atrás da igreja!

Batia pra eu ir pra escola. Não gostava, ela batia mais. Teve uma vez que me escondi atrás da igreja. Sai no horário certo, ela feliz achando que eu tinha convertado, que finalmente era alguém responsável. Claro que não, estava era pior, me perfumava pra me esconder atrás da igreja e mais tarde andar pela entrada da cidade. Uma vergonha quando descobriu. Voltar, olhar de frente a professora, minha mãe me xingando. E o desgraçado do Austim,

Que me viu passeando atrás do AABB, se sentindo vitorioso, porque conseguiu me derrubar do cavalo.

- O que está fazendo? Por que não está indo mais pra escola?

Eu corri dele. Ele atrás querendo saber. Estava acabado. O botava os bofes pra fora. Desesperado.

- Você está fingindo, né?

Gritou sem poder me pegar. Mas já sabia, estava frito. Quando voltei

Pra casa no final do dia. A professora Alda já na minha casa. Minha mãe

Conversando com ela. Já imaginava cada palavra. Conhecia a mãe que tinha.

Já podia também dizer como seria a surra. Deixaria eu chegar, tomar meu banho, comer alguma coisa. Ver televisão e mais tarde quando estivesse bem tranquilo ela me mataria na porrada. Esperei a professora ir embora. Enquanto isso, vi vários colegas descendo, não me importava mais com nada. Todos já podiam me ver. Finalmente fui pra casa.

- Oi, filho, tudo bem?

- Tudo...

- Como foi a escola?

- Bem...

Ela nunca perguntava como eu estava indo, nunca. Portanto, aquela pergunta

Já me assustaria mesmo se não tivesse visto a visita que ela recebeu. Tomei o banho e me preparei pra apanhar. Com baínha de facão já nem me assustava. O medo mesmo era do que ia falar, de como seria amanhã quando voltasse pra escola e encarasse todo mundo. É certeza que ela me levaria até lá. Vai me colocar na carteira e vai conversar com a professora, tudo na minha frente.

Os meninos vão rir de mim, e eu vou ouvir muita coisa da boca da professora,

E a vergonha vai me paralisar e vou querer sumir daquele lugar.

Tudo foi assim, apanhei feio, só apanhei, ela não me disse quase nada. Apenas pra eu não fazer mais isso. Dormi bem nesse dia, como se aquilo fosse necessário pra eu aprender a ser inteligente.

E na escola aconteceu de outro jeito. A sala riu um pouco, mas a professora pegou em minha bochecha e disse que era muito levado. E rindo um pouco mais, me deu um chocolate. Se não me engano esse foi o primeiro que comi na vida. Na hora de ir embora: “Você muito valente, viu!”

As meninas começaram a me perceber, a me achar interessante por ter desafiado tudo. Po ficar um mês olhando bichos no zoológico do AABB.

Esse foi o divisor de água da minha vida.

A partir dali uma vergonha nunca curada me ajudou a não sair do trilho. Hoje já velho tenho medo de abrir mão dessa vergonha e voltar a me esconder atrás de alguma igreja.