Filho pródigo
Ele pegou a mãe pela mão – quase literalmente – e levou-a a uma loja de produtos para atletas. Uma loja onde se aglomeravam latas coloridas, caixas de farinhas, um tanto daqueles produtos que ele costumava tomar, quando era um exímio jogador de basquete. Ela seguiu-o, fazia já uns anos que ele não se preocupava com aquilo, queria que o deixassem quieto, fazer o seu trabalhinho e dormir, não queria saber de mais nada, nem do psiquiatra que ela tinha arrumado, que ele vira algumas vezes e depois se recusara a frequentar, estilo “deixem-me em paz”.
Ela seguiu-o e ouviu-o conversar com o atendente sobre os produtos, ele dava sinal de conhecê-los bem, embora já tivessem mudado, as marcas talvez não fossem as mesmas que antes costumava comprar, mas falavam sobre as propriedades, calorias e outros itens, até que ele se voltou para ela, olhou-a com um olhar que recuperava o antigo brilho, e um sorriso acompanhou a pergunta:
- Podemos levar este?
E aquele momento, depois de tempos de apatia, aquele momento que se vinha preparando em surdina, umas palavras aqui, uns gestos acolá, selou um estranho e gratificante reencontro, como se, finalmente, laços que pareciam perdidos para sempre começassem a ser restabelecidos.