A venda
O jovem entrou na loja e pediu
- Senhor, pode me vender um cigarro?
- Qual sua idade?
- 12 anos
- não posso, você ainda é muito criança.
- mas meu pai deixa eu fumar.
- é regra meu filho. é a lei, agora saia, que não quero problema com a policia.
- o senhor não poderia pelo menos me dar um do seu uso pessoal?
- Se você não sair...eu não quero ser grosso. Vai embora.
- O senhor tem chicletes?
- Sim...tenho chicletes.
- Quero duas, uma de hortelã outra de morango.
- Aqui está.
- Quanto é?
- 2 cruzeiro.
- posso pagar 1 e ficar devendo o resto.
- não. não foi isso que ouvi antes.
- então vou ficar somente com a de morango.
- onde você mora?
- No fim da rua.
- Quem é seu pai.
- Mane galo.
- O lixeiro?
- Ele não é lixeiro...
- O que ele é então?
- Agente de limpeza.
- E não é a mesma coisa?
- Não
- E o que você está fazendo por aqui?
- Vim comprar um cigarro, já falei.
- Seu pai sabe que anda fumando?
- Sim, ele que me ensinou, pra ficar calmo sabe.
- Calmo, sei...onde está ele?
- No trabalho.
- E sua mãe?
- Não vai mesmo me vender a chiclete fiado, queria também a de hortelã.
- Responde, cadê sua mãe.
- Ela não mora mais com a gente.
- Por que?
- Arrumou um outro homem.
- Meu pai bateu nela e acabou que foi embora pra outra cidade.
- Com outro?
- Meu pai não sabe, mas quer ela de volta.
O Armazém de Antônio Campos, era antigo, com balcão de madeira fechando toda entrada. Mesas de sinuca.
E muitas garrafas de bebidas tomando quase toda prateleira do canto. as paredes tinha aspecto velho
Com muito cartazes colados, amarelado pelo tempo. Estava naquele ponto há muitos anos. Toda cidade conhecia. Porque alem de bar, vendia todo tipo de grão a granel. Um vidro sobre o balcão, prendia atenção dos compradores, pois ali havia entre o balcão e vidro, dezenas de figurinhas do flamengo de 1981. Torcedor fanático pintou de preto e vermelho a fachada do prédio.
- melhor você ir.
- mas e a outra chiclete?
- não vendo fiando pra quem não conheço.
- a gente já conversou um monte...
- você é bem atrevido...
- pega o chiclete...
o menino agradeceu. Andou até a porta de saida e voltou, com a figurinha que acabou de encontrar.
- eu não queria dessa figurinha.
- o quê?
- Não veio a fugurinha que eu queria
- E...
- Preciso de uma de drãgão. Essa é de tigre.
- Hum...
- Quero uma tatuagem de dragão...
- Sai. Tchau.. não quero mais conversar com você.
- E se eu varrer a venda, eu sei varrer, aprendi com minha mãe.
- Não tem nada sujo aqui.
- Ta sim, olha como está cheio de pó, da alergia sabia?
- Entra, pega a vassoura nos fundos, limpa logo, te dou o outro chiclete e você cai fora. tudo bem?
- Ta bom, obrigado senhor
O menino entrou e passou uma porta que separava de um grande galpão no fundo. Havia lá botijão de gás, saco de cimento, pacote de cal, e muita lata de tinta...algumas telhas transparentes deixavam o ambiente claro. O chão de cimento corrido, estava cascudo de tanto arrastar coisas por ali. Olhou pacientemente, e logo voltou à frente contornando todos os lados do espaço com os olhos, no canto da parede, perto da porta dos fundo avistou um canário. Amarelo e bonito...
- o senhor gosta de canário?
- Você gosta?
- Sim, tenho dois, meu pai comprou.
- Canta?
- Toda hora.
- Brigam?
- Muito. Meu pai leva na feira de Tucurim. Ganha muitas apostas...
- Nas brigas.
- Sim, claro, toda semana...
- Como faço pra ver seus canários
- Quando o senhor me paga...
- Você só pensa em dinheiro é?
- Eu gosto muito...
- Varre logo fundos, que chegou um cliente...
Seu Antonio se dirigiu até a ponta do balcão, o sorriso tentava não escapar...