Ocaso dos séculos

Imagens e sons chegavam de todo Planeta. A instantaneidade das transmissões via satélite se prestavam de maneira brilhante ao evento.

O século XX estava em despedida. Acontecia isso na Austrália, no Japão, com 24 horas de antecedência. Paulatinamente, o novo século surgia, timidamente, ao compasso do fuso-horário.

De início, gueixas e samurais, logo após aborígines, cenas de Tóquio e da ópera de Sydney cintilavam na tela.

E assim se passava a transição, moment by moment. O ocaso de 20 séculos de História Humana, a perspectiva esotérica de uma Era de Aquárius, o medo ancestral do fim do mundo...

Logo adiante cenas de uma gélida Europa com pessoas e nações em festa nos parques, entre as cidades medievais, mesclado a um encontro musical de marimbas em Trinidad e Tobago. Take por take, finalmente, chegou a meia-noite ao Brasil.

Em meio ao espocar de fogos, Júlio pensava nas imensas possibilidades que se abriam para ele e para este Planeta.

Místico como era, via nesta simples mudança de números, algo a mais do que uma encrenca para os analistas de sistemas. Piamente, acreditava que a Era de Aquárius se iniciaria e com ela a fase de expiação e provas deste Mundo se daria por encerrada.

Para comemorar abriu um espumante. Solitariamente, brindou á Lua e às Estrelas. Tão empolgado estava que encarou uma segunda garrafa e adormeceu com a televisão ainda sintonizada.

Acordou-se e já se ia ao largo o dia. Na boca, o velho sabor de ressaca e colado ao vidro de sua porta um bilhete reclamando do barulho do televisor.

Era de Aquárius, pensou, e deixou marcado no espelho, um sorriso sem graça...