O GRANDE AVÔ
 

 
          Thiago brincava com o cachorrinho da raça beagle no jardim em frente de sua casa. Era seu mais novo amigo e já há algum tempo pedira a seu pai por um filhote e este lhe dissera que iria pensar. Em seu último aniversário, de seis anos, seu avô apareceu com ele, pendurado no braço, os olhinhos caídos, um pouco assustado até, perninhas balançando, procurando apoio. Só se acalmou quando os olhares dele e de Thiago se encontraram. Parece que, ali, naquele momento, sabiam que aquela amizade duraria pra sempre. E de imediato o beagle recebeu o nome de Ted. Para Thiago fora o melhor presente que recebera na vida, um sonho realizado. Para os pais, um exagero, e interferência na educação do filho. Para o avô... não tinha palavras nem explicação, bastava a alegria do neto.
         Agora ali, dois meses depois, Thiago brincando com Ted, sendo observado por seu avô, sentado em uma cadeira de macarrão colocado à sombra, onde lia sossegadamente. Vez ou outra observava o neto, divertindo-se com a imaginação de suas brincadeiras.
         Thiago corria, gritava, ora era um lendário guerreiro, ora um gigante defensor e líder dos demais, tendo ao seu lado seu mais fiel escudeiro: Ted, o feroz! A imaginação de Thiago voa longe, sem limites. De repente, sente-se observado. Olha em direção ao avô e este desvia o olhar sobre o livro, fingindo ler. Brinca mais um pouco e sente novamente o olhar sobre si. A cena se repete. Thiago acha engraçado e inicia um jogo desviando o olhar, ora para Ted, ora para o avô. Finalmente os olhares se cruzam.
         - Ahaaa...! – grita Thiago – Te peguei.
         O avô não agüenta e solta uma risada deliciosa, observando a astúcia do neto.
         Thiago aproxima-se, sempre seguido de perto por Ted.
         - O que você tá fazendo, Vô?
         - Estou lendo um livro.
         - Pra que?
         - Ah... Aprendendo coisas novas. Sempre há alguma coisa que podemos descobrir.
         - E por que você não descobre com seu avô?
         Mais uma vez uma risada incontrolada.
         - Já não tenho mais avô. Ele se foi há muito tempo. Agora só posso descobrir coisas nos livros.
         - Você pode brincar com a gente e descobrir um montão de coisas legais. Você pode ser um caçador de tesouros, vovô!
         - Já descobri meus tesouros, meu neto, e tenho todos eles comigo, à minha volta. É tudo que me interessa.
         - Puxa! Eu também quero ser assim!
         - Assim como? Cansado, esquecido em um canto?
         - Assim... Um herói, que tudo sabe, que sempre ensina e que tem muitos tesouros.
         - (Hahahaha ) Tem certeza que não quer ser um astronauta, um médico?
         - Hum... Médico “também” arruma um Ted como amigo pra gente “também”?
         - É... Também pode sim...
          - E ele sabe o que um avô sabe?
          - Bem... Depois de muito aprender, um médico pode vir a ser um avô também.
         - Hum... E astronauta, “também” pode encontrar muitas coisas escondidas e descobrir muitos tesouros como você tem?
          - Sim, pode sim. Um astronauta pode realizar muitas conquistas e depois se tornar um excelente avô.
          - Hum... Entendi. Um avô é bem mais que um médico ou um astronauta. Pra ser avô tem que ser muito inteligente e muito conhecedor das coisas. E eu sei disso por que só você me trouxe o Ted, meu melhor amigo. E por isso eu te amo muito, Vô. Você e o Ted. Quando eu crescer quero ser igual você e saber tudo que você sabe, e conquistar muitos tesouros igual você conquistou.
          Enternecido, o avô passa a mão pela cabeça de Thiago, com os olhos marejados de emoção.
         Thiago sai correndo sentido-se impregnado da energia que o transformara em um ser bem mais forte que era antes, mais corajoso, mais sagaz, já se imaginando em uma nova perigosa aventura.
         - Venha com Thiago Grande Avô, amigo Ted-Cão, temos muitos tesouros pra conhecer por ai. Vamos!
         - Au – Au – Auf!




 
Walter Peixoto
Enviado por Walter Peixoto em 18/04/2012
Código do texto: T3620599
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