A menina que não sabia mentir

Num dia de São Cosme e Damião, no Bairro Interdito, Rua das Laranjeiras, dentro da casa mais florida da rua, sentada num sofá vermelho confortável, sem se preocupar com a mancha que ficaria no sofá, uma menina contava uma história interessante para sua mais nova amiga.

Seguia-se assim a história: Havia naquele bairro uma menina tímida. Toda vez que mentia, seu lábio entortava para um lado, como que num sorriso sapeca que destoava da sua falsa seriedade. Seu nome era Clara. Seria uma ocasião excepcional se em algum momento ela conseguisse mentir sem que percebessem. Apesar de sua timidez ela queria entrar para o clube das meninas populares do seu bairro, que era formado por Amélia, Fernanda e Cecília.

Num dia de São Cosme e Damião, data em que as pessoas daquele bairro costumavam distribuir doces, Fernanda chamou Clara, maliciosamente: “Venha, venha! A mãe da Amélia está distribuindo doces!” , em seguida Fernanda saiu correndo na frente de Clara. A pobre menina em vez de um doce encontra uma armadilha na esquina da casa, um buraco lamacento, resultado da chuva do dia anterior, que lhe cobria os joelhos. Enquanto Clara tentava sair do buraco cheio de lama, Fernanda e Cecília, que já lhe esperavam mais a frente, riam com gosto. Que coisa mais feia, mereciam um castigo!

Ainda suja de lama, a menina se dirigia para casa quando Cecília a abordou e disse que não contasse o ocorrido aos pais e, para reforçar o pedido, acrescentou: “Se você convencer os seus pais, você entra para o clube”. Tudo isso como se fosse ela a líder do grupo, era uma arrogante. E recebeu como resposta: “- Mas eu não sei mentir”. Foi então que Clara contou a história do lábio torto para Cecília, fazendo com que esta tivesse uma ideia, colocar um esparadrapo transparente no lábio de Clara que impediria que a mentira se evidenciasse.

Chegando a casa, a heroína deu de cara com os pais, que logo notaram a sua estranheza, conheciam a filha. A mãe notou com dificuldade o esparadrapo, aproximou-se e, cuidadosamente, retirou-o, pediu explicações e ouviu da filha o trauma do lábio torto e aconselhou: - Os lábios podem vacilar, mas são os olhos que escondem a verdade, são claros como o seu nome. Que medo teve a garota, não conseguiria mentir para seus pais.

Fernanda e Cecília são castigadas pelos pais, depois que estes ficam sabendo da história pela vítima. Clara pensa consigo que nunca mais vai se distrair e cair dentro de buracos, passa na Rua das Laranjeiras, no bairro Interdito, entra na casa mais florida, senta confortavelmente no sofá vermelho, mesmo manchando o sofá de lama, conta uma história interessante, nesta ocasião excepcional, para sua nova amiga dona da casa, Amélia.

Jucely Regis
Enviado por Jucely Regis em 10/03/2012
Reeditado em 14/03/2012
Código do texto: T3546115
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