MELOPÉIA

Em uma casa de classe média numa cidade pequena,apresenta-se com a a seguinte perspectiva. Luzente decoração ,quadros representando paisagens diversas,um conjunto de sofás apresentando uma estampa fina.Uma mesa quadrada com uma toalha branca num formato de renda. Como não poderia deixar de ser,uma uma parte da sala reserva espaço para uma estante onde se encontra uma potente televisão a cores. Na parte inferior da estante ver-se um som um tanto quanto fora de uso.

Nesta sala encontram-se duas senhoras,uma fazendo crochê atentamente, a outra andando de um lado para outro,ela vai até a sala onde sua irmã se encontra,ela vai até a cozinha. Ziguezagueia por todos os cantos da casa, é a mais velha.Chama-se Suzana,tem 56 anos,a mais nova,não tão nova assim, chama-se Márcia. Tem 64 anos.

Ambas as irmãs estão sem seus respectivos maridos. Suzana perdeu o marido há três anos, após anos de sofrimento em cima de uma cama. Bem,quanto a Márcia não foi bem viuvez ,mas sim uma separação que durou dez anos de convivência,convivência essa que oscilou entre altos e baixos,diga-se de passagem mais baixo do que alto.

A casa onde moram foi herdada dos seus pais. Suzana teve um relacionamento bastante conturbado com seu marido devido aos seus problemas físicos,adquiridos após anos de casamento,como também pelo seu temperamento difícil. Mas mesmo com essas dificuldades Suzana não abria mão do seu esposo,ela só pensa no marido maravilhoso que fora,a todo instante menciona seu nome.

Márcia ao contrário,depois de abandonada pelo marido por outra,fica lamentando,caindo sempre em depressão. Ela sabe muito bem que viveu e aproveitou sua vida quando jovem.principalmente ao casar-se. Amou muito seu marido e por amar demais acabou afastando-o dos seus braços.

Suzana -Você fica ai o tempo todo sentada vendo televisão,se entregando,ficando cada vez mais gorda,se entupindo de remédios.

Márcia - Me deixa Suzana, você sabe falar,sua vida você não olha

Suzana - Não olho? Veja a minha vida e olhe a sua. Eu estou bem,tenho minha fazenda,uma casa alugada,além dessa que tenho dividida com você. E você? Como anda sua vida? Seu marido ficou tudo que nossos pais deixaram. Seus filhos não ligam para você.

Márcia - Epa,não é que eles não se incomodem,mas falta-lhes tempo..

Suzana - Ora Márcia,você se engana atoa,é como o velho ditado diz, o pior cego é aquele que quer ver.

Márcia - Você não o direito de me humilhar. Sabe qual é sua frustração? É de não ter vivido como eu. Enquanto eu viajava com o meu marido,você ficava tomando conta do seu.

Suzana - Muito bem,tomei e não me arrependo,pois nós nos amávamos e eu como mulher prestativa que era e sou ficava tomando conta dele. Você ficou sem eira nem beira. Só não vai ficar na rua da amargura porque ainda tem cinquenta porcento desta casa.

Márcia - você não tem o direito de falar o que não sabe. Quem é você para desnudar meu passado? Você não é nenhuma santinha.

Após a discussão Márcia liga a tv e deita-se no sofá. Fica a observar ,mas no fundo não presta atenção,volta-se para o seu passado,nas alegrias que André lhe proporcionou ,não importa o quanto ele foi mulherengo ,viveu intensamente com ele,isso é o que importa.

Suzana - Márcia,vamos almoçar,a comida estar na mesa

Márcia - já vou.

Suzana - desliga a tv .

Márcia - não,deixa ligada,gosto de barulho,me ajuda esquecer o passado.

Suzana -por que você não se dedica a um livro? Ele nos ensina tantas coisas.

Márcia - Meus tempos de livros já se foram. Não tenho mais paciência para lelos .

As duas irmãs ficam em silêncio durante o transcorrer do almoço,nada falam,nada dizem,todas lívidas com os seus pensamentos.

inclemente
Enviado por inclemente em 19/04/2012
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