a dor de um amor.
Quando Joana saiu batendo a porta, Jaime pensou que jamais ela voltaria, pela primeira vez teve um medo terrível de ter perdido a bela mulher, aquela que lhe acolhera quando ninguém mais acreditava nele, em que esteve ao seu lado nos piores momentos, sentiu em seu peito um aperto, nunca antes deixara brotar em seus olhos lagrimas, mas naquele momento sentiu que não conseguiria impedir, ate mesmo o no na garganta parecia difícil de desfazer, sentou-se na cama e deixou que o silencio e o vazio lhe enchesse a alma, não havia um ruído a não ser o do telefone que tocava sem parar, mas não era Joana e quem estava ligando era o motivo de ela ter ido para sempre embora de sua vida, ela se cansou de inúmeras noites sozinha, de finais de semana carinhoso em família, mas o entardecer um sumiço sem explicação mas que ela aceitava a pior explicação, sendo essa ultima sem aceitação, ela vira com os próprios olhos a traição, o abandono foi calma e sincera ajuntou em uma mala a roupa necessária, a dos filhos, deixou a casa em, por mais que argumentasse que a casa era dela e quem deveria sair era ele, ela não escutou, ajeitou tudo e saiu, batendo a porta sumiu na noite escura, fora cruel a forma em que ela o deixou, doeu mais o silencio que todo o furor de anos de briga e confusão,ela saiu de sua vida e só agora ele pensava nas aventuras que o fizera perder aquela mulher.
A madrugada estava chegando ao fim, ele ainda não dormira os primeiros raios de sol penetravam no vidro da janela, os olhos ardiam e o primeiro movimento com as pernas adormecidas doeram o corpo inteiro, câimbras tomavam as pernas e os pés, muito tempo ficou ali, não havia cheiro de café nem tão pouco o barulho de criança se arrumando para ir à escola, o banheiro estava desocupado, coisa rara nas manhas semanais, na sala uma blusa sobre o sofá. Ele olhando para a peça em que ela usara no ultimo sábado, chegara da festa, animada e feliz, estava linda, em seu vestido tomara que caia e a blusa caindo sobre o corpo formava um conjunto sensual e atrevido, naquela noite ele ficou ali olhando ela ajeitar as coisas, os filhos e antes de arrumar para dormir, parou no batente da porta perguntando se ele queria algo antes que fossem dormir ele sentindo o desejo acender abraçou aquele corpo e a amou como nunca tinha amado antes, e ela docemente entregue ao amor pelo marido, sem importar se no domingo o teria novamente só para ela.
Ela sabia de tudo que se passava, de todos os atos de infidelidade, mas o amava de tal maneira que aceitava todas as desculpas e fechava os olhos e tapava os ouvidos ao chegar as noticias sobre tudo se referia a ele. Mas naquela tarde de domingo isso não aconteceu, ela saiu sem dizer aonde ia, e pegando um taxi seguiu o opala preto que corria sem saber que atrás estava um grito de liberdade pronto para explodir de dentro de um peito, a represa estava repleta, refletindo o brilho do sol, os banhistas se divertiam, e do taxi uma moça loira de óculos escuros e conjunto de blusa e calça de couro desceu ficando bem em frente ao opala que parado a um estacionamento fechava os vidros e abrindo as portas desciam os dois ao bater as portas não notaram a loira disfarçada, abraçaram e seguiram rumo ao bar, esse cheio, mas o garçom chegou com uma mesa e duas cadeiras sorriam e falavam como se já os conhecesse há muito tempo, então ao abrir a cerveja e se servirem se beijaram devagar, depois com mais vigor e foi ai que a loira chegou, olhando para os dois tirou a peruca e os óculos escuros e ficou frente a frente com os traidores, apenas um olhar, um frio olhar, uma indiferença ao sair se voltou mais uma vez, mas não disse nada, apenas foi embora no mesmo taxi em que veio, e foi esse mesmo taxi que a deixou em casa.
Acostumado a chegar mais tarde e sempre ter uma explicação na ponta da língua e um álibi pronto para mentir o ajudando, naquela tarde não deu certo. Foi o fim, agora estava ali em uma casa que não era sua e sem a mulher que era tão dele. Onde estaria não sabia, mas sabia que a perdera para sempre.
Quando Joana saiu batendo a porta chegou à casa de uma amiga, esta a esperava com um café e um abraço apertado, não disse nada, ajeitou a criança no quarto que com sono nem notara onde se deitava enquanto a amiga tomava o café ajeitou as cobertas e voltou para a cozinha, a amiga nada disse apenas se olharam e aos poucos Joana começou a contar, a amiga já sabia, mas como provar, como falar com ela as palavras certas em um momento tão delicado , deixou Joana chorar apenas dividiu o silencio e a cama deixando as lagrimas caírem por não poder fazer nada a não ser ouvir.
