AS SEMENTES DE SONHOS

Certo monge, dotado de santas virtudes e grande santidade, recebeu permissão do prior do seu mosteiro para percorrer o caminho que o levaria a uma longínqua cidade, distribuindo sementes de sonhos.

Na manhã do dia seguinte, mal o sol derramara seus primeiros raios, pôs-se a caminho. Percorrera alguns quilômetros quando encontrou um homem de meia idade conduzindo um jumento que transportava uma carga de cana. Cumprimentou-o: “Bom dia!” – exclamou. “Bom dia!” – respondeu o desconhecido. “Qual o seu maior sonho?” Sem titubear, aquele homem retomou: “Ser feliz”. O monge o fitou ternamente e falou: “Cultive esta semente no seu coração e nunca esqueça de regá-la”. Sussurrou alguma coisa ao seu ouvido, despediu-se com um aceno e continuou seu caminho.

Alguns dias após, já um pouco cansado, lá pela tardinha encontra uma mulher que carregava um cântaro de água na cabeça. “Boa tarde, senhora!” “Boa tarde, santo monge!”. “Qual o seu maior sonho?” – retorquiu. Ela arrebatou: “Ser feliz”. Ele repetiu: ”Cultive esta semente no seu coração e nunca esqueça de regá-la”. Chamou-a mais para perto de si, como se não quisesse que ninguém mais o ouvisse, e lhe confidenciou alguma coisa. Com um sorriso de despedida ele retomou o caminho.

Passava mais de um mês do início da sua peregrinação, quando contornando uma das inumeráveis curvas de uma estrada acidentada, deparou-se com um jovem que carregava um feixe de lenha. “Bom dia, meu jovem!” Tico depositou o seu fardo no chão e o cumprimentou: “Bom dia, seu monge!” O santo homem de Deus foi direto: “Qual o seu maior sonho?” Tico pensou um pouco, pôs a mão no queixo, coçou a cabeça, e por fim arrematou: “Ser feliz”. Vendo a sinceridade estampada em seus olhos, aconselhou: “Cultive esta semente no seu coração e nunca esqueça de regá-la”. Abraçou-o com terno amor e confiou-lhe um segredo. E sentindo que a missão havia sido realizada a contento, retomou o caminho de volta ao mosteiro.

Os anos passaram. Um dia o santo monge relembrando aquela miss~/ao realizada há tanto tempo, sentiu no mais profundo do seu coração o desejo de rever aquelas pessoas, das quais sabia apenas o nome de uma delas. Arrumou alguns pertences e partiu.

No mesmo lugar do primeiro encontro, um canavial sem fim tomava conta dos seus olhos. A fumaça das chaminés de um grande engenho exalava pelo ar o cheiro adocicado da cana e do mel. Seu Antonio o acolheu cheio de alegria e emoção, e só pôde dizer: Santo homem de Deus, eu sou verdadeiramente feliz. Deus lhe pague pelo que o senhor me disse. Bendito o dia em que o encontrei!” E o monge retirou-se.

Mais à frente, um pomar o encantou. Cajueiros, bananeiras, mangueiras, figueiras, pessegueiros, vinhedos... todos carregadinhos de frutos. Era realmente de dar água na boca. Açudes e fontes jorravam água límpida e cristalina. Os peixes desenvolvidos ali, proporcionavam alimentação rica e saudável para toda aquela gente. Dona Letícia aproxima-se. A alegria e o júbilo tomam conta de ambos. O silêncio é quebrado pela voz da mulher: “Santo homem, bendito o dia em que eu te encontrei. Deus lhe pague pelo que me falou”. Ele seguiu adiante.

Estava concluindo a caminhada quando vislumbra algo maravilhoso. Os traços do divino revestiam aquele lugar. Um bosque de rara beleza e sombra acolhedora é um convite à contemplação e à meditação. Árvores de folhas lisas e matizadas encantam os olhos mais insensíveis; ervas rasteiras de flores minúsculas vestem a terra umedecida pelo orvalho da manhã; rosas derramam pelo ar um odor que inebria a alma; pássaros espalham os seus trinados melodiosos que enchem os ouvidos e refrigeram o coração.

De mansinho alguém se aproxima. Passos medidos e cautelosos pisam folhas secas. O ruído desperta a atenção do monge. Ao olhar para trás, exclama: “Tico”! Aquele jovem, hoje homem feito, atira-se em seus braços, beija-o na face e só consegue dizer com a voz entrecortada pela emoção: “Meu santo monge, bendito o dia em que te encontrei, e benditas as palavras que sussurraste ao meu ouvido. Deus te pague por tudo. Eu sou verdadeiramente feliz”! Dom Bernardo bebeu um pouco do silêncio e da paz daquele lugar mágico, e transbordando de Deus, voltou para o mosteiro.

Inúmeras pessoas, tomando conhecimento destes fatos, o indagavam: “Dom Bernardo, como pôde acontecer estas maravilhas com gente tão simples?” E na simplicidade da sua sabedoria que vem de Deus, com voz mansa, porém forte, e com aquele riso que lhe é peculiar, ele dizia, eis o segredo: “Regue o seu sonho todos os dias com a ORAÇÃO, e adube com a DETERMINAÇÃO, a PERSISTÊNCIA e a PACIÊNCIA. E a hora de Deus certamente virá. Experimente, e você também será feliz.”

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 07/03/2012
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