Rabisco sem estilo
Andei lendo o velho safado.
Sorvi muitos goles do seu álcool vagabundo, cambaleando de boteco em boteco, no meio de bêbados, gente escrota, bandidos, poetas e escritores marginais, prostitutas decadentes, filósofos loucos atulhados em pensamentos incoerentes e insanos, músicos viciados mendigando pelos becos sórdidos imundos, debulhando seus blues lamuriantes em troca de míseros dostões.
Fatalmente a embriaguez me veio de soslaio, e não pude deixar de rabiscar alguma coisa miserável sobre o assunto.
Entre vários textos, curti na pele suas andanças pelo seu mundo sofisticado do estilo; extraí do poema construído sob sua ótica doida, escrachada mas lúcida, que estilo é algo especial inerente a poucos mas ironicamente pode ser a resposta de tudo. Entendi que em muitas circunstâncias é possível ver estilo sem que haja estilo algum.
Com efeito, já vi destemperados com muito estilo, sobretudo na esfera da música, e aqui não me refiro ao estilo musical, mas aos malucos que ousaram de forma original a arte de construir sons e sobressairam no marasmo mediano. Dentro do estilo, criaram com estilo outras geniais leituras musicais, transpondo as barreiras dos puristas.
Coltrane, Zappa, Hermeto, Janis, Elis, Jobim, Tom Zé, Novos Baianos, Stravisky, Hendrix e alguns outros. Cada qual com suas ferramentas demoníacas, profanas aos olhos ortodoxos, expressaram ou ainda expressam essa arte maravilhosa com estilo próprio.
Mas o velho safado escreve com propriedade de causa e sentido sobre o estilo, o estilo impregnado nas atitudes comuns, na vida cotidiana, nos objetos, nas sutilezas momentâneas de cada um. Diz com peculiar estilo sobre o estilo.
Sem nenhum estilo, tornei-me ébrio de Bukowiski.