O dia amanheceu lindo, o sol parecia brincar na janela da amiga, um cheiro bom de café e a voz do caçula contando sobre o gol do ultimo domingo fora mágico eles ganharam e tudo foi festa, mas ele não entendia porque ao chegar a casa tinha que sair correndo com algumas peças de roupas, a tia olhando disse apenas que a mãe lhe explicaria mais tarde, ajeitou o lanche a mochila, colocou tudo no carro e saiu para levá-lo ao colégio, ao voltar Joana ainda estava deitada, com os olhos fixos no teto onde estrelas amarelas brilhavam no teto azul com o reflexo do sol que entrava pelo vidro da janela, era estranho, mas ao encontrar o olhar da amiga sentiu-se estranha como se não fosse ela mesma, ligou o celular, inúmeras mensagens, ele ligara toda a noite, ela respondeu a uma mensagem dizendo que queria a casa dela desocupada ate o fim da tarde, não importava para onde e com quem ele iria ficar ela apenas não o queria mais, se olhou no espelho ouvindo a bagunça da amiga com os cachorros, lavou o rosto e se sentou para tomar o café, notou que era tarde e que ela queria muito estar na casa dela, havia tanto a fazer.
Keith entrou com um filhote nas mãos, estava suja de ração amolecida, rindo e conversando como se fosse a própria mãe do filhote, Keith era feliz, livre e linda embora já estivesse em seus quarenta e cinco anos, trazia a juventude no olhar e no corpo bem cuidado, exalava um cheiro de perfume mesmo não estando perfumada, Keith não pensava muito no dia a dia de uma mulher com marido e filhos, há tanto tempo sozinha, se acostumara a se divertir assim e não gostava de sair, preferia ficar em casa com seus cães peixes e gatos, tinha um prato de alpiste para tratar os passarinhos que lhe visitava toda manha e os beija-flores vinham tomar da água que saia das flores artificiais. Alguns fios de cabelos brancos insistiam ficando de pé mostrando que eles estavam chegando e vinham para ficar, ao olhar a amiga sempre de braços abertos sentiu uma ponta de ciúme daquela vida, mas se tivesse ouvido o seu conselho não estaria assim, de mal com o mundo por causa de um homem infiel, ao pensar assim sentiu as lagrimas virem aos olhos, àquela manha estava sendo difícil, mas ela estava estranhamente livre. Sem obrigação, sem dever, sem vontade, voltou correndo para o quarto e se enfiou debaixo do edredom, ouviu barulho de panela e depois disso caiu em um sono profundo esquecendo de todo problema e do caus. que virou o seu mundo.
Quando acordou com o barulho do filho conversando e contando da escola, ouviu a voz de Keith o repreendendo, não devia ter feito isso Maicon agora almoce que vou te ensinar o dever, e não fale alto sua mãe esta dormindo, ficou curtindo a cama e pensando no que faria, naquele dia não fora trabalhar, olhou mais uma vez a cara no espelho, não entendia o porquê de deixar tudo chegar a esse ponto, mas sabia que devia reagir e seria aquele o momento, enrolou de novo no edredom, mas não conseguiu, se levantou e foi ao banheiro tomou um banho demorado lavando o cabelo com força, ao sair parecia uma menina com o roupão cheio de florzinha miúda e uma toca rosa da amiga chegou à cozinha e pelo cheiro notou que estava com uma fome de leão, o filho e a amiga estavam na rede deitados e liam uma edição do herói preferido dele, sem notar a sua presença viu o carinho da amiga e a afeição do filho para com ela, era isso que ele precisava, de atenção, ficara tão preocupada cuidando do marido que se esquecera dos filhos, o mais velho estava na casa do pai e esse não desgrudava dela e nem por isso conseguia deixar de amar mais o marido se preocupando e se entregando, ficou na soleira da porta olhando a cena, pensou no primeiro casamento, onde acertara ou errara? Talvez pelo mesmo excesso de zelo, ou pela falta de amor próprio, isso tudo iria mudar agora, ela tinha uma certeza viva, e ao cruzar o seu olhar com o olhar de Maicon olhou para a amiga e o silencio falou alto, riram de vê-la no roupão com a toca na cabeça e aquele prato enorme de comida na mão se juntando a dupla falaram de tudo menos do assunto principal, logo após, procurou ajeitar as coisas na bolsa e pegando tudo se despediu da amiga.
