Depois de longa doença Sakagek morreu. Joveh, seu único filho, cuidou das exéquias. Poucos vieram ao funeral; Sakagek, idoso e pobre, tinha poucos amigos. Mas os que compareceram eram sinceros, como Ouraphe, o ceramista, que finda a cremação do corpo, deu a Joveh uma bela e delicada urna de cerâmica ornamentada com altos relevos de aves em pleno voo. Ao ver os desenhos, Joveh pensou na alma do pai, enfim livre do corpo e agora voando ao encontro dos Redentores.
‘Esta urna guardará as cinzas de seu pai. ’ – disse Ouraphe, com emoção.
Na manhã seguinte, ao raiar do sol, Joveh iniciou a jornada aos Montes So’Dhan aonde seu pai pedira fossem espalhadas suas cinzas. A viagem duraria todo o dia, mas Joveh, embora assolado pela tristeza, sentia-se bem disposto quando começou a longa caminhada.
Joveh levava a urna nas mãos com cuidado. A manhã estava esplendorosa e a paisagem à sua volta era magnífica; primeiro, as águas caudalosas do Rio Zuteh e a antiga ponte de junco que o cruzava a uma altura que permitia se apreciasse o trovejar da corrente quebrando-se contra as pedras do leito. Depois, as trilhas dos bosques do Norte, e a brisa incessante, ora mais forte, ora mais breve, que vadeava entre os ciprestes, plátanos e olmos. Pelo meio do dia, alcançavam-se as margens do Lago Durok, com suas águas azuis e reluzentes, e um silêncio tamanho que parecia que o mundo inteiro se comprimira entre o céu banhado pelo sol e a superfície tranquila das águas. Ali, Joveh descansou, fez uma refeição frugal, encheu o cantil com água fresca e seguiu viagem.
Durante a caminhada, a recordação da voz e das expressões de Sakagek o acompanhou. Lembrou-se de quando pescavam no lago Durok, o pai empenhado em ensinar-lhe as artimanhas dos peixes mais saborosos, ou quando caçavam cervos e perdizes no bosque, sempre acompanhados pelo vento, que soprava entre as ramagens, em doces assovios.
‘É a voz dos ancestrais!’ – dizia Sagarek, sorrindo – ‘Eles vivem no vento. ’.
Agora o dia chegava ao fim e com ele a jornada. Poucos metros separavam Joveh do cume dos Montes So’Dhan. Ao sentar-se em uma pedra que lembrava um altar, Joveh abriu a urna e preparou-se para prestar uma homenagem final ao pai que tanto amara. Para sua surpresa e horror a bela urna estava vazia! Nem um só dedal das cinzas de Sagarek restara para ser lançada aos ventos frios de So’Dhan.
Joveh se perguntava o que poderia ter ocorrido. Em que parte do longo caminho as cinzas se perderam? Sentia-se um tolo, incapaz de cumprir o último desejo do pai.
Foi então que o vento soprou mais forte e Joveh entendeu que Sagarek estava ali, como também estava nas águas do Zuteh, na quietude das margens do Durok. Como se escutasse de novo o riso alegre de Sagarek, misturado ao redemoinho dos ventos cortantes de So’Dhan, Joveh murmurou uma oração e com um arremesso que pôs à prova toda a força do seu braço, atirou a urna no abismo.
As cinzas estavam vivas. A bela prisão quebrada em mil pedaços nos rochedos distantes. E Sagarek a retornar em Joveh, com Joveh, por todo caminho de volta.
‘Esta urna guardará as cinzas de seu pai. ’ – disse Ouraphe, com emoção.
Na manhã seguinte, ao raiar do sol, Joveh iniciou a jornada aos Montes So’Dhan aonde seu pai pedira fossem espalhadas suas cinzas. A viagem duraria todo o dia, mas Joveh, embora assolado pela tristeza, sentia-se bem disposto quando começou a longa caminhada.
Joveh levava a urna nas mãos com cuidado. A manhã estava esplendorosa e a paisagem à sua volta era magnífica; primeiro, as águas caudalosas do Rio Zuteh e a antiga ponte de junco que o cruzava a uma altura que permitia se apreciasse o trovejar da corrente quebrando-se contra as pedras do leito. Depois, as trilhas dos bosques do Norte, e a brisa incessante, ora mais forte, ora mais breve, que vadeava entre os ciprestes, plátanos e olmos. Pelo meio do dia, alcançavam-se as margens do Lago Durok, com suas águas azuis e reluzentes, e um silêncio tamanho que parecia que o mundo inteiro se comprimira entre o céu banhado pelo sol e a superfície tranquila das águas. Ali, Joveh descansou, fez uma refeição frugal, encheu o cantil com água fresca e seguiu viagem.
Durante a caminhada, a recordação da voz e das expressões de Sakagek o acompanhou. Lembrou-se de quando pescavam no lago Durok, o pai empenhado em ensinar-lhe as artimanhas dos peixes mais saborosos, ou quando caçavam cervos e perdizes no bosque, sempre acompanhados pelo vento, que soprava entre as ramagens, em doces assovios.
‘É a voz dos ancestrais!’ – dizia Sagarek, sorrindo – ‘Eles vivem no vento. ’.
Agora o dia chegava ao fim e com ele a jornada. Poucos metros separavam Joveh do cume dos Montes So’Dhan. Ao sentar-se em uma pedra que lembrava um altar, Joveh abriu a urna e preparou-se para prestar uma homenagem final ao pai que tanto amara. Para sua surpresa e horror a bela urna estava vazia! Nem um só dedal das cinzas de Sagarek restara para ser lançada aos ventos frios de So’Dhan.
Joveh se perguntava o que poderia ter ocorrido. Em que parte do longo caminho as cinzas se perderam? Sentia-se um tolo, incapaz de cumprir o último desejo do pai.
Foi então que o vento soprou mais forte e Joveh entendeu que Sagarek estava ali, como também estava nas águas do Zuteh, na quietude das margens do Durok. Como se escutasse de novo o riso alegre de Sagarek, misturado ao redemoinho dos ventos cortantes de So’Dhan, Joveh murmurou uma oração e com um arremesso que pôs à prova toda a força do seu braço, atirou a urna no abismo.
As cinzas estavam vivas. A bela prisão quebrada em mil pedaços nos rochedos distantes. E Sagarek a retornar em Joveh, com Joveh, por todo caminho de volta.