O CASTELO
Quem vive na cidade do Rio de Janeiro e arredores conhece a Fundação Osvaldo Cruz, também chamada de FIOCRUZ, ou apenas castelinho, no bairro de Manguinhos, na margem da Avenida Brasil. O prédio estilo mourisco foi desenhado, sonhado e acalentado pelo médico sanitarista que lhe dá o nome, no início do século XX. Também nesse sonho embarcou desde criança o meu amigo Eduardo, ou apenas Du, hoje já passado dos cinquenta, o que insiste em negar, confiado no falso milagre das tinturas capilares. Du morava em São Gonçalo e tinha uma tia, no longínquo subúrbio de Bangu, visitada com frequência pela irmã, sua mãe. Na primeira viagem, quando o ônibus passou em frente ao bonito prédio, inquiriu: mãe, o que é aquilo? é um castelo, respondeu lacônica. Nas outras viagens era só: mãe, olha o castelo! tá chegando o castelo! passou o castelo! E assim durante toda a infância, até que chegou a hora do alistamento militar. Du tinha outro sonho: servir na Aeronáutica. Pergunta daqui, interroga dalí, até que alguem lhe disse que para servir na Aeronáutica era necessário se apresentar no Castelo. Du não titubeou e pensou: eu sei aonde é. Vou ser o primeiro, para não perder a vez. Destemido, cruzou São Gonçalo de ônibus, a baia da Guanabara de barca, pegou um ônibus na praça XV e saltou na FIOCRUZ. Quando o porteiro perguntou: o que o Sr. deseja? respondeu resoluto:vim me apresentar para servir na aeronáutica. Às primeiras explicações de que o Castelo que procurava não era aquele deixaram-no duvidoso. Porém, convenceu-se quando veio o esclarecimento de Castelo era um sub-bairro do centro da cidade, onde funcionava a maior parte das repartições públicas, recebendo num papel o endereço, alí pela Avenida Almirante Barroso ou Nilo Peçanha, não lembro bem. Du perdeu a vez da incorporação na Aeronáutica. O jeito foi servir no Exército mesmo...