Maicon ao abraçar Keith pediu que não o deixasse, como se fosse possível deixar aquele anjo, Joana abraçou Keith certa de que tomaria uma decisão e seria nova mulher a partir daquela noite, Keith os acompanhou ate o portão ouviu o carro se afastar e então entrou aliviada, sua vida não estava tão mal como reclamava, ao menos não sofria por amor e nem tão pouco por falta de amor.
Jaime notou que o telefone desligado era um mau sinal, a mensagem para que ele desocupasse a casa era uma ordem e não um pedido teria que arrumar um lugar, teria que devolver o carro que era dela também, em sua vida não construiu nada e tudo que tinha era de quem estava ao seu lado ao longo da vida. O dia passou e ele não fora trabalhar, o telefone insistia para que o atendesse, mas não era a pessoa que ele queria ouvir a voz, sabia que falhara e que nada e ninguém iriam fazê-la mudar de idéia. Ajuntou toda a pouca coisa que ele tinha e sentou no sofá
Ao entrar na porta Maicon o cumprimentou, e ao correr para o quarto ouviu a mãe lhe dizer para tomar um banho e lavar bem a cabeça, isso significava, a conversa vai demorar, pode ficar a vontade no chuveiro, e Maicon não pensou duas vezes levando os dinossauros de brinquedos para o banheiro.
Joana olhou fixo para Jaime e disse com um olhar sem emoção, eu já pedi para você desocupar minha casa, deixe o carro na garagem e essa é a ultima vez em que nos falamos, entrarei com um pedido de divorcio e espero que você seja feliz com quem quer que seja apenas quero que me deixe em paz e não pense que estou feliz, estou sofrendo, mas quero passar por tudo agora e recomeçar do zero, quero apenas que saia de uma vez por todas de minha vida. Quanto ao que acontece eu não quero saber eu vi o que tinha que ver, apenas tirei a prova do que já me disseram inclusive ela mesma já me disse do caso de vocês, hoje é um novo caso para mim, uma nova estória, estou em mil pedaços, mas vou me reerguer, pode acreditar nisso.
Joana falou tudo olhando fixo nos olhos de Jaime e pela primeira vez ela viu lagrimas naqueles olhos e antes que o coração amolecesse abriu a porta o deixandoele passar, ouvia o telefone dele tocar insistente, era ela com certeza, olhou da janela do apartamento de onde dava para ver o prédio dela e sabia que naquele momento outro alguém sofria era o marido dela que também não queria acreditar no que acontecia. A certeza do caso abalou as estruturas, mas agora Joana estava firme, ela ainda tinha uma vida pela frente e lutar por um homem que não tinha o menor valor não iria dar em nada. Viu o portão pequeno se abrir e fechar, depois disso o corpo sumiu na escuridão, olhou o filho que naquele dia se comportara tão bem, ouviu o filho mais velho chegar à casa com o pai, olhou ao redor e não viu mais nada.
Ao acordar um medico estava ao seu lado, era alto e claro e suas mãos seguravam as dela, os olhos verdes a fitavam e uma mecha do cabelo grisalho lhe dava um ar serio, mas ao sorrir viu que lindo era o sorriso, os filhos chegaram e ao se sentar os cabelos castanhos caíram em desalinho no ombro o rosto cansado e triste deixava ver uma amargura sem fim. O medico era o seu novo vizinho que se desculpava por se conhecerem daquela maneira e naquele momento tão delicado, Michel aceitou a água e o agradecimento e ao ver que estava bem se foi.
Jaime ligou uma ultima vez, e ela respondeu com o silencio, mas pensou em dizer uma ultima coisa, que ninguém o amaria como ela o amou, ligou retornando, mas foi uma mulher quem atendeu, então ela estava certa da atitude que tomara, deixou assim uma pagina virada, sabendo que não importava o passado, ela não estava mais La.
No domingo como de costume saiu cedo para levar os filhos para um passeio, era o único dia que tinha para eles, ao sair do prédio notou que tudo estava diferente, ao olhar Michel sair com seu carro esporte os convidando para um piquenique no parque, aceitaram porque ele iria levar as filhas para passarem um domingo com ele. Os carros se cruzavam na avenida e ao trocarem o olhar havia um ar de cumplicidade e pensar que Michel passou pelo mesmo processo de Joana a fez acreditar que ainda havia uma chance para ser feliz, ao longo da semana se falaram todos os dias e viram que tinham muito em comum.
Jaime olhou do banco da praça aquela família rindo e fazendo algazarra no centro do gramado verde em baixo de um grande ipê que deixava as flores amarelas cair docemente, sobre a mulher que o amou que ele acabara de perder.