O Don Juan Cearense
Santinha, baiana da nata, sofrera muitas decepções amorosas ao longo percurso de sua conturbada vida. Contava ainda com os seus trinta e cinco anos, mas tamanho era as suas espertezas mundanas que à sua mente parecia a de uma mulher de 80 anos.
A priori, a destemida mulher resolveu se envolver com o maior galanteador do Ceará que, de repente, mudou-se inusitadamente para Bahia, trazendo consigo todas as tralhas e a boa vontade de cortejar diversas donzelas que aparecessem. O Don Juan cearense era mais conhecido como José da Silva, e trabalhava em construção civil como mestre de obra. Arranjou um trabalho, cuja remuneração extrapolava o triplo do que ganhava por mês.
Logo que pisou em primeira instância em um barzinho, avistou Santinha sentada à mesa, comendo um sanduíche e pensou: “É hoje que me faço com àquela morena pai- d´égua e cortejou-a:
- Gostaria de tomar uma cervejinha, meu broto legal? Santinha olhou surpresa com tamanha irreverência e audácia do malandro e disse:
Tudo bem, mas veja bem como te comportas, pois o meu santo é forte e não brinca com ninguém não. Ele é capaz de amarrar o patife que ar ma contra a minha pessoa.
O garanhão entrou em devaneios imediatamente com as palavras da baiana e, de repente, não deu credibilidade na história do santo forte, pois para ele, não passava de uma crendice supérflua. Depois de um pedaço, replicou:
- Tudo bem, me comportarei, mas afinal, qual é a sua graça?
-Santinha! Respondeu com empolgação, já apaixonada pelo cearense.
-O meu é José e me surpreendi ao te ver, não sabia que na Bahia havia tamanho encanto como essa Rosa que se chama Santinha!
Os dois conversaram um longo tempo, até que surgiu o primeiro beijo. Após o caloroso momento, se despediram, selando esse compromisso inesquecível com promessas de união entre ambos.
Santinha voltou para casa, extasiada pelo beijo ardente que chegou a sentir calafrios até no útero. Avistou-lhe em seguida a sua tia e contou-lhe todo o momento romântico com o cearense. Instantes depois, pediu o auxílio espiritual de uma mãe – de - santo, a melhor em amarrações amorosas para preparar um trabalho no qual prendesse o homem somente para ela, e, caso a sua paixão tentasse pular a cerca para cantar em outro terreiro, iria sofrer certas conseqüências.
Um certo dia, Santinha decidiu espionar sorrateiramente à vida de seu duvidoso amor, pois queria certificar-se se o homem era de caráter e se na verdade o pedido à mãe de santo seria confirmado. Avistou-lhe próximo de uma bela jovem e ouviu-lhe dizendo os mesmos galanteios que tinha lhe dito, mas a garota teve uma reação inusitada, jogou-lhe um copo de leite na cara do pilantra e saiu imediatamente da lanchonete onde se encontravam. Enquanto isso, Santinha observava tudo atrás da porta do banheiro feminino e ria incessantemente com a situação embaraçosa de José e se benzia , agradecendo a reza forte da mãe de santo.
A cena se repetiu outra vez, quando o maldito malandro resolveu cortejar uma adolescente que não contava com dezoito anos, no Pelourinho em pleno crepúsculo. Quando acabou de proferir as mesmas palavras: “-Não sabia que na Bahia havia uma flor tão bela como você...’, levou um tapa bem extravagante, ficando com as marcas dos dedos na bochecha. Santinha bem discreta, avistava o sofrimento do cearense e mergulhou em gargalhadas sinistras.
Depois de tantas frustrações amorosas, José, cheio de hematomas por todo o corpo, viu Santinha. Quis logo se esconder, mas a danada o viu e ficou horrorizada com o seu estado e indagou-lhe:
-Nossa! Um trem passou por cima de você?
-Não, foi uma queda que levei do terceiro andar de um prédio onde estou trabalhando, não sei como sai vivo.
Imediatamente, a bahiana deu um sorriso sarcástico e disse com toda veemência ao malandro:
-Tenha vergonha seu adúltero, não passas de um homem vil e mentiroso. Cansei de ver você apanhando das mulheres. Está comprovado então que não és digno de uma baiana, pois bem que o adverti, o meu santo é forte.
-Até logo, nunca mais volto por cá!
O fracassado Don Juan saiu ensandecido sem dizer mais nenhuma palavra e nunca mais resolveu pisar em terras baianas e muito menos se envolver com uma mulher de santo forte.
Raphael Barbosa Lima Arruda