OS SEIOS DA MINHA NAMORADA
Afonso e Elis saíram juntos pela terceira vez. Foram ao cinema assistir a um filme de ficção científica. No meio da fita, de repente, apareceu uma linda mulher nua. Seus seios eram generosos e naturais. Auréolas rosadas e de grande diâmetro. O pênis de Afonso imediatamente acordou e revelou, através do volume que fez sob a calça, a sua excitação ao ver a cena.
Afonso, vinte anos, quinze graus de miopia. Os óculos, fundo de garrafa, desde os sete o fizeram sofrer humilhações dos colegas de segundo grau e das meninas por quem se apaixonava que o chamavam de CDF. Quando completou dezoito, radicalizou e pediu aos pais, de presente acumulado de aniversário, formatura e natal, uma cirurgia corretiva visual. Ganhou. Fez.
Abandonou os óculos, mudou o penteado, adotou um corte arrepiado. Engordou um pouquinho com uma dieta mais reforçada e acabou ficando bonito. Continuou tímido e gentil. O adeus às grossas lentes revelou um moreno claro de olhos castanhos e atraentes. Só pôde estrear o novo visual na faculdade de comunicação.
Logo no primeiro semestre conheceu Elis. Era uma menina rica, que morava no Leblon e estudava em sua sala. Somente no fim do primeiro ano se tornaram amigos mais próximos, depois de alguns trabalhos em grupo.
No primeiro encontro foram a um shopping à tarde, só por amizade. Na segunda vez, um chopinho à noite. Depois, deram uma esticadinha no motel. Afonso perdeu a virgindade. Elis já havia transado com outro namorado. Afonso lembrou de colocar o preservativo. Adorou a iniciação. Elis teve três orgasmos verdadeiros. E ele nem se importou com os seus seios pequenos.
Um ano mais nova do que ele, Elis só tinha uma pequena saliência em seu tórax levemente bronzeado e liso. Suas aréolas eram largas e escuras. Moça magra de cabelos ondulados cor de mel aparados à altura dos ombros, olhos verdes. O que Elis não tinha na frente, tinha atrás. Suas nádegas eram redondas, proeminentes e convidativas. Mas isso nunca interessou Afonso e sim as suas idéias. Diferente dele, Elis era mais extrovertida e adorava conversar. Suas colocações eram positivas e transmitiam alegria.
Uma viagem imprevista ao exterior afastou Elis de Afonso por um mês. Quando voltou ao Rio, reataram o namoro. Acostumado aos seios mínimos de Elis, Afonso não se importava mais com o seu corpo. Só lhe interessavam a inteligência e o alto-astral da namorada. Mas a cena de nudez não saiu mais de seus pensamentos.
Ele ficou constrangido em excitar-se com a mulher de seios grandes. Ela, ciumenta com a excitação do namorado. Afonso pediu para ir embora do cinema. Elis concordou.
No mês seguinte, Afonso e Elis estavam voltando juntos da faculdade em Laranjeiras quando uma banca de jornal apareceu no caminho do casal. Em destaque uma Playboy recém-saída da gráfica. Na capa uma morena de seios grandes naturais iguais aos da moça do filme. Afonso inventou uma desculpa dizendo ir comprar uma revista de carro.
— Você não vai comprar essa Playboy, vai Afonso?
— Não, não, amor.
À noite, na banca 24 horas perto de sua casa na Tijuca, Afonso conseguiu comprar a revista sem a vigilância da namorada. Trancado no banheiro, viu a bela morena da capa, uma gaúcha com os seus generosos seios naturais e auréolas grandes e rosadas como a da mulher do filme. A moça, chamada Teresa, tinha pele clara e olhos negros, cabelos cacheados da mesma cor. Também havia uma japonesa com peitos siliconados e uma loura carioca com os seios pequenos, como o de Elis. Não se masturbou.
Na hora do jantar, viu uma reportagem no Jornal Nacional sobre os perigos da cirurgia plástica por vaidade. Ficou com medo de pedir para a namorada colocar silicone. Esqueceu o assunto.
Elis, em sua cobertura no Leblon, comprou a mesma revista só para se comparar às mulheres e viu a mesma matéria na televisão. Ao contrário de Afonso, amadureceu a idéia de aumentar a mama.
Os dois transaram mais cinco vezes. Uma no mesmo motel da primeira vez, em Botafogo. As outras quatro alternando entre a residência de cada um. Na primeira volta ao sexo, no motel, Afonso gozou e Elis teve três orgasmos, um deles fingido. Nas outras duas vezes, Afonso não gozou e Elis teve um prazer de verdade e outro fingido. No quarto, Afonso voltou a gozar, mas Elis fingiu o único orgasmo. Na última, na casa de Elis, Afonso broxou. A moça ficou indignada, mas perguntou carinhosamente, cobrindo o seu corpo nu com o lençol.
— Calma, meu amor! Isso acontece. Mas você está preocupado com alguma coisa?
— Não. Respondeu tensamente Afonso, sentado na cama, cobrindo com as mãos a cabeça abaixada. Em seguida, levantou-se sem roupa, virou-se de costas para a namorada exibindo a sua bunda alva de neném, vestiu a cueca samba-canção e volta a encarar Elis com uma fisionomia triste.
— Eu posso te pedir uma coisa?
