O ESPOSO AMIGO DA ONÇA

Damiana tinha mais ou menos uns trinta anos de idade. Nasceu e criou-se no Sítio Alecrim.

A cidade mais próxima ficava a cem quilômetros do sítio. Seus pais haviam morrido quando ela ainda era bem pequena e foi criada por seus dois irmãos.

A rotina do sítio Alecrim, não era diferente dos outros, exceto pela coragem de Damiana, que se fazia presente em todas as atividades do sítio. Segundo as pessoas que a conheciam desde pequena, ela adquiriu esta coragem por ser criada pelos irmãos que faziam com que ela os acompanhasse nas suas variadas atividades, inclusive nas caçadas e pescarias que eram constantes. Era uma mulher forte que não rejeitava serviço, fosse pesado ou não.

Ao se apaixonar por um peão que por lá apareceu em busca de trabalho; Damiana comunicou aos irmãos que queria se casar com Graúdo (chamado assim, por ser alto e gordo). Seus irmãos não tiveram argumentos para impedi-la, pois Damiana era determinada, e apesar de serem mais velhos, acabavam fazendo o que ela queria, era assim que funcionava a convivência deles, desde que ela tornou-se mocinha mandava na casa.

Graúdo e Damiana casaram-se na igrejinha da Vila de Abunã. Não houve festa. Ao voltarem da igreja, ela tomou junto com seu esposo e irmão um licor de jenipapo, disse que era para dar mais vigor a todos.

O tempo passou e na rotina do dia-a-dia, a lida de Damiana, era incansável: plantava, colhia, pescava, caçava, ajudava os homens na derrubada para o prepara do roçado e ainda fazia os trabalhos domésticos.

Nos trabalhos da roça, ela sempre tomava a frente...carregava seu paneiro cheio de mandioca e preparava-as para a fabricação da farinha, e no final do dia tomava uma cachacinha com seu esposo e seus irmãos; onde se descontraiam contando anedotas e dando boas gargalhadas.

Graúdo, só tinha tamanho, era molengo e sempre trabalhava nas atividades mais leves. Porém, Damiana não dava mole, arrastava-o com ela para todo tipo de trabalho, mesmo contra sua vontade.

Aconteceu, que certo dia, em uma das rotineiras caçadas de Damiana, foi pega de surpresa por uma onça pintada, quando percebeu, a onça estavas em sua frente , preparada para atacá-la; sem tempo para correr, Damiana enfrentou a onça, quando a bichana pulou nela, com um movimento rápido e corajoso, Damiana conseguiu segurar nas duas patas dianteiras do animal usando toda sua força e contorcendo-se para não ser ferida pelos seus dentes. Gritou pelo marido, que havia corrido ao avistar a onça e já se encontrava bem distante dela tremendo de medo. – Graúdo, pega tua faca e dá um furão na barriga da bicha, rápido seu molenga de uma figa! Não vê que vou morrer se não me ajudar?

Graúdo, mesmo vendo o desespero de sua mulher, não conseguiu fazer o que ela pedia. Saiu correndo desesperado e dizendo: - Agüenta aí Dami, que vou buscar seus irmãos.

Damiana tentou resistir, usando suas últimas forças agarrada nas patas do animal.

Vinte minutos depois, Damiana foi encontrada por seus irmãos em uma poça de sangue, sem os dois seios e parte de seu tórax, que haviam sido comidos pela onça pintada que ainda estava no local.

Os irmãos desesperados atiram na bichana, que tombou estrebuchando ao lado de Damiana. E em soluços inconsoláveis, descarregaram suas armas em Graúdo, que caiu inerte.

Graúdo não teve tempo para explicar sua covardia, e porque foi “AMIGO DA ONÇA” abandonando sua esposa para morrer.