O convento
Numa tarde de novembro, parou-se um carro á porta de um convento numa tarde azulada daquelas que o sol morre no horizonte desceu-se do carro uma moça que tinha ao seu lado um homem.
João Pascal era pai da menina Luísa, trazia a filha para metê-la num convento, era promessas de sua mulher Carmem Pascal que tendo a filha por morta duma pneumonia rogou a Deus que se lhe valesse e não lhe levasse a única filha, colocaria a pobre menina num convento pra servir a Deus. Enfim, aos poucos a graça foi alcançada, o rosto antes pálido da pequena, agora corado como figo, a menina tinha se curado da moléstia.
Luísa crescia cada vez mais forte e linda, tinha dotes e formosura sem igual, prendada tocava piano que aprendeu com a tia e era boa costureira. E assim crescia a pequena sem saber do que o destino lhe reservava. Aos dezessete anos, a mãe fez valer a promessa metendo a moça num convento, depois de choros e despedida a mãe deixou-a ir.
Em pé na porta do convento Maria das Graças, Luísa de sorriso triste, pediu benção ao pai e foi conduzida ao quarto por uma freira chamada Teresa. O convento era grande, Luísa acompanhava á passos rápidos a freira, observando todo aquele mundo fechado.
Seguiram as duas por um corredor, chegando ao quarto.
-É pequeno, mas é confortável, queres comer alguma coisa Luísa?
Luísa acenou negativamente com a cabeça.
-Então deixou- te sozinha para que desfaça as malas e arrume o quarto ao teu agrado.
Luísa sentou-se na cama, observava o quarto pequeno, um crucifixo pregado na parede no alto da cama, era o símbolo do ambiente religioso em que se meterá por promessa da mãe. Queria esquecer que estava ali, não era a sua vocação, mas não ousava contrariar a promessa da mamã. Recordava que quando era pequena a mãe lhe contava historia sobre freiras e dizia-lhe que quando crescesse daria uma linda freira, a mãe aconselhava a seguir no caminho de Deus, esta quando completava ano a mãe lhe presenteava sempre com rosários, santos, objetos de cunho religiosos, mandava-lhe ler a bíblia, levava a pequena constantemente à igreja. A mãe tinha um amigo, o padre Agostinho que conversava com a pequena e sabia da promessa da mãe sempre a incentivá-la a ser freira.
Luísa levantou-se, chegou perto da janela e correu os olhos sobre o lindo jardim ao redor do convento, seus olhos encheram-se de lágrimas, sentia-se presa aqueles murros, cercada por freira. Deitou-se novamente na cama, recordando dos bons momentos que passava na casa da tia Odete, A tia Odete era uma velha quarentona, casada com Simão um rico fidalgo, Luísa deliciava-se com as belas tardes que passava ao lado da tia, escutando a tia tocar com perfeição melodias no piano, se interessava pela musica, quando a pequena tinha dez anos a tia ensinou a tocar, dai provinha sua sabedoria em tocar tão bem piano. Odete não tinha filhos, queixava-se de Deus de não ter lhe dado fertilidade, era estéril. E tratava a Luísa por sua filha, chamava-lhe menina Luísa.
Carmem vinha buscar a filha na casa da irmã, esta contava como a menina era prendada e as lições que a pequena aprendia com rapidez, dizia a Carmem que a menina lhe fazia muita companhia naquelas tardes solitárias em que o marido trabalhava até altas horas. Sentia-se triste quando Luísa ia embora era como se apagasse a luz da sua vida.
Sabia da promessa que Carmem tinha feito para a pequena, mas não aceitava tal destino para a moça, uma vez ou outra ralhava com a irmã, dizia-lhe que tinha pena da menina porque esta não tinha escolha como as outras moças.
- Ora mana, pede desculpa a Deus, e retira esta promessa.
-Estas loucas minha irmã, sabes que é para o bem da pequena.
- Deus irá entender se a pequena não tiver tal vocação
-Promessa é promessa, não se quebra nem com um vizinho imagina com Deus, ele fez a parte dele, tenho eu que honrar com a minha.
- Pobre coitada! Dizia Odete.
- Que nada, tantas raparigas vão para o convento e sente feliz lá, louvando e servindo a Deus.
- Terá tal vocação a menina?
-Se não tiver que aprenda, e cá tenho eu, o padre Agostinho que de vez em quando vem aqui incentivá-la a servir a Deus.
- Não concordo que tiras a pequena assim de mim, e de ti também, fazendo tanta falta a nós.
- Promessas são promessas! Dizia Carmem
Odete irritava-se e saia pisando forte.
Na véspera de Luísa entrar no convento a tia mandou-lhe chamar. Aos prantos tia Odete abraçava a sobrinha que chorava também.
-Minha pequena, Já que Deus não me deu filhos, tenho você como minha filha, sabes bem que tenho enorme amor por ti pequena.
-Não chores tia, lhe escreverei, mataremos nossas saudades por cartas enquanto eu cá não poder vim.
- Ingrata tua mamã, arrancar de mim minha companhia das belas tardes, minha aluna, mas está certa Luísa, enxugarmos as lágrimas que não estamos de luto.
Luísa passou o dia com a sua tia, quando lembrava que amanhã estaria num convento algo lhe apertava o coração.
Continua....