A VIDENTE
Madame Margot tinha o hábito de jogar as cartas logo cedo, todos os dias, antes de começar a atender seus clientes: queria saber qual era a sua própria sorte antes de ler a dos outros. Era seis da manhã quando ela começou a misturar as cartas imaginando o que o oráculo reservava para ela naquele dia onde o Sol ensaiava timidamente sair. Lançou as cartas sobre a mesa e, imediatamente, franziu a testa em sinal de assombro: viu que naquele dia seu marido seria morto.
Como acreditava piemante na sorte que via em seu baralho, decidiu ir para casa após o almoço, e não trabalhar o dia inteiro como costumava fazer... Queria passar aquela tarde com seu grande amor, que já durava 16 anos num casamento que muitos consideravam perfeito. Conforme planejou, Madame Margot atendeu sua última cliente às onze e meia da manhã e anunciou a sua secretária que iria para casa no seu próprio carro; que não aguardaria o seu marido vim buscá-la no final do dia, como sempre fazia. A Renomada Cartomante saiu com lágrimas nos olhos, ansiando encontrar seu marido, dizer o quanto o amava: queria simplesmente abraçá-lo...
O relógio marcava doze horas quando Margot chegou a sua casa, entrou pela porta da frente, chamou por seu Marido, Pedro, mas não ouviu nenhuma resposta. Chamou ainda outra vez, mas nada, somente o silêncio. Foi nesse instante que seu celular vibrou anunciando que a Madame havia recebido uma mensagem de texto, que dizia: “Amor, tenho uma reunião na hora do almoço, não poderei passar no seu Gongá para pegá-la para almoçarmos juntos, nos vemos a noite...Te amo!”.
Margot se desesperou e saiu correndo em direção ao seu carro, pois imaginou que não daria mais tempo para encontrar o seu amor antes que a tragédia que ela havia visto nas cartas acontecesse. A Madame arrancou com o carro em alta velocidade e foi, sem avisar, para o escritório de Advocacia de Pedro. 15 (quinze) minutos depois Margot chegou, saiu apressada do seu carro, esqueceu-se de ligar o alarme e nem fechou o vidro traseiro: correu ao encontro de Pedro, querendo falar do seu amor e de sua gratidão por ele ter sido fiel durante todos aqueles anos. Entrou no escritório, porém notou que a secretária não estava no seu posto, imaginou que ela deveria ter saído para o almoço. Correu para a sala de Pedro, mas temia atrapalhar a reunião de negócios da qual ele havia lhe falado na mensagem de texto, mas seguiu: abriu a porta sem avisar. Seu marido fiel estava numa orgia sexual com a Secretária. Margot ficou estarrecida. Pedro se assustou e imaginou uma desculpa. A secretária gritou. Margot sacou a pistola que carregava na bolsa, para segurança pessoal, e atirou no coração de Pedro e no rosto da secretária que agonizou ali mesmo, no chão... O Oráculo estava certo. As Cartas disseram o que aconteceria. O marido da madame Margot, de fato, morreu. Porém, por alguma razão, os espíritos da revelação não disseram a Madame que ela mesma seria a assassina.