A linda menina Flor

Crianças são sempre alegres, ativas e curiosas. Há pouco tempo atrás eu também era uma delas, embebida em minha curiosidade infantil e ingênua, fazia inúmeras perguntas. Amava quando me contavam história, estórias, contos, qualquer coisa que me distraísse e me envolvesse. E apesar da humildade que vivíamos, e dos muitos afazeres que cansavam minha mãe, ela era paciente e tratava de me contar àquelas lendas que seu avô um dia lhe contou.

Todos os dias durante um bom tempo eu lhe pedia uma historinha, e não me importava quando ela repetia a mesma da noite anterior. Em diversas noites ela contou uma em especial, uma a qual ela não sabia o nome ou procedência. Lembrava-se apenas que no tempo dela menina, nos fins de tarde tediosos no interior do estado, essa história a encantou e nunca mais saiu da sua memória. Vou começar logo a repassar esse conto a mim contado com carrinho.

***

Tratava-se de uma menina linda, de pele dourada, e cabelos compridos. Os fios eram negros, negros como a noite, seu brilho cintilante lembrava as estrelas do céu do interior. Tal menina era órfã de mãe e seu pai era comerciante local. A mãe morreu no parto, e pouco tempo depois o viúvo tratou de arrumar outra mulher para cuidar dele e da filha, que recebeu o nome de Flor Maria. Com o passar dos anos Flor foi crescendo, sub os maus tratos da madrasta Severina, que como num conto de fadas que se preze tem que ser má. Severina cuidava da menina com descaso enquanto seu marido viajava pra capital a fim de comprar mercadorias. Assim a infância da menina foi se arrastando, mas a “danada só ficava mais formosa” a cada ano que passava.

Quem não gostava nada da atenção chamada pela moça era sua mãe de criação. Incomodava-se também com o amor que o comerciante demonstrava pela pequena, “Como eu posso admitir isso? Todos os presentes bonitos pertencem “A minha linda florzinha”, todas as regalias e todo o afeto.” Reclamava á agora feia e desgastada pelo sol Severina. Quando Flor estava prestes há completar 15 anos, essa mulher possuída pela inveja e pela raiva comprou um forte veneno. A menina adoeceu após receber doses pequenas e continuas do veneno, e mesmo doente continuava a receber doses diárias. Quando Flor já estava muito debilitada sem se quer conseguir falar, soube de toda a verdade dela boca da própria assassina.

Quando chegou de viaje o pai amoroso ficou observando a filha moribunda no leito de morte. Até o ultimo instante de vida, até a última luz nos olhos ela tentava falar algo que nunca conseguiu ser dito. Foi enterrada ao lado da mãe no cemitério da família, localizado no fundo da casa.

Um lugar triste e escuro até então, mas logo depois do enterro, surgiu por lá uma roseira. Roseira esta que não ficou só, em pouquíssimo tempo o tumulo da menina estava cheio de flores de todos os tipos, cores e formatos. Até a luz do sol que parecia nunca encontrar o lugar, agora o iluminava. O homem que outrora só viajava dedicava todas as manhãs a contemplar a beleza do lugar onde estavam as duas únicas mulheres a quem amou de verdade.

Então no amanhecer do dia do aniversario da menina. Ele foi visitar seu tumulo mais cedo que de costume... Quando se aproximava notou uma linda moça sentada entre as flores. Ela o olhou e foi impossível não reconhecer aquele lindo rosto emoldurado pelo cabelo escuro, mas era impossível acreditar.

- Porque o senhor anda acordando tão tarde, meu pai? Já faz um tempo que espero pra falar contigo.

Feliz, porém com medo de ter enlouquecido, ele respondeu:

- Diga-me logo menina, o que te deixou aí me esperando.

- Vá ao armário da cozinha, atrás dos copos tem um frasco de veneno. Sua mulher meu pai, sua mulher me matou. Ela sempre foi má pra me, ela sempre foi má.

- Isso não é possível!

- Então não acreditas em mim? Vá lá! Faça o que estou te pedindo!

Ele escutou um grande barulho de vidro quebrando, correu para cozinha e ao abrir o armário todos os copos estavam quebrados. Lá no fundo entre eles estava um pote de veneno contendo uma única dose. Ele horrorizado saiu sem acordar a mulher, foi na delegacia e mostrou-lhes o pote quase vazio que havia encontrado e dize que desconfiava que a esposa tivesse matado sua filha.

Ao ser acordada pelo marido acompanhado da policia e do padre, Severina não resistiu e confessou o crime. Dois dias após a prisão o corpo da assassina invejosa foi encontrado na cela. O comerciante triste, entretanto satisfeito por saber a verdade, tocou a vida adiante. Acordando todos os dias de madrugada para contemplar a aurora iluminando as lindas flores que tomavam toda a parte detrás da casa.

Segundo o que conta a lenda até os dias atuais, quem passa pelas ruínas inabitadas da antiga casa da menina Flor, tem o prazer de admirar as flores, que lindas como elas só crescem por lá.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 25/04/2012
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