ESCRITOS DE HOJE - LIA DE SÁ LEITÃO ( revisto ) 11/03/2011- (17/06/2007)

Caro leitor não se espante as modificações do texto foram meras correções, mas o AMOR para quem é dirigido esse texto permanece o mesmo e forte quanto a primeira vez.- Lia de Sá Leitão- 11/03/2011

É divertido falar em dor, aquela dor de amor, as mesmices que todos sentem e imaginam os únicos solitários no mundo nunca solidário das ausências.

Cansei de falar dos amores perdidos, das vidas vazias, das dores de dente sem a escovinha no armário que alivia o dentista que dormia ao lado.

Quero falar em coisas mais singulares como a paixão, quero falar de mãos que amassam o barro, dedos seguram o pincel e pinta em tons fortes a vida, o lado feliz das flores, a natureza morta e a orquídea como natureza viva; jamais ceifada de seu hospedeiro.

Li em Álvaro de Campos um dos geniais heterônimos do escritor Fernando Pessoa: Todas as cartas de amor são ridículas, mas é obvio que não só Pessoa sensibilizou-se com os perdidos de amor, todos que tem um mínimo de consciência do seu ser que foi ridículo ao menos uma vez na vida. Entende a profundidade de uma observação dessa natureza, a fragilidade do ridículo, desnudar a razão em detrimento da doçura das declarações mais bestas e comparações mais esdrúxulas, amo-te como quem nasce para vida... amo-te meu amor como quem descobre em si o próprio amor, amo-te amada como quem faz serenatas.Amo-te como fonte de vida. Realmente é ridículo, mas é real ouvir aos sussurros, amo-te mais que a mim mesmo.

Pois bem, é muito complicado falar do perfil bobo que cada um assume diante de uma carta de amor, é difícil traduzir em palavras as variações de humor, de personalidade, essa metamorfose ambulante de visgo, de querer saber onde o outro está, o que faz, quem é a pessoa que o próprio amor denomina princesa ( nem imagina que é a secretária, e muitas vezes uma senhora eficiente, com os óculos na ponta o nariz, mãe de filhos universitários, mas sem aquela mulher a própria competência estaria entre a cruz do mercado, a competência dos concorrentes e as papeladas exigidas pelos encargos sociais e os impostos estatais cobrados pelo Estado).

O amor desperta ciúmes no dia-a-dia.

Alguém escreve em seus textos apaixonados e por mais absurdos que pareçam ainda possuem a capacidade de espalhar pelas redes sociais, recomendar aos amigos que na lenga lenga de um eu te amo, lê aquilo tudo , e diz que sentimento lindo, mas lá dentro do peito o coração bombeia mais forte o sangue ao cérebro e automaticamente se pensa. Cacete! Mais um bobo de paixão. Mais uma besteira sem precedentes, se pelo menos os textos ridículos de amor fossem apenas dos adolescentes havia um perdão! A passionalidade juvenil faz a vida bela, os esportes mais radicais, os palavrões mais consistentes, enfim, os beijos e os amassos na muradinha do prédio muito mais sanguineas, um arrepio percorre o corpo e vamos voltar à lembrança da adolescência. Sonsos, medrosos, ardilosos, sempre na defensiva dos olhares curiosos da velha fofoqueira que nem lembra da menina travessa que atravessava a passos largos o paço da Matriz era hora de ficar com os olhos marejando pelo coroinha sobrinho do Padre que também seria padre!

Vencia os assovios cúmplices do porteiro avisando a chega do síndico na garagem do subsolo. O segredo do vigia que amava a dona do segundo andar quando o marido estava fora! Tudo o vulcão mais ridículo e consistente do amor, a coragem, o enfrentamento cínico das adversidades.

Existe ridículo de amor pior que as exposições dos adultos?

Atire corações e cupidos aquele que não passou pela cena cinematográfica das flores, e com mesma a mesma intensidade a emoção da escolha de uma caixa de chocolate.

Quem nunca liberou seus feromônios da forma mais ridiculamente inteligente? Derrame o primeiro vidro de perfume usado pelo amor no esgoto.

O motivo aqui abordado não é o sentimento, repito, e sim o que leva aquele que ama ao ridículo! A condição de escritor parvo verborrágico dos longos e repetitivos eu te amo meu amor.

Alguém leu em algum poema: saio desse relacionamento por que meu ser amado fez-me sentir um bosta e a porcalhada toda me despertou um sentimento de posse, de perda, de troca enfim sentimento de ciúmes?

Que nada! escreve assim, meu coração dói por que desconfio de sua paixão por outro ser.

Contexto: atire a primeira pedra o amante incondicional que nunca olhou as pernas da moça de cabelos longos que desfila charmosérrima galopante em seus saltos altos, porte de manequim, maquiagem de aeromoça, atravessando o universo numa velocidade inenarrável, sensual se dirigia ao outro lado da avenida arrancava os olhares da cidade, ela é aquela manequim de subúrbio sem nenhuma indicação para a passarela, tudo aquilo é vexame do atraso, a bronca do patrão, precisa de vencer as horas, diabos! O ônibus atrasou nem que ela fique nua o chefe vai sussurrar em seu ouvido, vamos ao motel hoje? .Acreditar naquela sedução de balcão se configurava o ridículo do ridículo, as vergonhas ali à mostra, as juras, as desculpas dos atrasados, e o patrão passava todos os dias na mesma hora e a via ali, em pé, esperando sinceridade no amor. Trabalho, salário, horário, patrão.

Até que ponto realmente muda a cara de bobo e a observação boboca de quem é o ser amado e olha outro ser que possivelmente deve ser amado por alguém que ainda escreva as velhas e ridículas cartas de amor, nem que seja por e-mail.

Assim sendo, findo o elogio aos ridículos que escrevem cartas de amor afirmando. Amo-te tanto que as palavras se confundiram escrevi um tratado ridículo para afirmar que o meu amor é doce como o mel da Jati, e perco horas com a mão no queixo pensando no ontem no subsolo do prédio e agora, o que fazer, cheguei com atraso na reunião, não quis incomodar o chefe e por causa disso abri o note e resolvi passar um e-mail simples com uma orquídea virtual só para assegurar-te um dia maravilhoso e que te amo mais, muito mais que o pensamento em desalinho em busca de um verbete que traduza esse fogo que queima e que mesmo no desejo do grito silencia no olhar o meu singelo e eterno amor.

Um beijo.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 11/03/2012
Reeditado em 11/03/2012
Código do texto: T3547976
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