O preço da vida

O dia começava lindamente ensolarado à beira daquele mar de um verde intenso e convidativo. O grupo de amigos acordara cedo e agora observava, deslumbrado, o horizonte em que um dia Cabral e sua esquadra navegaram. Não faltaram opiniões sarcásticas e divertidas sobre como seria nosso país hoje se Cabral tivesse dado meia volta.

Algumas horas depois, os pescadores voltaram de sua lida. Entre redes e linhas, muitos peixes chegaram à areia agitados, fazendo uma enorme porém silenciosa algazarra, para deleite dos banhistas. Uma pequena aglomeração se formou em torno do resultado da pescaria matutina, sinalizando qual seria o almoço de muitas pessoas naquele dia.

Porém um peixe em especial chamava a atenção. Era um bagre. Não o peixe em si, que outros bagres havia em abundância – uma praga para os pescadores, por causa de seu tamanho reduzido e quase nenhum valor comercial. Mas este bagre era diferente. Era um peixe muito grande, pesando cerca de 10 quilos, com o anzol ainda enfiado em seu lábio grosso, debatendo-se lentamente na sua grande resistência.

Um dos amigos do grupo matutino observava especialmente aquele peixe cinza-azulado, com os ferrões eretos e a pele brilhante. O pescador logo imaginou que aquela seria uma boa venda: sabia que um bagre bem feito ficava delicioso. Sua mulher era especialista nesse peixe, sabia tirar bem as entranhas, limpar o visgo da pele, fazer pirão com a cabeça.

- Quanto você quer por esse bagre? – perguntou o homem ao pescador.

- Sessenta – respondeu o rapaz, titubeando um pouco por não ter tido tempo suficiente para ponderar sobre o valor.

O homem tirou o dinheiro da carteira e entregou ao pescador, que por sua vez forneceu ao homem uma luva de raspa para pegar o bicho, que ainda se debatia. O restante do grupo, animado, já discutia quem faria a caipirinha enquanto o amigo limpava aquele bitelo. Com o acompanhamento todos concordavam: batatas cozidas e... cerveja!

Ele pegou o enorme bagre e foi até a beira do mar. Deu uns passos e, com delicadeza, mergulhou o peixe na água, segurou-o um pouco e depois o soltou. Pode ver, através da água límpida, ele se afastar - lentamente no começo, rapidamente no final, até sumir no verde profundo do mar da Bahia.

Os amigos, os pescadores e todos os que estavam aglomerados em torno dos peixes expostos na areia o olhavam, estupefatos. De repente, seus amigos foram até ele e o cumprimentaram, xingando-o de todos os nomes, com sorrisos, pancadinhas nas costas e tapas na orelha. Os pescadores se divertiam com a cena e, aos poucos, começou uma duradoura salva de palmas.

Naquela noite, no bar da cidadezinha, o homem foi reconhecido por todos e era frequentemente apontado enquanto corriam histórias sobre o turista que salvou o peixe. Enquanto isso, ele ponderava: sessenta reais, uma vida salva e herói por um dia... investimento mais do que rentável.

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Baseado em história real, contada pelo amigo Danilo.