Desvendando Renata* ( Reeditando)

(Dedicação)

Por Cintia Gushiken

Criado em 1999, Tupã (SP), antes da vinda a Natal-RN

Ela caminha descalça pela grama. Madrugada adentro ela anda, canta, dança, roda. Noite chuvosa que sustenta seu sofrimento, folhas caídas no chão, folhas que forram o estômago. Assim, ela constrói a própria história, os próprios momentos e minutos.

Passos que madrugam em apenas um, em apenas um só.

Renata, a pálida dama da noite, valsa com os olhos fechados e com a alma necessitada de complemento.

De uma busca que é imortal.

Renata espreme as lágrimas, logo o dia amanhece e vê-se diante do lago quase seco, quase sem vida.

Dia nublado revela o aroma da mata parasita celebrando as últimas gotas d’ água. Ela se aproxima, primeiramente molha os pés, os cantos do vestido que cobrem as pernas e por ser fino transparece a palidez do corpo tão desnutrido de encantos. O lago quase seco alcança os longos cabelos de fogo.

Seus olhos se perdem e ao sufocar-se com palavras, expulsa poemas instantâneos.

Minhas mãos se lançam para o céu

Eu proclamo feito palavras

‘Porque o grito’

Se perderá em algum silêncio

(sozinho)

Por seu nome

Pelo mínimo maior

Pelo máximo menor

E se esse complexo

Se denominar Renata

Não tente compreender

O porque da vida

Em mim,

não mais habitar.

Palavras, gemidos e a mão amparando o ventre, dores agudas e graves, contrações... enfim, o útero expulsa a herdeira para o mundo do submundo. De tão frágil, Renata apenas sente forças para aquecer a pequena nos seus braços.

(...)

-Vida, a esperança está em você, eu sua mãe não consegui vencer as trevas e assim como seu pai, te deixarei neste mundo, mas não a esquecerei nunca, esteja eu onde estiver.

Vida, o início, atravessa os olhos da mãe e observa suas lágrimas que aos poucos se secam feito o lago quase sem vida.

(...)

Folhas que forram o estômago...

* Renata, é uma personagem viva, alguém que vaga pelas ruas de uma cidade sempre vestida de luto, ela possui um visual angelical acompanhado de muita delicadeza e dor... cabelos longos, rosto bem alinhado e maquiado com muita tristeza que pouco sorri. O motivo de sua dor é consequência traumática da perda de dois amores, em acidentes e enfermidade, consecutivamente.

Cintia Gus
Enviado por Cintia Gus em 15/04/2012
Código do texto: T3614595