Já imaginando que Afonso vai lhe pedir que faça um implante de silicone, Elis se precipitou com olhar distante.
— Eu também pensei nisso, mas tenho medo.
— Medo de me perder? Pergunta Afonso.
— Também. Mas tenho medo de morrer.
— Mas não era isso o que você está pensando que eu ia te pedir. O que eu quero é que a gente dê um tempo em nossas relações sexuais.
Nervosa, Elis desconfiou imediatamente do motivo do pedido de Afonso e descarregou aos gritos.
— Você quer me deixar porque eu tenho peito pequeno, não é? Você está enjoando de mim! Só está pedindo isso porque quer arrumar um pretexto para levar uma peituda pra cama! Em seguida, Elis cai no choro. Afonso lhe acariciou as costas mas Elis se esquivou. O rapaz se justificou.
— Mas eu sou apaixonado por você, Elis. Com ou sem peito.
— É mentira! Você está cansado de transar com uma tábua. Desde o dia em que aquela mulher pelada apareceu no filme você mudou comigo! Aposto que comprou aquela Playboy! Berrou Elis que se levantou nua de sua cama, abriu o armário, pegou a revista e mostrou para Afonso. — Quer saber de uma coisa? Eu também comprei. Aqui, ó! É disso que você gosta? Apunhalou o dedo no pôster aberto da gaúcha antes de jogar a revista contra o namorado. — Se você não comprou, toma! Vai se masturbar na sua casa! Mas na minha não! Sai daqui!
— Mas eu não quero que você ponha silicone no peito. Você é linda assim.
— E quem disse que eu vou turbinar o meu peito? Eu tenho orgulho dele. Exibe-se Elis com raiva, alisando o pequeno seio que cabe em suas mãos.
Afonso ficou irritado com a revolta de Elis e encerrou furiosamente.
— Então tá, Elis! Eu tinha gostado de você como uma companheira. O que me fez me apaixonar por você foi a sua generosidade, a sua simpatia, as suas conversas. Te acho muito bonita também! Reconheço que os seus seios são pequenos, sim, mas eu não estava preocupado com isso! Só ia te pedir para darmos um tempo na nossa vida sexual! Agora, se você quer sexo todos os dias, que vá procurar um garoto de programa porque eu não quero mais namorar você! Passar bem! Despediu-se Afonso, recolhendo as suas roupas no chão e vestindo a calça jeans enquanto ia embora da casa da ex-namorada que não reage. No chão, a Playboy.
Depois de muito chorar na cama, levantou-se e olhou-se no espelho segurando os seios. Decidiu colocar o silicone como prova de amor a Afonso. Foi, no dia seguinte, a uma clínica perto de sua casa, sem falar com a mãe. Pagou a operação à vista.
O cirurgião marcou com caneta a área para a cirurgia. Foi anestesiada. No dia seguinte o médico tirou o curativo que revelou dois perfeitos seios que nem pareciam moldados por silicone. Colocou 300 mililitros em cada lado. O médico comentou:
— Como eles ficaram lindos!
Elis teve uma crise de choro e desmaiou. Teve uma reação alérgica. Entrou em coma. Morreu três dias depois. Com raiva da namorada, Afonso nem percebeu a ausência de Elis na faculdade no dia seguinte à discussão. Um dia, teve um sonho em que ela o convidava para apalpar os novos seios. Quando estava quase apalpando, um toque de celular intromete-se no ritual. A mãe de Elis lhe disse secamente.
— Elis morreu.
No velório, Afonso encontrou a primeira namorada mais branca do que de costume. Os olhos verdes de Elis estavam escondidos serenamente pelas pálpebras sombreadas. Seu corpo estava dentro de um caixão de madeira escura com alças de ouro, sobre um forro de seda vermelho. Flores. Sudário bege cobrindo o seu vestido branco que usou na festa dos seus quinze anos. Decotado, revela os novos seios empinados, apontados para o céu, que Afonso não pôde apalpar em seu sonho. Afonso teve uma crise de choro sobre o seu caixão.
Um pouco mais calmo, mas ainda abalado, conseguiu forças para consolar a mãe da namorada morta. Uma senhora de sessenta anos toda vestida de preto, pele branca enrugada, olhos verdes como os da filha. Rancorosos.
Após abordá-la pelas costas, Afonso tentou dizer, mas acabou tropeçando no pranto.
— Meus sentimentos, minha senhora.
— Assassino.
Ficou quatro anos sem namorar. Quatro anos sem sexo. Formou-se em jornalismo. Foi trabalhar em um jornal. Um dia, lhe foi passada uma pauta para entrevistar a mesma morena gaúcha da Playboy.
A morena encantou-se por Afonso. Depois de uma semana já se assumiram como namorados e foram para o motel. Afonso voltou a gozar. Teve um orgasmo. Gritou o nome de Elis. Teresa frustrou-se e quis saber quem era Elis. Ao invés de responder, Afonso disse delicadamente.
— Posso te pedir uma coisa?
— Pode. Concordou Teresa, recostada na cabeceira espelhada do motel. — Mas antes me diz quem é Elis.
— Depois eu te respondo. Mas antes me promete uma coisa.
Para não ficar se prendendo aos rodeios de Afonso, Teresa concordou resignada, apoiando o seu corpo sobre os ombros do novo namorado.
— Está bem, amor. Pode pedir então.
— Faz uma plástica para reduzir o seio?