Inacabado...

Madrugada fria, vento gelado bate em minha janela a me incomodar, reviro-me na ampla cama box, puxo o edredon gigante dupla face,mais para perto do rosto,pois parece-me que cobrindo as costas, e as orelhas o frio se vai, sonho, me vejo deitada em uma praça, banco duro, os jornais não são suficientes para me proteger,sento-me olho em minha volta, nada, nem um papelão maior para me aquecer, choro de frio, aí me lembro que não jantei,vem daí essa dor profunda no estômago, reviro minha sacola a procura de alguma sobra, nada, nem farelos, acho que as formigas chegaram primeiro,me ajeito de novo, de costas para a rua assim o vento diminui o impacto,meus pés doem, é frio, pego uma folha de jornal inteira para enrolar meus pés, me deparo com a manchete:Vereadores mantêm o aumento de...Meu Deus, que falta de decência, uns com tantos outros...me recuso a embrulhar meus pés em notícia tão sórdida, posso ser pobre ,mas tenho dignidade, tenho caráter,atiro o jornal ao lixo,pego outra folha, é de propaganda de mercado, menos mal, quem sabe em contato com tantos produtos meus pés reajam, sintam-se alimentados, torno a dormir, os ruídos da madrugada são assustadores, um morcego faz um voo rasante, me atinge na orelha,acordo assustado, já é quase hora de sair dali, já já o povo começa a surgir, e não gostam de ver alguém ali jogado, olham e comentam, que pobre coitado, não sei como não morreu com o frio que fez esta noite,piedade não resolve a minha situação....

Saio dali.cabisbaixo,sei o que me espera, a história é a de todo dia,triste sina, penso que tudo pudesse ser diferente como já foi um dia,já tive um lar, já fui família, mas me perdi, e não tive como retornar, sai de cena cedo demais, não lutei o suficiente...Uma neblina intensa aparece de repente, um apito ensurdecedor...

Desperto no aconchego do meu quarto, mas tenho muita dor, parece que caminhei a noite inteira...não descansei, e esse despertador que não para? É hora de retomar a vida...que sensação estranha, parece que vivi de novo....