Manequim

Ela realmente não sabia o que estava fazendo ali. Sua consciência dizia repetidamente: “Não vá Alice!”, mas uma imensa vontade de enfrentar de uma vez aquilo foi mais forte que a sua “razão”. Seu coração batia mais forte cada vez que ia se aproximando. Talvez não tivesse total certeza, mas no fundo sabia que tudo poderia enfim se resolver ali. Não sabia ao certo como iria reagir, durante todo o percurso pensava o que falar, o que fazer, ou pior, se iria se conseguir se manter equilibrada.Tudo o que tinham vivido, toda a felicidade que compartilharam,em instantes poderiam simplesmente acabar .Mais alguns passos naquela rua e logo avistou a casa.Parou na frente,respirou fundo e passou a obsevar todos os detalhes que lhe descreveram e surpreendentemente era tudo verdade.Não sabia se conseguiria entrar e talvez encontrar ali a “estória” que lhe foi contada.Recuou alguns passos e pensou em desistir, entretanto uma sombra na cortina da janela lhe chamou a atenção: “Era ele!” Incerta do que fazer, mas determinada a acabar com aquela angústia subiu os degraus e tocou a campainha.Não obteve resposta.Tocou novamente , e escutou passos lentos vindo em direção á porta.Ele abriu a porta e muito surpreso olhou-a e não pronunciou uma palavra.Por alguns segundos se encararam em silêncio.Com um aceno ele convidou-a para entrar.Mesmo hesitante entrou e instintivamente começou andar pela casa procurando talvez por “ela”.Ele aparentemente calmo , a seguiu e continuou em silêncio.Estranhamente na casa não haviam muitos móveis .Da sala Alice avistou uma réstia de luz de uma porta entre aberta no final do corredor e pensou :”Está lá”...Praticamente correndo chegou em frente a porta e de olhos fechados a empurrou vagarosamente, pois , ainda tinha a esperança que isso não fosse real.Para sua surpresa, ao abrir os olhos viu apenas uma escrivaninha com muitos papéis desenhados, uma máquina de costura e alguns manequins com belíssimas peças.Virou-se novamente encarou-o com um ar de dúvida e perguntou: - O que significa isto? Ele subitamente respondeu: - O que sempre eu quis ser!Ela não entendeu e replicou: - Onde ela está? Com um sorriso Ítalo respondeu: - Ela não existe, mas eu sempre existi em segredo até agora. Sente-se e posso lhe explicar tudo. Assustada sentou-se e ouviu atentamente toda a história. Ele lhe falou de quando descobriu que tinha talento e de que quando teve certeza que queria trabalhar com moda, resolveu falar com seu pai, mas levou uma surra e foi obrigado a nunca mais falar sobre isso. - Lembro-me do meu pai dizendo que nunca iria ter o desgosto de ter um filho mariquinha, que seu filho só poderia ser um doutor porque isso sim era profissão de homem, disse Ítalo num tom de tristeza. Falou também que resolvera depois de tantos anos frustrado como médico, que merecia ter um refúgio onde poderia ser livre para criar sua moda. Ela então entendeu porque lhe contavam que ele sempre ia à loja de tecidos para comprar duas vezes por semana um tecido diferente. ”E eu achando que ele comprava para ela fazer roupas”, pensou Alice rindo disto. Tudo fazia sentido: plantões na clínica quase todos os dias, cortes nos dedos, enfim tudo se encaixava. Quando terminou de falar tudo ele a olhou e ficou esperando ela dizer alguma coisa. Percebendo isso ela disse: - Amor!Porque você não me disse isso antes?!E eu este tempo todo gastando muito dinheiro com roupas horríveis!

Bárbara Nayara
Enviado por Bárbara Nayara em 01/04/2012
Código do texto: T3589141
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