ESPERANÇA

Ouvia-se barulho de trem durante todo o dia naquela casa, era inevitável, pois os trilhos quase a cortavam por dentro. Dois seres humanos, e como eram humanos, habitavam aquele lar. Uma mãe e um filho, único resto daquela família que se mantinha vivo. Bernardo só tem a mãe como família desde que se percebeu como gente. Desde seus 4 anos de idade fazia um certo ritual com sua mãe, sempre que chegava em casa e a encontrava dormindo. Sua mãe, Dona Iolanda contara para ele que sempre surpreendia seu pai com uma flor de jasmim que colocava em seu bolso quando este estava dormindo. A infância de Bernardo sempre fora boa, mesmo tendo apenas sua mãe como única família. Conseguia fazer amizades tranquilamente que completavam seu círculo afetivo sem problemas.

Eis que Bernardo cresceu, agora já tinha responsabilidades, e estaria para acontecer algo que ele sempre temeu: teria que ficar longe de sua mãe por um bom tempo. E ainda por cima sua volta não era garantida. Ele serviria o exército numa missão das mais complicadas onde não era rara perda de pessoal humano. Sua mãe chorou o que pôde e o que não pôde, mas disse a ele que, como sua partida era inevitável, quando lembrasse dela se esforçasse ainda mais, se entregasse com toda a garra e coragem que tivesse. Bernardo ouvindo tais palavras e seguindo seu próprio jeito de ser, não costumava dizer não às suas responsabilidades, pegou o trem e viajou.

Chegou a temida hora, estava já em combate. A cada companheiro seu abatido lembrava de sua mãe e se perguntava se não teria ele o mesmo fim. Por outro lado, as palavras de sua mãe ecoavam em sua mente. Decidiu ir em frente sem dúvidas, sem medos e com toda a bravura que pudesse ter, mesmo que isso custasse sua própria vida.

Passou-se o tempo, era fim de ano, o natal tinha sido o pior que já havia acontecido naquela casa, nenhuma notícia, era desesperador para Iolanda, tudo levava a crer que seu filho já não estava mais vivo. Mas, nenhuma confirmação vinha de fonte nenhuma de que seu corpo tivesse sido encontrado, ou que realmente tivesse levado esse fim. Então, todos os dias Iolanda se “mudava” para a estação de trem na esperança de voltar a ver seu filho novamente.

Ela já estava dizendo a ela mesma que não agüentava mais aquela vida, vivendo quase como uma mendiga naquela estação de trem, aquele deveria ser seu último dia ali, suas esperanças já quase não existiam. Eis que adormeceu. Via um campo de batalha, muitos disparos, e seu filho no chão cheio de sangue, então sentiu um forte cheiro bem familiar, sim, era jasmim. Eis que acordou daquele terrível sonho e se surpreendeu com seu filho muito abatido, ferido, mas nada disso importava, o que importava é que ele estava ali na sua frente, e vivo, sim, vivo!! Eis que era como se ela tivesse nascido de novo, havia esperança e gosto de viver novamente, formavam novamente uma amorosa família que ainda romperiam o quase findado ano junta e feliz como nunca.

Frank Santos
Enviado por Frank Santos em 23/01/2007
Reeditado em 24/01/2007
Código do texto: T356519