"A boina - um conto quase erótico"
Ainda cheia de trejeitos e resvalida de desejos, a
pequena menina desceu cuidadosamente cada degrau que lhe
impunha a difícil missão de reconstituir-se.
Tinha adormecido além das horas que lhe eram
impostas, assim permaneceu no quarto se refazendo daqueles
atos ilícitos e prazerosos. Não havia percebido o quanto o
tempo lhe fora ingrato, pois amadureceu ao longo da sua
adolescência, a idéia de que somente se entregaria ao seu
único e verdadeiro amor.
No dia que antecedeu ao perjúrio, a doce menina
sentiu-se tentada ao observar uma pequena imagem do famoso
guerrilheiro Ernesto Guevara, e dentro de sua inocente
mente pensava: “Que lábios carnudos, que olhar
misterioso!. Como seria estar diante deste homem?”.
Desta forma, estática diante daquela imagem
refletida nas retinas de seus olhos inebriantes, acusou-se
com volúpia a falta de controle diante do pecado. Afinal
fora educada para servir a um único homem, e este ainda
estaria por vir.
Mesmo tentada em trair seu amado, ainda que
inexistente, controlou-se desesperadamente para que não se
despisse na frente daquela instigante imagem.
Foram dados passos para a entrada daquela loja,
onde jaziam penduradas todas as formas de crueldades: Uma
camisa estampada com a imagem daquele homem misterioso,
uma boina verde com o mesmo sinal estampado num olhar de
sofrimento e de ternura e uma boca que seduzia vorazmente
aquele inocente olhar.
“Não, é só uma foto, está inerte diante de mim.”
Disse a menina em voz alta, pairando no ar a dúvida que
ficará nítida na face do balconista da loja, que a
observava cautelosamente.
Desesperada e transbordando suores díspares, a
inocente criatura deixou a loja em passos ofegantes. Ao
observar uma bicicleta encostada no poste, próximo a loja
de materiais para construção, teve de súbito a idéia de
roubá-la.
Como se aquele ato não a tornasse diferente de
nenhum ser existe naquela região, retirou com golpes
delicados e precisos o cadeado e saiu receosa montada sob
a pequena e ingrata bicicleta.
Por alguns minutos sentiu-se excitada ao praticar
um ato vergonhoso, mas logo na seqüência se arrepiou ao
sentir suas pernas contraindo-se naquele pequeno
banco. “Oras, estou a perder o juízo!”. Não pensou duas
vezes, largou a imaculada bicicleta no primeiro terreno
baldio e continuou a sua caminhada.
Mesmo sabendo de suas sandices continuou a
desejar o inconsciente, aquilo que havia deixado com
alheios desejos, sentimentos que até então somente os lia
nos romances que vinham grafados nas colunas de
entretenimento do jornal local.
Caminhando de cabeça baixa, não percebeu que mais
adiante dois jovens conversavam.
“Menina tenha cuidado”, gritou um dos rapazes.
Havia alertado a jovem que quase caíra num enorme buraco a
sua frente.
Encabulada e mórbida diante daquele enorme
buraco, desvaneceu-se e não mais sentiu o juízo, que até
então supostamente imaginou tê-lo.
Fora amparada pelo jovem que a alertou quanto ao
perigo. Com pequenos golpes de ar provocados pelo seu
hálito, o jovem conseguiu trazer a menina de volta. Olhou-
a fixamente sentindo o transpirar constante de sua pele.
Levantou-a e sentiu que seu corpo havia descoberto algo.
A menina fechou os olhos e desmaiou novamente. O
que fez com que o jovem a levasse para dentro de um
pequeno armazém abandonado, que servira apenas para o
descanso de alguns retirantes que ali passavam.
Colocou-a em um amontoado de palhas, fazendo-a
adormecer ebriamente. O jovem preocupado com a languidez
da menina pediu ao seu companheiro que fosse buscar ajuda
no centro da cidade. E assim o fez.
Enquanto a menina fingia um profundo sono, o jovem
pôs-se a ventilá-la com tanta intensidade que mais parecia
o próprio vento personificado. “Ah, se Zéfiros me visse”.
Disse em voz alta.
“O que disse?” Adiantou-se a menina que fingia um
sono inocente.
“Eu disse: Ah, se Severino me visse, com certeza
me mataria”. Concertou a frase incompleta alterando
Zéfiros (Deus do Vento) por Severino (um homem comum).
Ao retornar a vista para aquele rapaz percebeu
nele uma semelhança magistral com o tal homem misterioso
da foto. Observou atentamente as suas vestimentas: calça
apertada, um jeans sujo propositalmente, uma camiseta
preta sem estampas e um par de botinas verdes. Teve um
auto controle imenso, quase deixou-se enlouquecer, segurou-
se em seu fio de juízo para não abraça-lo naquele momento.
