Angelina

- Como ela cresceu, Railda!

- Sim!

- Faz tempo, né?

- Seis anos.

- Deus que proteja ela.

- Ela está num lugar seguro.

- O que importa é que essa coisa fofa está casa vez mais bonita...

- Graças a Deus. Ela é minha vida.

Dona Zazá saiu pela porta e a avó foi até a menina. Parou de frente e deu-lhe um beijo na bochecha..

- O que foi isso, Vó?

- Ah, só é carinho.

- Eu, heim!

- Vai tomar banho, está na hora de comer.

- Não tem aula hoje.

- Mesmo assim precisa comer.

- Mas pra comer precisa estar limpa?

- Pará de ser desse jeito?

- Que jeito?

- De questionar tudo.

- Vovó?

- Que foi?

- A gente vai passear domingo? Queria ir no parque.

- Se seu tio tiver ai eu peço pra ele te levar.

- Ah, vó. A senhora nunca me leva.

- Vovó não sabe andar assim.

- Sabe sim!

- Não nesses lugares compridos.

- A senhora que não quer.

- Vai logo tomar banho e larga de conversa. Quando terminar me chamar pra te pegar.

Dona Railda foi pra cozinha. A noite comeria gostoso. Já fez o cardápio,

Sopa e mandioca e pão de sal. Uma delicia!. Pensou, enquanto fazia o prato de de Angelina. Preparava o prato e ria por ter uma flor dentro da sua casa. “Menina levada dá vovó”

- Já terminou?

- Ainda não!

- Não gasta tanta água desse jeito.

- Pega a toalha.

- Quantas vezes tenho que falar: Quando ir ao banheiro levar a toalha.

- A água ta bem geladinha, vovó!

- toma a tolha, vem logo comer, que vou sair.

- Eu vou com você?

- Só se você se comportar.

A casa de dona Railda ficava no fim da rua, bem na frente da Padaria de Elson. Morava ali desde quando se casou. Essa casa pertenceu ao seu pai, que lhe deu de presente quando se juntou com Mário França. Teve muitos filhos, que se mandaram pra cidade grande. A única que ficou foi Marta, que antes de enlouquecer lhe deu esse presente. “Parece que foi coisa de Deus”. Foi de repente, dizia ela a quem perguntasse. Uma menina cheia de vida. Um dia surtou. Saiu na chuva, sem rumo. Só foi encontrada dois dias depois, chorando muito e nunca mais soube quem era. “Aquele pavor não saiu mais da minha menina”

Hoje está internada no manicômio de Santana. Pelos menos uma vez na semana vai visitá-la, nunca levou a neta. Preserva a menina de tamanha tristeza. Quando ela pergunta se tem mãe. Ela lhe responde: “Sua mãe está num lugar muito bonito. Um dia, talvez, ela volte”. A pesar da ausência da mãe, a menina foi criada como uma flor, com todo cuidado que uma criança precisa.

- Queria usar outro vestido

- Qual que você quer?

- O de borboletinha.

- Aquele está sujo. Não deu tempo de lavar.

- Então, o de..

- Fala logo, nenê, estou morrendo de pressa.

- E aquele que tia Maria deu.?

- Esse está apertado em você. Quando ganhou só tinha quatro anos.

- Então não sei.

- E o verde que você usou no natal?

- Vovó, Onde você vai?

- Visitar Comadre, Nita.

- Ah, pensei que fosse em outro lugar. Ela é chata!

- Pode ser o verde?

- Pode! Vou ficar aqui, não quero ir.

- Sozinha?

- Sim

- Não tem medo? Vou demorar até mais tarde.

- Eu fico vendo televisão, vó.

- Então pode vestir qualquer .

- Mas eu posso ficar assistindo televisão?

- Pode.

- Obaaa!

- Não abre a porta pra ninguém. Viu?

- Vó?

- Que foi?

- E o perfume, posso usar?

A vó riu e deu um apertão forte em Angelina. Deixou ela terminando de se arrumar.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 12/04/2012
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