O Tesouro do Peregrino
Por toda a sua jornada rumo ao mar, na peregrinação dura pelo deserto, ele cuidou bem do seu tesouro. Sob o manto negro, bem ao peito, levava o vaso de barro, pó molhado, repleto do precioso líquido caído do céu.
O dividiu algumas vezes, com quem tentou roubá-lo e escravizá-lo, por isso, passou a não mais mostrar o vaso a ninguém. Só caminhava esperando chegar ao mar e a barca, que o levaria além da aridez.
Quão duro foi o sermão do Mar, ao lhe ver com o tesouro sob o manto!
_ Eu me dou ao Sol e por ele me elevo e me queimo, só para cair, pois caindo é que trago vida as areias e você se nega a doar ao chão o que lhe dei? Não se vai além-Mar com tesouros!
Triste, o peregrino retorna para as areias. Sente toda a dor do mundo e retira o seu tesouro, seu vaso, seu coração, de dentro do manto negro. Olha o vaso de barro, prova um último gole e o quebra. Agora, com o vaso a mostra, rachado e gotejando pelo chão, ele volta rumo ao Mar. Antes de adentrar na barca, parte o vaso com sua espada e derrama todo o resto do seu conteúdo, até a última gota. Já não sente mais a dor do mundo, já não sente mais a alegria do mundo... Mergulha e já é Mar, pois não há mais além a esperar. Sente novamente o calor e o chamado do Sol e quando enfim se vê como chuva, vê o rastro de flores que deixou para trás, em sua jornada, porém, não aprecia isso por muito tempo. Uma jarra colhe suas gotas e uma criança sorridente olha para o vaso cheio do precioso líquido e grita:
_ Papai, veja o que o céu me deu!