utensílios tão necessários, os quais eram importados da Inglaterra.
Assim abandonavam a hospedaria e procuravam uma forma de sobreviverem por conta própria enfrentando uma série de inconvenientes, como o desconhecimento da região, a luta contra o preconceito, a dificuldade com a língua e ainda o ciúme dos brasileiros que os tinham como concorrentes em suas profissões.
Isso proporcionou a disseminação dos italianos por uma região que abrangia uma enorme distância de Juiz de Fora, sempre buscando uma cidade onde não houvessem a concorrência e fossem melhor recebidos.
Chegaram ao Brasil em junho de 1896, no porto do Rio de Janeiro. Apos o registro na Ilha das Flores, foram embarcados para Juiz de Fora, onde deram entrada na Hospedaria Horta Barbosa em 19 de junho de 1896. De lá foram como contratados, para uma fazenda em Guarará, Bicas.
Consta que a família Ambrosio, chegou ao Brasil em junho de 1996 no porto do Rio de Janeiro e após o registro na hospedaria da Ilha das Flores, foram embarcados para Juiz de Fora onde deram entrada na hospedaria Horta Barbosa em 19 de junho de 1896, De lá foram contratados para uma fazenda em Guarará, Bicas. A família logo se dividiu, parte partindo para o interior e alguns permanecendo na Manchester Mineira – como era conhecida Juiz de Fora naquela época – procurando trabalhar como construtores sapateiros e outras profissões que lhes garantia o sustento da família e a sua fixação definitiva na nova terra.
Mas as necessidades de se ajudarem mutuamente, obrigou-os a organizarem-se em associações e grupos que procuravam orientar os mais recentes, transmitindo a estes conhecimentos e encaminhando-os para uma atividade adequada à sua aptidão ou experiência. Assim surgiu a Associação Italo Brasileira, San Francesco di Paola, erquida no ano de 1936 cujo terreno, adquirido pelos membros da comunidade italiana teve a ajuda do governo de Mussolini que enviou 50 contos de reis e as letras metálicas da fachada “DOMVS ITÁLICA”, além da Companhia Pantaleone Arcuri, de propriedade de imigrande já estabelecido na cidade. Foi denominada Casa D’Italia. Era o Centro de Vivência ítalo-brasileira, foi ocupada pelo Exercito Brasileiro durante a primeira guerra mundial a qual retornou aos verdadeiros donos após a guerra.
Giuseppe Ambrosi ou Ambrosio, era um desses imigrantes e por ser ferreiro, dominava a arte de trabalhar com o ferro na confecção de ferramentas e utensilios para utilização na lavoura, tratou de procurar uma comunidade onde se estabelecer.
O meio de transporte da época, mais apropriado, era a estrada de ferro leopoldina de propriedade dos ingleses que cortava toda a região, indo da capital da república até a cidade de Carangola em Minas. Partindo de Juiz de Fora, fazendo conexão em Tres Rios era possível chegar à Capital Federal, assim como a Carangola dependendo da direção tomada. Entre Carangola e Rio de Janeiro, muitas pequenas cidades foram sendo erguidas pela facilidade de comunicação estabelecida pela estrada de ferro dos Inglêses a Leopoldina.
Giuseppe Ambrosio, que não se sabe ao certo, veio solteiro da Itália, escolheu uma cidade pequena, uma parada de trem, localizada no trecho entre a capital e Carangola. Lá se estabeleceu e pelo que consta constituiu família tendo filhos e uma filha. Todos os seus filhos aprenderam a profissão com o pai. Adquiriram, desde cedo a habilidade de moldar o ferro bruto em ferramentas e outros utensílios.
De seus filhos, por não haver demanda para tantos especialistsas, espalharam-se pelas cidades vizinhas, como Barão de Monte Alto – antigo Morro Alto – Patrocício no Muriaé e Coelho Bastos.
Para a parada de Coelho Bastos foi o filho Ricardo Ambrosio que se casou com Anália e tiveram 4 filhos. Uma mulher e 3 homens que não quiseram seguir a profissão do pai, procuraram trabalho em outras facções da economia. Mas acabaram os três se tornando ferroviários e ingressaram na Estrada de Ferro Leopoldina. Espalhados por diversas cidades, conseguiram, em um período de sua história se conccentrarem em Eugenópolis, onde havia um intenso movimentro de trens da Estrada de Ferro Leopoldina. Nessa cidade criaram seus filhos, até uma certa idade. Mas com a necessidade de verem os filhos formados, surgiu a necessidade de emigrarem de Eugenópolis para centros maiores e desenvolvidos em busca de estudos que não existiam na cidade de Eugenópolis. Assim foram para Muriaé e onde concluiram o antigo segundo grau (hoje ensino médio), logo depois para Juiz de Fora, em busca da Universidade, Juiz de fora foi a primeira cidade que seus avós viveram por alguns meses à espera de quem os contratasse e de lá havia partido para Palma há muitos anos antes. A família cresceu e se dividiu mais uma vez, não conseguiram se manter unidos em uma mesma cidade. Hoje, seus descententes estão espalhados por muitas cidades e estados diferentes.