O moço como se lesse os pensamentos da menina,
levantou-a em um só golpe. Deixou seu corpo grotesco,
porém sublime, encostar ao dela. Sem insinuar qualquer
tipo de rejeição a jovem criatura olhou atentamente e como
se estivesse vislumbrando um oceano de águas doce, passou
sua língua suavemente nos lábios daquele jovem
desconhecido. Aos poucos sentiu-se íntima daquele ser e
continuou a percorrer sua língua nos lábios dele, deixando-
os cada vez mais úmidos.
Já enlouquecido pelas ações da garota, o jovem
entregou-se ao instintos que lhe eram nato. Agarrou-a pela
cintura e a puxou a seu único favor. Ela , atrevida com
seus beijos, deixou que sua mão direita deslizasse pelo
peito de seu estranho amado.
Presa a um dogma inexiste, tentou se refazer
daquele momento de insanidade, porém já envolvido, o rapaz
não permitiu que retornasse em sua pureza. Abraçou-a com
mais força e disse-lhe ao pé do ouvido: “Entregue-se ao
seu amado!”
Os olhos da pequena pareciam duas chamas, o
despudor que lhe envolvia a carne era incontrolável. Com
apenas um movimento retirou do corpo daquele jovem a sua
camiseta, abraçou-o e percorreu cada espaço de seu peito
musculoso. Tocando sua língua quente e desejosa cada
centímetro de carne. Jogou-o com intensidade sobrenatural
sob a cama de palha que havia sido utilizada por ela.
Rendida ao desejo que lhe fora induzido pela
imagem do guerrilheiro, observou atentamente os olhos do
rapaz, que já estava translúcido com as ações da jovem
moça.
“Clarinha, sou a sua Clarinha” disse a jovenzinha
quase sussurrando.
Beijou novamente o seu guerrilheiro e iniciou seu
frenético jogo de sedução. Levantou-se, e como já soubesse
o que tinha que ser feito, retirou sua camisa,
desabotoando botão por botão. Fazendo acelerar a
respiração e disparar o coração daquele pobre ser.
Já sem sua camisa, que fora lançada para o outro
lado do pequeno cômodo, deitou-se sobre o rapaz e beijou-o
novamente, passando sua quente língua em torno de seus
lábios, mordiscou os lábios do jovem, beijando seu pescoço
e acariciando seu peito.
Já o jovem, que se via enorme, não mais resistiu e
entregou-se. Suas mãos enormes a apertavam com tanta
magnitude que os gemidos eram instantaneamente proferidos.
Ela, ainda controlando toda a situação, desceu seu corpo
até o peito do jovem, continuou a beijá-lo
incessantemente, sendo barrada pelo volume que em sua face
tocava.
Instintivamente fez desabrochar a vida, tocou-a
levemente com sua língua,sentindo o gosto daquele suave
veneno. Colocou-o parcialmente em sua boca, não retirando
em nenhum momento o seu olhar do dele. Sabia que aquilo o
excitaria ainda mais. Clarinha arrepiava-se ao perceber a
sensação de loucura estampada nos olhos do jovem, que com
sua boca entreaberta pedia-lhe um beijo.
Continuou a tocar e beijar o membro do jovem com
tanta sagacidade que mais parecia realizar um ato
antropofágico, que jamais seria saciado.
“Sou seu Zéfiros! Toque-me , seduza-me!” disse o
jovem, que com estas expressões denotava um certo
conhecimento não muito comum aos jovem daquela pequena
cidade.
Clarinha levantou-se, se virou contra o jovem e
caminhou-se até a janela, que embora empoeirada ainda
permitia visualizar o pôr do Sol. Zéfiros, até então
desmaiado e desolado pelo consumismo compulsivo da pequena
rapidamente levantou-se.
Na janela, debruçada sobre o parapeito, promovia
uma visão ainda mais bela. Suas curvas aliada ao brilho de
sua pele, oferecia ao jovem o deleite primordial daquela
manhã.
Ele acariciou a pele da jovem com sua língua,
tocando-a carinhosamente em seu pescoço, desceu
cuidadosamente até chegar em seu quadril, onde viu-se
obrigado a deseja-la como um animal.
Naquele momento, segurou-a em sua cintura, tocando
em seus cabelos , e a fez sentir o quanto ela o havia
provocado, deixando o explodir , num crescimento
incontrolável. A menina, já em êxtase , gemia baixinho ,
quase que pedindo perdão por não ter sentido tudo aquilo
antes.
Momentos se passaram até que Zéfiros fez jorrar
dele o vil pecado, e a jovem mesmo saciada momentaneamente
entregou-se de vez aquele corpo que a calentava.
Abraçados e ainda cansados da longa caminhada, os
jovens adormeceram.
Na manhã seguinte, ainda nua e com o cheiro da
loucura realizada, abriu seus olhos e pode observar a
ausência de Zéfiros, ao procurá-lo percebeu apenas uma
boina.
Até hoje, guardada as devidas notas, a tal boina
vive enclausurada em seu coração, mesmo sabendo que diante
dos humanos suas ações a condenavam.
Amou, seduziu e deixou-se seduzir. Enfim morreu
amando.