O despertar de uma paixão

Abril corria solto em seus mais intempestivos dias. Era mês de correria e toda papelada havia de ser entregue à coordenação da empresa.

Afoita para dar conta de tudo, ela corria entre emails, relatórios, discursos sem fim.

Mas em meio a tanta violação de pensamentos, algo chama a atenção. Em negrito, um remetente conhecido, e seu coração de imediato acelerou.

Sabia que ao abrir aquela mensagem, embarcaria na mais louca viagem planejada a anos e a doces modos.

Não queria, resistiu enquanto pode. Não adiantou, sua curiosidade era maior que tudo e a vontade de se entregar ao escrito que ja imaginava, fez com que num clic, sua viagem enfim, tivesse início.

Começou a ler , atentamente, linha a linha. Frase a frase. Parágrafo a parágrafo.

Seu corpo respondia, seus olhos fechavam, enquanto em pensamento, vivia a cena descrita.

Não se preocupou com a porta aberta. Sequer lembrou que estava em meio a tanta gente.

O que mais importava era o que sentia, a volúpia que invadia o corpo desprotegido e inebriado.

Aquelas palavras a levavam ao mais alto êxtase, um turbilhão de desejos dos mais singelos aos mais secretos dominava sua expressão.

Seria um misto de fogo, paixão incandescente, que despertava a loucura pelos toques daquelas mãos.

Queria sentir o peso daquele corpo sobre o seu. O calor vindo de cada parte da masculinidade amada, emanava por entrelinhas, e alcançava cada pedaço do seu eu.

Sua pele ardia, era como se o toque fosse real, sentia os dedos acariciando-lhe a face, a boca roçando seu pescoço, a língua entrelaçando a sua, devorando-a.

Meu Deus, que sensação voraz. Desejo que consumia-lhe a postura e compostura. Se contorcia, como se levada pelas mãos fortes que a fizeram sonhar acordada.

Respirou mil vezes, buscando o ar que lhe sumia. Sua boca seca, parecia partir, e rogava aos céus , um pouco de água para aliviar o vulcão que se formara dentro de si.

O que ele lhe escrevera, fez com que despertasse a paixão incontida, desenfreada. Não conseguia parar de ler e sonhar, ler e sentir.

Num gesto inconsciente, passou as mãos pelos cabelos e pode perceber o suor escorrendo-lhe face abaixo.

Sem imaginar, ele lhe despertara a fera adormecida. E agora, como fazê-la novamente dormir?

Tinha tanta coisa ainda pela frente, mas o tempo havia parado, naquela sala. Ela só queria que nunca mais essa sensação maliciosa saísse de si.

Negrito após negrito, as mensagens vinham chegando, e o desejo aumentando.

Não ia resistir , precisava sair dali, se conter, se recompor.

Mas como, Deus? Se aquilo que lia, era exatamente, sua fantasia descrita?

As rosas em pétalas, o banho em sais, o árabe aroma , a massagem com efeito afrodisíaco. Por anos imaginara amor ardente assim, mas nunca contara a ninguém. E ele, sem que ela esperasse, expunha seu mais secreto desejo, como se lesse seus pensamentos, nas noites frias e solitárias, as quais vivia.

Desejava mais ainda a nudez das palavras, o ciclo vicioso que se formara entre os dois, vício gostoso de ser vivido.

Tesão à flor da pele, sem contenções. Precisava, tinha urgência dele.

Como não ceder ao encanto? Como não se permitir amor assim?

Podia sentir seu gosto, seu cheiro, sua respiração, sua virilidade. Percebia seu sussurro ao pé do ouvido, gemendo, gemendo, gemendo.

Havia ali, uma mistura de erotismo e romantismo, tudo caprichosamente desenhado, para que de fato, pudesse ela, sentir mesmo em tela, o real sabor de ser amada.

Não se conteve, levantou, respirou, suas pernas não responderam. Estavam adormecidas, formigava, assim como o corpo todo. Precisava gritar, mas quem entenderia? Ninguém.

A chamariam de louca.

Ela se definiria, amada.

Voltou novamente os olhos à tela. Mais um negrito acabava de chegar.

Sorriu, e resolveu deixar a leitura dos próximos, para quando estivesse em casa, envolta em seu edredon ( como ele mesmo sugerira).