O DESFECHO
 
Tudo acabou sem dramas, sem dores, sem ressentimentos. 

Apenas acabou e pronto!


Sem abraços nem sorrisos.

As cortinas se fecharam no palco da vida e na platéia, nas cadeiras vazias, ninguém assistiu ao último ato, ao desfecho.

The end.

Os momentos vividos nem mesmo ficaram na lembrança. Nada restou a ser lembrado.

Poucos foram os momentos felizes, pouquíssimos...

Então, quando a porta se fechou e ela se viu sozinha na sala de móveis  pesados e sombrios, num ambiente apagado, sem vida, olhou ao redor e  sentiu um alívio.

Um alívio reconfortante, de poder respirar, viver, sorrir, chorar.

Uma liberdade que o tempo a tinha feito esquecer que é possível sentir.

 Então começou a rir. Rir de si mesma por se ter deixado dominar por sonhos, ilusões, por juramentos feitos na igreja, diante do padre e testemunhas.


Falsos momentos, falsas juras, falsos sonhos!

Estremeceu ao pensar em situações vividas. Então reagiu...e naquele momento, naquela solidão abençoada e só dela, jurou que dali em diante seria extremamente feliz.

Iria em busca desta felicidade mesmo que fosse no fim do mundo. Agora era livre...livre para novos sonhos...nova vida!

Lentamente caminhou até a mesinha ao lado do sofá, pegou seu cigarro e o acendeu com o isqueiro dourado, chique e elegante, como tudo que havia naquela sala.
Sua tragada foi lenta, funda.
Deixou que a fumaça a envolvesse. Seus pensamentos ao longe, divagando...


O tempo agora tinha que ser recuperado.

Quantas viagens, lugares que sonhava conhecer...

PARIS...sonhava com esta cidade!
A cidade LUZ como diziam seus amigos.

Navegar pelo Sena, a torre Eiffel, Champs Elysées, a rua mais “chic” de PARIS, Notre Dame, e o sonho dos jardins de MONET! 

Ou então VENEZA! Suas gôndolas, o barqueiro cantando ‘O SOLE MIO...

Iria...ja estava decidido. Para algum lugar iria.

Seria o primeiro passo para sua nova vida!

Apagou o cigarro e ali, naquele momento, decidiu deixar aquele vício. Mudanças precisam ser feitas em todos os detalhes...e esse era  um detalhe mais do que importante.

Pegou as chaves da casa e saiu pelo caminho que dava acesso à praia.

O dia já estava terminando. O sol se escondendo atrás das montanhas, as gaivotas em suas últimas revoadas do dia.

Pisou na areia afundando seus pés, sentindo a textura e o calor, restos do sol daquele dia de verão.

A brisa gostosa do mar tocou seu rosto provocando um leve arrepio. O cheiro de maresia invadiu suas narinas e sentiu no ar aquela melancolia que  todo entardecer traz.

Como era bom estar ali, curtindo o silêncio e ao mesmo tempo ouvindo o som do mar, o vai e vem das ondas quebrando na areia.
Uma melodia incessante.


O sol foi se escondendo lentamente, sumindo entre as montanhas ao longe.

O céu foi escurecendo e a lua chegando, iluminando as águas, iluminando a noite, iluminando seu coração.

O mar, então, ficou prateado,
e ela agradeceu à vida!

 
Heloisa Crosio
Março 2012


foto: o mar lindo de  São Jose do Norte, RS








 
 
 
 
Heloisa Crosio
Enviado por Heloisa Crosio em 14/04/2012
Reeditado em 14/04/2012
Código do texto: T3613167
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