Um olhar, e tudo mudou
Não tirava da cabeça aquele olhar percuciente que vira de soslaio naquela manhã quando deixava os filhos, já atrasada, na escola. Ele estava numa esquina como quem esperasse alguém. Não conseguia lembrar-se da fisionomia do dono daqueles olhos, apenas do olhar que quase a deixara nua.
“O que era aquilo, meu Deus” pensou a bem comportada Ednalva.
Jamais imaginou que um olhar causasse tanta transformação na sua vida como o daquele estranho.
De fato, desde aquela manhã Ednalva não foi mais a mesma. Com quase 15 anos de casada descobriu naquele dia, depois do encontro com os olhos do desconhecido sujeito, que ainda era uma bela e atraente mulher.
Ao chegar em casa, com o coração aos pulos, foi ao espelho grande do quarto e com ele começou a interagir. Passou as mãos em concha no rosto ao redor dos olhos como quem quisesse tirar as poucas rugas que ali já se estabelecera; levantou os cabelos longos girou o pescoço para um lado e para outro, passou as mãos pela barriga e cintura indo até a altura das grossas coxas, retornando-as pelo mesmo caminho até os negros cabelos.
“Eu ainda estou viva e bonita!” vibrou interiormente Ednalva.
Desde aquela tarde a rotina de Ednalva começou a sofrer algumas transformações. A primeira delas, depois da redescoberta da beleza esquecida ao longo dos 15 anos de casada, foi não chegar mais atrasada na escola dos filhos, o motivo era só um: reencontrar o dono daqueles olhos que a fizera sentir o que não sentia desde o dia em que conheceu o homem com quem estava casada, seu único namorado, em toda vida.
Aquele olhar do homem misterioso virou a cabeça de Ednalva. Para onde ia, para onde se voltava, aquele olhar lhe acompanhava. Até quando ia dormir, lá estavam aqueles olhos lhe atormentando o juízo.
Um dia, enquanto tomava banho, e se prepara para dormir, passou a se admirar novamente diante do espelho. Mais do que isso, passou a tocar o corpo nu.
Passou a ter orgulho dos seios ainda firmes e naquele instante intumescidos pelos frios pingos d água que caiam do chuveiro. Também gostava da bunda, bem avantajada.
Com o olhos fechados Ednalva passou subir e a descer suavemente as mãos pelo corpo ensaboado. A esquerda se ateve aos seios e a direita, se concentrou detidamente numa vagina mais do que irrigada.
Os movimentos da mão direita se aceleraram. Ednalva soltou um grito, abafado pelo som da água do chuveiro. Acabara de conseguir, mais uma vez, com as mãos o que há anos tentava com o marido: um bom, relaxante e solitário orgasmo; só que daquela vez teve a companhia imaginária do dono do diabo daquele olhar que lhe despira há três meses quando deixava as crianças na escola, que não saia mais da cabeça e que lhe fez redescobrir que ainda era uma bela e caliente mulher.